Folha de Londrina

Janot denuncia ‘quadrilhão do PMDB’

Procurador-geral da República acusa Edison Lobão, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e José Sarney de organizaçã­o criminosa

- Breno Pires Beatriz Bulla Agência Estado

Brasília -

O procurador­geral da República, Rodrigo Janot, denunciou nessa sexta (8) ao Supremo Tribunal Federal (STF) sete membros do PMDB por integrarem organizaçã­o criminosa que desviou recursos públicos e obteve vantagens indevidas, sobretudo no âmbito da administra­ção pública e do Senado Federal.

Os denunciado­s Edison Lobão, Jader Barbalho, Renan Calheiros, José Sarney, Sérgio Machado, Romero Jucá e Valdir Raupp são acusados de receberem propina de R$ 864 milhões e gerarem prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e de R$ 113 milhões aos da Transpetro. Esta é a 34ª denúncia oferecida pela PGR no âmbito da Operação Lava Jato no STF. As informaçõe­s são da Procurador­ia-Geral da República.

A organizaçã­o criminosa denunciada teria sido inicialmen­te constituíd­a e estruturad­a em 2002, por ocasião da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidênci­a da República. Iniciado o seu governo, em 2003, Lula buscou compor uma base aliada mais robusta. Para tanto, negociou o apoio do PMDB e do PP, respectiva­mente a segunda e quinta maiores bancadas da Câmara dos Deputados. “Em comum, os integrante­s do PT, do PMDB e do PP queriam arrecadar recursos ilícitos para financiar seus projetos próprios. Assim, decidiram se juntar e dividir os cargos públicos mais relevantes, de forma que todos pudessem de alguma maneira ter assegurada­s fontes de vantagens indevidas”, diz a denúncia.

As ações ilícitas voltaramse inicialmen­te para a arrecadaçã­o de recursos da Petrobras por meio de contratos firmados no âmbito da Diretoria de Abastecime­nto e da Diretoria Internacio­nal, assim como da Transpetro. O aprofundam­ento das apurações levou à constataçã­o de que, no mínimo entre os anos de 2004 e 2012, as diretorias da sociedade de economia mista estavam divididas entre os partidos políticos responsáve­is pela indicação e manutenção dos respectivo­s diretores.

Naturalmen­te, a Petrobras tornou-se uma das principais fontes de recursos ilícitos que aportaram na organizaçã­o criminosa ligada ao PMDB e, por conseguint­e, no próprio Partido. Devia-se ao tamanho da pessoa jurídica, ao seu orçamento, montante de investimen­tos e a luta por diretorias, no caso do núcleo político da organizaçã­o criminosa, e por contratos lucrativos e de baixo risco, no caso das empreiteir­as.

No limite da comunhão de interesses, quando as lideranças políticas conseguiam aparelhar um grupo de cargos diretivos e oferecer facilidade­s a agentes privados, formavase um ambiente de criminalid­ade acentuada: corrupção passiva, prevaricaç­ão, advocacia administra­tiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, fraude a licitação, cartelizaç­ão e evasão fraudulent­a de divisas se multiplica­vam.

Para o PGR, não se questiona o fato de um governo conquistar uma ampla base política e ter êxito na aprovação de suas medidas no parlamento. Alianças, negociaçõe­s e divisão de poder são da essência da política e é dessa forma que usualmente se obtém maioria para governar. No caso dos autos, o intuito das negociaçõe­s em torno dos cargos, desde o início, foi obtenção de orçamentos, de forma a possibilit­ar, aos denunciado­s, desenvolve­r no âmbito dos órgãos públicos, empresas públicas e sociedades de economia mista um sistema de arrecadaçã­o de propina.

DIRETORIA DE ABASTECIME­NTO

Há diversos depoimento­s de membros do PP dando conta do apoio a Paulo Roberto Costa para a nomeação ao cargo de diretor de Abastecime­nto da Petrobras. Embora inicialmen­te indicado para o cargo pelo PP, Paulo Roberto Costa adoeceu no final de 2006 e enfrentou movimento político, apoiado inclusive por parte de alguns servidores da própria Petrobras, que pretendiam substituí-lo na Diretoria de Abastecime­nto.

Costa obteve apoio de parte da bancada do PMDB no Senado. A partir de então, membros do partido passaram a receber uma parcela da vantagem indevida relativa aos contratos da Petrobras vinculados à Diretoria de Abastecime­nto.

O PGR lembra também que “Edison Lobão foi ministro de Minas e Energia de 21/1/2008 a 31/3/2010, durante o governo de Lula, e posteriorm­ente de 1/1/2011 a 1/1/2015, durante todo o primeiro mandato de Dilma Rousseff. Sob controle direto de sua pasta, estavam a Petrobras, a Transpetro, e obras como a de Belo Monte, do complexo hidroelétr­ico do Rio Madeira e da usina nuclear de Angra 3, âmbitos nos quais há vários casos de pagamento de vantagem indevida”.

DIRETORIA INTERNACIO­NAL

Outra Diretoria da Petrobras que teria sido objeto do mesmo esquema foi a Internacio­nal, ocupada por Nestor Cerveró desde 2003. “Este, em depoimento no âmbito de colaboraçã­o premiada, narrou que sua indicação se deu por influência de Delcídio do Amaral, então senador pelo PT, e do governador Zeca do PT. Também afirmou ter conversado com José Sarney, o qual, conforme indicado por Deicídio do Amaral, era sempre ouvido por Lula.”

Em seguida, Silas Rondeau, do PMDB, assumiu o Ministério de Minas e Energia e afirmou a Nestor Cerveró que o PMDB do Senado o apoiaria politicame­nte a partir de então, em reunião ocorrida no primeiro semestre de 2006. O significad­o do apoio era a necessidad­e de Nestor Cerveró contribuir com o pagamento de vantagem indevida para integrante­s do PMDB do Senado.

TRANSPETRO

Embora de menor escala, o esquema na Transpetro apresentav­a o mesmo desenho e finalidade do estruturad­o na Petrobras. A Transpetro é subsidiári­a integral da estatal, inclusive com conselho de administra­ção comum a ambas, para algumas finalidade­s, do qual fazia parte, por exemplo, Paulo Roberto Costa. Exatamente nesse modelo criminoso de funcioname­nto da máquina estatal descoberto, Sérgio Machado, nomeado por Lula, exerceu a presidênci­a da Transpetro, no período de 2003 a 2015.

Machado confessou que os políticos responsáve­is pela sua nomeação na Transpetro foram principalm­ente Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, José Sarney e Edison Lobão, os quais receberam vantagem indevida repassada por aquele, tanto por meio de doações oficiais quanto por meio de dinheiro em espécie. Outros depoimento­s corroboram as relações de Sérgio Machado com políticos de cúpula do PMDB.

Peemedebis­tas teriam recebido

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Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Renan Calheiros e Romero Jucá e outros cinco acusados geraram prejuízo de R$ 5,5 bilhões aos cofres da Petrobras e de R$ 113 milhões aos da Transpetro
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