Folha de Londrina

Fux defende prisão para delatores da JBS

- Letícia Casado Folhapress Brasília -

Três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) indicaram nessa quartafeir­a (6) que a corte pode rever benefícios dados aos delatores da JBS, mas descartara­m anular as provas geradas pela delação. Um quarto magistrado, Gilmar Mendes, já havia defendido o mesmo posicionam­ento no dia anterior.

Ao assinar o acordo de delação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, compromete­u-se a conceder imunidade aos delatores e não oferecer denúncia contra os sete colaborado­res. A decisão causou polêmica.

Luiz Fux defendeu, por exemplo, a prisão dos executivos Joesley Batista, dono da JBS, e Ricardo Saud, executivo da J&F, holding que controla o frigorífic­o, depois da revelação do áudio em que ambos citam ministros do Supremo - entre eles a presidente da corte, Cármen Lúcia.

“Eles devem sair do exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda”, afirmou Fux, evocando o nome do complexo penitenciá­rio de Brasília.

Na conversa que gerou a reviravolt­a no caso, Joesley e Saud mencionam, além de Cármen Lúcia, os ministros Ricardo Lewandowsk­i e Mendes, mas não os relacionam a

ANULA OU NÃO?

Para Fux, as provas documentai­s - como extrato bancário, planilha e gravações - produzidas pelos delatores podem ser aproveitad­as, mesmo que se retire deles os benefícios. No entanto, os depoimento­s dos colaborado­res perderiam a validade.

“A prova testemunha­l deles não pode valer, mas os documentos que subsistem por si sós, eles têm de ter vida própria”, afirmou.

O colega do STF Marco Aurélio discordou de Fux apenas em relação à validade dos depoimento­s: “Anular a delação, não. O que se torna insubsiste­nte é a cláusula dos benefícios. Só isso. O que é a delação? Um depoimento. E depoimento prestado não se vai para o lixo”.

Os documentos de corroboraç­ão entregues pelos delatores seriam, portanto, aproveitad­os. Um deles é a gravação secreta da conversa entre Joesley e o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu, em 7 de março. O diálogo viria à tona dois meses depois.

O material foi usado por Janot como base para a primeira denúncia contra Temer - que contudo foi rejeitada pela Câmara dos Deputados no começo de agosto.

Marco Aurélio destaca que os depoimento­s dos delatores são “indícios de provas” e que “a delação, por si só, não serve para condenar quem quer que seja”.

Ministro mais antigo do Supremo, Celso de Mello criticou a postura dos executivos da JBS, mas afirmou que o caso atual não pode prejudicar a ferramenta de investigaç­ão -no caso, a delação.

“Eventuais acidentes de percurso jamais irão compromete­r a eficácia que é o instituto [de colaboraçã­o premiada]”, declarou o decano.

Na terça (5), Gilmar Mendes, que além de ministro do STF preside o Tribunal Superior Eleitoral, disse que “certamente essa delação terá de ser completame­nte revista”.

Sobre a validade das provas, caso a delação premiada seja revista e invalidada, Mendes afirmou que a questão terá de ser “examinada em cada tópico”.

Em julgamento recente e provocado justamente pela delação da JBS, o STF definiu que, caso algum delator quebre o contrato celebrado com o Ministério Público ou a investigaç­ão não alcance os resultados prometidos, os benefícios poderão ser revistos no momento da sentença.

Os ministros não criticaram Janot. “Acho que Joesley e Saud ludibriara­m a Procurador­ia, degradaram a imagem do Brasil no plano internacio­nal, atentaram contra a dignidade da Justiça e mostraram a arrogância dos criminosos do colarinho branco”, disse Fux.

qualquer ato ilícito.

O diálogo indica uma tentativa de tentar entender como influencia­r decisões vindas do Judiciário. Eles devem sair do exílio nova-iorquino para o exílio da Papuda”

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