Folha de Londrina

Crimes na zona sul refletem aumento da violência em Londrina

Clima no Parque das Indústrias e Jardim Ouro Branco é de completa desolação após homicídios ocorridos no sábado; polícia fala em acerto de contas entre facções rivais

- Vítor Ogawa Reportagem Local

O assassinat­o de três pessoas em dois bairros da região no último sábado (16) piorou o clima de inseguranç­a naquelas localidade­s (foto). Números oficiais mostram que a violência vem crescendo em diversos setores da cidade. Segundo a Sesp-PR, no primeiro semestre deste ano os crimes contra o patrimônio chegaram a 13.364 contra 12.251 no mesmo período de 2016. De janeiro até 10 de agosto, segundo levantamen­to da FOLHA, houve aumento de 40% nos homicídios dolosos, latrocínio­s e óbitos em unidades de saúde (após lesão corporal), na comparação com o ano passado.

Oconflito entre facções rivais e que resultou na morte de três pessoas no Jardim Ouro Branco e no Parque das Indústrias (zona sul) na tarde do último sábado(16) piorou o clima de inseguranç­a que os moradores da região já vêm sentindo há anos com o aumento da criminalid­ade, de tráfico de drogas e de homicídios que têm sido registrado­s por ali. No dia seguinte ao episódio dos tiroteios, a reportagem voltou ao local dos assassinat­os e tentou conversar com os moradores desses bairros. Quase todos eles se limitaram a atender pela janela entreabert­a e mesmo assim poucos deles se dispuseram a conversar com a reportagem. Uns alegavam que não tinham visto nada. Os que viram algo, se recusaram a relatar algo com medo de alguma represália por parte dos bandidos. Esse clima de medo se espalhou pelos dois bairros. O ar estava bastante pesado, com poucas pessoas andando nas ruas. Na praça da Rua Crisântemo­s, no Parque das Indústrias, que foi palco dos tiroteios, não havia ninguém. Apenas uma garrafa de vodca quebrada estava perto do banco em que Cláudio Crispim, 36, estava quando foi baleado no sábado e acabou morrendo a caminho do hospital.

Um dos moradores das imediações, que pediu para não ser identifica­do, destacou que estava dentro de casa quando ouviu os tiros. Ao sair para olhar o que estava acontecend­o, ele destacou que havia quatro pessoas sentadas nesse banco de praça, que fica em frente da Rua Crisântemo­s e uma moto teria desferido vários disparos de uma arma que ele classifico­u como “pistola estendida”. Mais de 20 disparos teriam sido desferidos a ponto de uma das pessoas ouvidas pela reportagem ter confundido os tiros com barulhos de bombinhas de festas juninas. “Uma pessoa que estava em uma motociclet­a prata voltou para averiguar se a pessoa tinha morrido mesmo. O duro é que durante o tiroteio havia muitas crianças na praça. Elas fugiram e deixaram a bicicleta e a bola para trás”, relata. Depois dos disparos, algumas das pessoas fugiram e mesmo feridas pularam muros e portões e entraram na casa de alguns dos vizinhos da praça.

Na casa da Rua dos Gerânios que ficou com o muro cheio de buracos com os disparos feitos pelos criminosos, a reportagem tentou entrevista­r a moradora, mas a conversa foi brutalment­e interrompi­da. “Mãe, a senhora não sabe de nada. Não fale nada com eles”, disse um jovem ao fechar o portão bruscament­e. Seus vizinhos também só atenderam a reportagem pelas janelas ou separados por grades dos portões, mas não revelaram nada. O medo de dizer algo estava claro. “Não posso falar nada” foi a frase mais ouvida por nossa equipe. No local morreu o rapaz Victor Hugo Santana dos Santos, de 20 anos, conhecido também como “Vitinho”, que já possuía passagem pela polícia.

No velório de Maria de Fátima Nascimento Moraes, de 57 anos, a vendedora de pães que foi atingida por uma bala perdida e morreu na hora, seus parentes estavam inconforma­dos com a perda da forma como ela ocorreu. Nenhum deles se dispôs a conversar com a reportagem mas sua amiga Maria Célia da Silva Moreira, 52, técnica em enfermagem, que a conhecia há 15 anos, quis deixar um relato sobre como ela era no dia a dia. “Ela era uma pessoa maravilhos­a. Se eu fosse definir, era uma boa mãe, trabalhado­ra, uma boa amiga. Ela vendia pães há muitos anos. Eu também faço e inclusive os primeiros pães ela começou a fazer na minha casa. Eu dividia a receita com ela e ela dividia receitas comigo. E fazer pães era um prazer para ela. Ela trabalhava com muita alegria e dedicação”, relembra. Moreira recebeu a notícia da morte da amiga em sua casa. “Sobre a violência aqui na nossa região eu vou te dizer que todos estão na chuva e todos estão com medo de se molhar. A nossa esperança está em Deus. Que Ele nos livre e nos guarde e proteja a gente e nossos parentes”, disse em prece.

BALA PERDIDA MATOU VENDEDORA DE PÃES

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Gustavo Carneiro
 ?? Fotos: Gustavo Carneiro ?? Praça do Parque das Indústrias, cenário de tiroteio e morte no sábado, estava completame­nte vazia no domingo; no Parque Ouro Branco (abaixo), parede cravejada de balas mostra a violência do ocorrido
Fotos: Gustavo Carneiro Praça do Parque das Indústrias, cenário de tiroteio e morte no sábado, estava completame­nte vazia no domingo; no Parque Ouro Branco (abaixo), parede cravejada de balas mostra a violência do ocorrido

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