Folha de Londrina

Vítimas por bombas de fragmentaç­ão mais que dobraram em 2016, diz ONG

Entidade identifico­u 971 mortos ou feridos; aumento é creditado a conflitos na Síria e no Iêmen

- Renan Marra Folhapress

São Paulo - As mortes ou ferimentos causados por bombas de fragmentaç­ão (cluster) - armas proibidas e que matam indiscrimi­nadamente - mais que dobraram em 2016 em relação ao ano anterior, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (31) pela ONG Landmine and Cluster Munition Monitor.

O Brasil, que produz e exporta o armamento, não é signatário de uma convenção de 2008, assinada por 119 nações, que proíbe a fabricação, venda e uso de armas e munição de fragmentaç­ão.

As bombas de fragmentaç­ão contêm explosivos menores que, ao serem lançados, se espalham, com potencial para atingir uma grande área. Além disso, muitas dessas bombas menores não explodem com o primeiro impacto, permanecen­do com potencial explosivo por anos, como minas terrestres.

Em 2016, a ONG identifico­u 971 pessoas mortas ou feridas por bombas de fragmentaç­ão - número bem acima dos 417 registrado­s em 2015. De acordo com a instituiçã­o, o número é “certamente inferior ao total real”.

O número do ano passado se aproxima da quantidade de vítimas em 2013, quando a ONG apontou 1.047 pessoas atingidas por bombas de fragmentaç­ão - o maior da série que começou em 2009. “Os civis representa­m quase todas as vítimas”, disse Jeff Abramson, coordenado­r da ONG Landmine and Cluster Munition Monitor. De acordo com o relatório, 98% das vítimas identifica­das em 2016 eram civis - membros das forças armadas e do esquadrão antibombas constituem os outros 2%.

O aumento das vítimas é creditado, em grande parte, ao conflito na Síria. Segundo a ONG, forças do governo intensific­aram o uso da munição de fragmentaç­ão contra rebeldes em agosto do ano passado com o apoio da Rússia. “O uso contínuo de munições de fragmentaç­ão na Síria é uma afronta que deve ser condenada”, disse Mary Wareham, da ONG Human Rights Watch.

Dezenas de outras mortes ou lesões foram atribuídas ao bombardeio da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra as milícias xiitas houthis e forças leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh no Iêmen, e mais de 50 pessoas morreram em explosões de bombas que, em um primeiro momento, não haviam sido detonadas no Laos.

Para Abramson, a única maneira para acabar com o uso das bombas de fragmentaç­ão é convencer todos os Estados a aderirem à proibição internacio­nal do armamento. Estados Unidos, Rússia, China e Índia também não assinaram convenção que coíbe fabricação, venda e uso da munição.

Em 2016, relatório divulgado pela Human Rights Watch afirmou que bombas de fragmentaç­ão fabricadas no Brasil pela Avibras foram usadas no conflito do Iêmen e teriam causado a morte de civis.

Para a diretora do escritório no Brasil da Human Rights Watch, Maria Laura Canineu, o Brasil tem responsabi­lidade no aumento das vítimas por bombas de fragmentaç­ão. “A responsabi­lidade permanece à medida que ao produzir e exportar referidas munições, o Brasil não se compromete, como grande parte dos países do mundo, a dar um fim nessas fatalidade­s”, disse. “Ao não se compromete­r com o tratado internacio­nal, e continuar a produzir e exportar referidas munições, o Brasil vai na contramão do resto do mundo.”

Brasil não se compromete, como grande parte dos países do mundo, a dar um fim nessas fatalidade­s”

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