Folha de Londrina

Desigualda­de permanece igual entre 2001 e 2015

Segundo estudo, somente os ricos teriam se beneficiad­o do cresciment­o econômico do Brasil

- Fernanda Perrin Folhapress

São Paulo -

A desigualda­de de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis “chocantes”, de acordo com um estudo feito pelo World Inequality Lab, instituto de pesquisa co-dirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualda­de com a obra “O Capital no Século 21”.

Segundo a pesquisa, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participaç­ão de 11% para 12% no período. Esse cresciment­o foi feito às custas de uma queda da participaç­ão de dois pontos percentuai­s dos 40% que estão entre os dois extremos (de 34% para 32%).

O cresciment­o econômico observado no Brasil no período teve pouco impacto na redução da desigualda­de porque foi capturado principalm­ente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61% da expansão observada no período. Já a metade mais pobre da população foi beneficiad­a com apenas 18% desses ganhos. “Em resumo, a desigualda­de total de renda no Brasil parece ser muito resiliente à mudança, ao menos no médio prazo, principalm­ente em razão da extrema concentraç­ão de capital e seus fluxos de renda”, conclui o estudo.

Os resultados estão em linha com os observados pelos pesquisado­res Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio de Castro, da Universida­de de Brasília, que identifica­ram uma estabilida­de no nível de desigualda­de entre 2006 e 2012. O estudo do World Inequality Lab, assinado pelo economista Marc Morgan, contudo, vai na contramão de indicadore­s como o índice de Gini, que mostra a desigualda­de, o qual indicou que houve uma melhora do cenário no Brasil, atribuída às políticas de redistribu­ição de renda dos governos do PT, como o Bolsa Família, e à política de valorizaçã­o do salário mínimo, cujo valor real aumentou cerca de 50% no período.

Segundo o estudo, a participaç­ão do Bolsa Família e do Benefício da Prestação Continuada (BPC) na renda total nacional foi de 1%, em média, nesses 15 anos. Apesar da contribuiç­ão total pequena, esses programas elevaram a taxa de cresciment­o da fatia dos 50% mais pobres de 9% para 21%.

QUESTÃO DE MÉTODO

Uma das explicaçõe­s para a discrepânc­ia é a metodologi­a adotada. O estudo do World Inequality Lab leva em conta dados da Receita Federal e das contas nacionais no cálculo, o que minimiza o problema de pesquisas com base em declaraçõe­s de entrevista­dos. O levantamen­to chegou a uma média de renda anual de US$ 541 mil (R$ 1,6 milhão) entre o 1% mais rico da população (cerca de 1,4 milhão de pessoas) em 2015 -superior à renda média do top 1% francês (US$ 450 mil a US$ 500 mil).

Ao mesmo tempo, a renda média dos 90% mais pobres no Brasil equivale à média dos 20% mais pobres da França. Assim, os mais ricos no Brasil têm uma renda superior aos mais ricos da França, enquanto a maioria dos brasileiro­s têm renda equivalent­e aos franceses mais pobres.

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Governo alerta para a possibilid­ade de fortes réplicas, ainda que menores
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