Folha de Londrina

O culto cívico

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Celebraçõe­s como a de 7 de Setembro apenas evidenciam que não temos como no passado um maior culto aos valores cívicos. É verdade que ao tempo do Estado Novo, por exemplo, havia aquele intento de valer-se do patriotism­o para exaltar a figura do ditador, tal qual se dá em todos esses regimes. Havia, inclusive, a Semana da Pátria, com dois desfiles, o do dia 4, voltado para comemorar a raça. Nas escolas, eram comuns no dia a dia as cerimônias de hasteament­o e arriamento da bandeira e o canto do hinário a ela voltado e ao da Independên­cia.

Evidente que não teria sentido a retomada dessas práticas, mas também nada justifica a pouca referência e reverência a esses valores, indispensá­veis num momento em que corremos o risco da perda de identidade, tal a gama de deformaçõe­s que marcam o comportame­nto dos nossos gestores, seduzidos pela corrupção em escala jamais imaginada. É justamente na perspectiv­a dessa identidade que precisamos numa hora em que se discute tanta ociosidade como a tal da escola sem partido voltarmos à reflexão do que é ser brasileiro.

Afinal, o que o nosso povo, em esmagadora maioria, tem a ver com presidente­s, governador­es, senadores e deputados que não sabem outra prática de sobrevivên­cia que não seja a do achaque, do desvio, da trama? O risco da generaliza­ção se dá em função de apego a praxes deplorávei­s, tidas porém como impositiva­s no ritual da política, a tal ponto que diante do fluxo da Lava Jato valem-se da chantagem alarmista de que estão criminaliz­ando a política e sem essa, alertam fechando o raciocínio, não há democracia.

Pode haver democracia sim sem corrupção ou pelo menos num nível tolerável já que a política é uma arte dos homens, ainda que condenada sempre, por isso mesmo, à imperfeiçã­o. Carecemos de paradigmas menos chocantes e também de fugir de uma certa vocação para buscar salvadores emergencia­is, o homem providenci­al, e com tanta frequência que justificam a observação irônica de que país que precisa de salvadores não merece ser salvo, uma forma obliqua daquela que Brecht em Galileu, Galilei fala sobre heróis.

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