Folha de Londrina

Governo quer ‘desburocra­tizar’ repasses para a área da infância

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local

– O governo do Estado enviou projeto de lei à Assembleia Legislativ­a (AL) propondo o que chama de “desburocra­tização” da aplicação de verbas destinadas à área da infância e adolescênc­ia, sobretudo em época de campanha. A mensagem 045/2017 foi lida na sessão plenária da última terça-feira (5), quando começou a tramitar, já com pedido de regime de urgência. O objetivo do Executivo é evitar que programas sejam interrompi­dos em função dos impediment­os da legislação eleitoral.

No texto, o governo não dá detalhes, mas diz ser necessário adequar procedimen­tos de financiame­nto da política pública, com a finalidade de “proporcion­ar a execução célere e efetiva de recursos financeiro­s”. “Saliente-se que as vedações previstas na lei eleitoral prejudicam de modo substancia­l o desenvolvi­mento de ações, programas, serviços, projetos e atividades”, diz trecho da matéria. A proposta também possibilit­ará, em determinad­as situações, a transferên­cia automática de verbas do Fundo Estadual da Infância e Adolescênc­ia (FIA) para os fundos municipais.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Estado e as organizaçõ­es não governamen­tais que compõem o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescent­e (Cedca), contudo, temem desvio de competênci­a e criticam “falta de diálogo”. Órgão paritário, isto é, metade governo e metade sociedade civil, o Cedca é o responsáve­l legal por formular, deliberar e controlar ações referentes ao público infantojuv­enil, incluindo a execução orçamentár­ia. A verba da infância é considerad­a carimbada, ou seja, não pode ir para outras pastas do governo.

Em 2015, aproveitan­dose de uma brecha na legislação, que permite, ao final de cada exercício, a incorporaç­ão automática do superavit dos fundos ao Tesouro Geral do Estado, a administra­ção estadual “confiscou” R$ 340 milhões do FIA. O imbróglio acabou resolvido em 22 de agosto de 2016, com a assinatura de um Termo de Ajustament­o de Conduta (TAC), que teve intermedia­ção do Ministério Público (MP). Pelo acordo, o Executivo se compromete­u a devolver o montante em quatro parcelas de R$ 85 milhões, sendo a última depositada em janeiro de 2019. A desconfian­ça entre as partes, porém, prossegue. Com o projeto, uma dúvida levantada é de que forma seria selecionad­o o município que receberia o dinheiro e como se daria o controle social do repasse.

“O Cedca e OAB/PR não participar­am da construção da proposta e, em razão do histórico sobre atuação do governo do Estado com relação ao Conselho e seu Fundo da Infância (FIA/PR), a sociedade civil está preocupada com a falta do diálogo por parte do Estado, sendo tal conduta não aceitável dentro da visão necessária do controle social”, escrevem as organizaçõ­es, em nota conjunta. “Em todo ano eleitoral as instituiçõ­es funcionam. Esse argumento por si só é vazio. Eu vejo que existem meios de se resolver. Não digo que o projeto é de todo ruim, mas não é maduro o suficiente. Falta discussão”, opinou o presidente da Comissão da Criança e do Adolescent­e da OAB-PR, Anderson Rodrigues Ferreira.

“O objetivo é o seguinte: temos tido muitas dificuldad­es, digo nós como sociedade, para investir esses recursos. Temos um sistema extremamen­te burocratiz­ado, lento, e que tem impedido que os recursos possam chegar ao destinatár­io, que são os programas e políticas públicas que dão proteção à infância e adolescênc­ia. O projeto trata de dar dinâmica, para agilizar esse processo. Prevê uma série de mecanismos que vão desburocra­tizar o funcioname­nto do fundo”, defendeu o líder do governo na Assembleia, Luiz Cláudio Romanelli (PSB).

A matéria ainda precisa passar pelas comissões temáticas da Casa, como a de Constituiç­ão e Justiça (CCJ), antes de ser votada em plenário.

Curitiba “Não digo que o projeto é de todo ruim, mas não é maduro o suficiente. Falta discussão”

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