Folha de Londrina

Joesley se entrega; fim da delação compromete­ria investigaç­ões

Dono do Grupo J&F e Ricardo Saud, diretor da empresa, se apresentar­am à Polícia Federal após ministro Edson Fachin, do STF, decretar a prisão temporária de ambos sob o argumento de que há indícios de que violaram o acordo de colaboraçã­o premiada. Se delaç

- Rafael Moraes Moura, Luiz Vassallo Fausto Macedo Agência Estado

Brasília e São Paulo -O empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, e o diretor da empresa Ricardo Saud se entregaram, na tarde deste domingo (10), à Polícia Federal em São Paulo após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a prisão temporária dos dois delatores por cinco dias. Para o ministro, há “indícios suficiente­s” de que ambos violaram o acordo de colaboraçã­o premiada ao omitir a participaç­ão do ex-procurador Marcelo Miller no processo de delação. Fachin afirma ainda que há indícios de que as delações ocorreram de maneira “parcial e seletiva”.

Os benefícios concedidos a Batista e Saud foram suspensos temporaria­mente por determinaç­ão de Fachin. Segundo apurou a reportagem, se a anulação da imunidade penal for mantida, uma das linhas de defesa analisadas pelos advogados de Joesley e da J&F é interrompe­r a colaboraçã­o com a Justiça. Em outras palavras, colocar fim à delação premiada. Se isso ocorrer, todos os processos e procedimen­tos instaurado­s com base nas informaçõe­s prestadas por Joesley e Saud sofrerão prejuízos imediatos e deverão ser comprometi­dos.

Só para se ter uma ideia dos eventuais prejuízo às in- vestigaçõe­s, Joesley e Saud, por exemplo, terão de prestar uma série de depoimento­s à Justiça em processos já em andamento ou que ainda vão ser instaurado­s, a exemplo do que vem ocorrendo com o empreiteir­o Marcelo Odebrecht, que teve a delação premiada homologada pelo Supremo e continua a colaborar com as autoridade­s. Se Joesley deixar de colaborar, isso poderia inviabiliz­ar dezenas de processos contra políticos citados pelos executivos da empresa, entre eles o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foram alvos de gravações feitas pelo empresário.

A reviravolt­a no caso ocorre após os próprios delatores entregarem a gravação de uma conversa, ocorrida possivelme­nte do dia 17 de março, antes da assinatura do acordo. No áudio, Joesley e Saud tratam da participaç­ão do Miller nas tratativas para a delação. O ex-procurador, que atuou na Operação Lava Jato, pediu exoneração da PGR em fevereiro, mas deixou oficialmen­te a equipe de Janot apenas em abril. Após deixar o cargo, ele foi trabalhar no escritório de advocacia Trech, Rossi e Watanabe, que atuou em parte da negociação para a leniência do Grupo J&F.

OMISSÃO

O ministro Edson Fachin decidiu pela prisão na sexta-feira (8) à noite, no mesmo dia em que Janot encaminhou ao STF o pedido. Ontem, ao tornar pública a decisão, Fachin deixou claro que, para ele, há indícios suficiente­s de que delatores omitiram informaçõe­s.

“Percebe-se pelos elementos de convicção trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaborado­res quando da celebração do acordo diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselham­ento que vinham recebendo do então procurador da República Marcello Miller”, afirmou.

Fachin diz ainda que, soltos, Joesley e Saud poderiam continuar ocultando informaçõe­s da Justiça: “Em liberdade, os colaborado­res encontrarã­o os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatório­s, os quais se compromete­ram a entregar às autoridade­s em troca de sanções premiais, mas cuja entrega ocorreu, ao que tudo indica, de forma parcial e seletiva”.

Joesley e Saud se entregaram neste domingo à tarde na Superinten­dência da Polícia Federal em São Paulo. Os delatores dormiriam no prédio e a previsão é de que eles sejam transferid­os para Brasília ainda nesta segunda-feira, 11.

Em nota, o grupo J&F declarou que seus executivos “não mentiram nem omitiram informaçõe­s no processo que levou ao acordo de colaboraçã­o premiada”. No texto, o grupo assinalou ainda que os executivos “estão cumprindo o acordo”.

Para o ministro, há “indícios suficiente­s” de que ambos violaram o acordo de colaboraçã­o premiada

PRISÃO DE MILLER É NEGADA

O ministro Edson Fachin negou o pedido de prisão do ex-procurador da República Marcello Miller feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na sexta-feira. Fachin, no entanto, disse ver “consistent­es indícios de exploração de prestígio’ por parte do advogado.

Miller é citado em conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da J&F. Após deixar o Ministério Público, ele passou a integrar escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência da J&F.

Neste domingo (10), em nota, Miller disse repudiar “o conteúdo fantasioso e ofensivo” das menções ao seu nome nas gravações. Ele disse ainda que “jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei” “Enquanto procurador, (Miller) nunca atuou em processos relativos ao Grupo J&F nem buscou dados no Ministério Público sobre essas empresas.” (Colaborara­m Beatriz Bulla, Dayanne Souza, Andreza Matais e Fernanda Nunes)

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