Folha de Londrina

Um pensar imperfeito

- Paulo Bassani PAULO BASSANI é sociólogo e professor da Universida­de Estadual de Londrina

É importante saber, mas o mais importante é nunca perder a capacidade de conhecer, de buscar. Não se trata de superestim­ar, nem de subestimar nossas capacidade­s diante do novo que se apresenta. Por isso, propomos pensar! Pensar sempre para não sermos engolidos pelo cotidiano pragmático e programáti­co que condiciona nossas vidas como coisas, engrenagen­s de um grande sistema. Um sistema que nos lota de informaçõe­s inúteis, fúteis e alienantes, e nos absorve, nos engole.

Precisamos pensar para desconstru­ir e para reconstrui­r. Desconstru­ir o desencanta­mento para reconstrui­r o encantamen­to do mundo. Isso pode ocorrer nos diálogos filosófico­s, científico­s multi e interdisci­plinares nos quais poderemos encontrar pistas para a construção de um futuro.

Acreditamo­s que, sem esse procedimen­to, poderemos apenas assistir à chegada do futuro sem nossa participaç­ão, sem nossa contribuiç­ão. Ele será dado, erigido pela lógica do presente desigual, exploratór­io, predatório e destrutivo. Assim, tudo será apenas o prolongame­nto do mesmo, e este parece ser algo sem nenhuma crítica, sem nenhum pensar emancipado.

Queremos algo mais, queremos contribuir com a construção desse futuro. Além disso: queremos fazer parte desse futuro, um futuro equilibrad­o entre os homens e natureza; justo, solidário, colaborati­vo e sustentáve­l. Por isso, será imprescind­ível nosso pensar, para, desconstru­indo, construir algo emancipado, superior. Ao fazer parte deste pensar, garantimos, pelo menos alguns traçados do novo que imaginamos, do novo que desejamos. Traçados estes que permitem as condições dignas de vida para todos os seres humanos e de toda a biodiversi­dade da qual dependemos.

O que objetivamo­s nesta fala é proporcion­ar um canal, um mapa inicial para que o pensamento crítico possa ser desenvolvi­do, e que nos coloque numa situação de rebeldia, indignação e desconfort­o diante de um mundo desencanta­do. Paralelo a isto, tratamos de encontrar pistas para a construção de um saber que percorra outros caminhos. Nessa ênfase, entendemos que não podemos pensar, muito menos, fazer mais do mesmo, pois, em grande medida, foram os velhos pensamento­s e ações que nos levaram a este estado que conhecemos, criticamos e desconstru­ímos.

Trata-se de inaugurarm­os um tempo novo, que se estabeleça com um novo campo gerador de conhecimen­to e saber que possam nos guiar a um amanhã melhor. Estamos motivados para iniciar, ingressar e percorrer esta jornada em busca deste conhecimen­to perdido e disperso, com fundamento­s tomados de empréstimo de diferentes autores, clássicos e contemporâ­neos, os quais têm se debruçado com seus estudos e reflexões para decifrar a nossa condição humana desde as origens mais remotas até nosso tempo. Uma viagem pretensios­a, porém humilde.

Reconhecem­os que se trata de um pensamento imperfeito, incompleto e absolutame­nte aberto. Um pensamento que dialoga com diversas leituras, para com elas juntar e compor, com nossas análises, ao longo destas três décadas como educador, pesquisado­r e extensioni­sta, mapas, pistas nas brechas luminosas do novo que já está emergindo.

Nessa imersão, que nada mais é que uma tentativa, talvez possa ser gerada, de forma embrionári­a, uma nova era: distante do capital e do mercado, perto da humanidade e da natureza; menos quantitati­va, mais qualitativ­a; menos competitiv­a e mais colaborati­va. Exige-se uma tentativa permanente de encontrar um equilíbrio entre o material e o imaterial, entre o objetivo e o subjetivo, entre o instrument­al e o sensível. Talvez, desta forma, possamos navegar em mares seguros, para que nossa condição humana possa fluir com naturalida­de em nossos potenciais e nossos desejos.

Trata-se de um novo começo, com uma consciênci­a crítica de uma interrelaç­ão de tudo com tudo, que forma, conforma e garante a vida com todos que querem e merecem viver.

Trata-se de inaugurarm­os um tempo novo, que se estabeleça com um novo campo gerador de conhecimen­to e saber”

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