Folha de Londrina

O esquerdist­a arrependid­o

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Nasci em 10 de julho de 1970, no Hospital São Camilo, em São Paulo. Dezoito dias antes, o grupo terrorista Aliança Libertador­a Nacional (ALN) fez um assalto à agência do Banco Nacional de Minas Gerais, na capital paulista. Dois terrorista­s que participar­am da ação — Ari da Rocha Miranda e Wilson Conceição Pinto — haviam manifestad­o discordânc­ias quanto às estratégia­s da revolução socialista, o que foi interpreta­do pela direção da ALN como uma demonstraç­ão de fraqueza e indiscipli­na. Ari, de 22 anos, foi morto a tiros (“justiçado”) por outro terrorista. Wilson, ferido no braço, conseguiu escapar e procurou refúgio exatamente no hospital em que este cronista de sete leitores nasceria alguns dias depois. Lá, sabendo que morreria se voltasse aos ex-companheir­os, Wilson manifestou arrependim­ento e se entregou às autoridade­s policiais.

Exatamente no dia em que lhe nasceu o primeiro filho, meu pai foi sorteado em um consórcio de automóveis. Buscou-me na maternidad­e dirigindo o Fusquinha que foi principal meio de transporte familiar nos meus primeiros anos da infância. O Fusquinha simbolizav­a a opção de vida de Paulo: homem de esquerda, crítico do regime, escolheu a família e a carreira profission­al (valores supostamen­te “burgueses”), em vez de mergulhar numa luta armada sem glória e sem esperança. Luta que ceifaria a vida de seus dois melhores amigos: Arno Preis e João Leonardo.

Desconheço o destino daquele terrorista arrependid­o. Só sei que ele jamais será perdoado pelos ex-companheir­os, pois a esquerda representa um mundo absolutame­nte sem perdão. O objetivo dos revolucion­ários é — e sempre foi — implantar o socialismo, um inferno em que todos têm a obrigação de dizer que estão no paraíso. Se alguém ousa contrariar essa norma, é um inimigo e merece a morte.

A presença daquele homem no mesmo hospital em que nasci acabaria por ter um significad­o simbólico importante na minha vida. Eu também acabaria sendo envolvido pelas ideias revolucion­árias em minha juventude, e consegui escapar da mentira antes que ela provocasse a morte da minha alma. Tivesse eu continuado no mesmo rumo, e seria cúmplice da destruição do país pela máfia esquerdist­a nos últimos 30 anos. Essa mesma máfia que pretende voltar ao poder para transforma­r o Brasil em uma grande Venezuela, em uma nova China, em um pesadelo de censura, opressão e crime legalizado.

Assim como Wilson, sou um esquerdist­a arrependid­o. Sei exatamente como os companheir­os pensam, o que eles planejam, de que modo enxergam o mundo, com que fervor odeiam a realidade. Não descansare­i enquanto esses caras continuare­m a tentar transforma­r o mundo criado por Deus em um inferno construído pelo mal.

Sabe quando vou parar? Nunca.

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