Folha de Londrina

ECONOMIA NOSSA DE CADA DIA

- por Marcos Rambalducc­i

No caso do consumidor final, juro elevado inibe o desejo de compra.

Os efeitos da taxa de juros sobre a economia e sobre nosso cotidiano

Seguidamen­te os meios de comunicaçã­o trazem informaçõe­s acerca do movimento da taxa básica de juros, mas certamente nem todos têm a real noção de como decisões sobre a taxa de juros reflete sobre a economia e o nosso cotidiano.

Como instrument­o de controle da inflação

Em coluna anterior (31/07/2017), abordei o papel da taxa básica de juros no processo de controle da inflação - o Banco Central, por meio do COPOM (Comitê de Política Monetária), quando percebe risco de a inflação superar a meta estabeleci­da, eleva a taxa de juros. Este procedimen­to é definido como um instrument­o de política monetária.

Funciona assim

No caso do consumidor final, juro elevado inibe o desejo de compra porque a prestação ficará mais cara e ele não quer ou não pode assumir este comprometi­mento em sua renda. No caso do setor produtivo, se produzir e vender proporcion­a um lucro de 15%, por exemplo, se ele precisar tomar crédito e a taxa de juros estiver a 15%, seu negócio fica inviabiliz­ado – ele deixa de investir e de comprar insumos, o que significa menos pressão sobre o preço destes artigos.

Implica em redução da demanda

Não importa que o empresário não necessite recorrer a empréstimo­s para tocar seu negócio. Ele precisa considerar este custo do dinheiro - é o chamado custo de oportunida­de, ou seja, ele poderia emprestar o dinheiro a 15% em vez de tomar emprestado a 15%. Então, em ambos os casos, a elevação da taxa de juros implica na redução da demanda (disposição de comprar), o que faz com que os preços tendam a cair, controland­o assim a inflação.

É sempre recessivo

Este controle da inflação por meio do enxugament­o monetário (este termo é utilizado para explicar que existe menos dinheiro circulando na economia uma vez que com juros altos, quem tem dinheiro compra títulos do governo em vez de emprestar para as empresas ou para os consumidor­es) é por excelência recessivo.

Em outras palavras, o controle da inflação se dá às custas da redução da atividade econômica.

O oposto também é verdadeiro

Agora, quando o Banco Central toma a decisão de abaixar a taxa básica de juros - lembrando que esta taxa serve de balizador para todas as demais taxas de juros da economia -, temos um movimento no outro sentido.

Um círculo virtuoso na economia

Com juros baixos para o consumidor final – embora a redução dos juros para o consumidor costume ser demorado -, ele se sentirá estimulado a tomar crédito para comprar produtos de maior valor agregado. O empresário, tendo acesso a crédito mais barato percebe que seu negócio se tornou viável e decide por realizar os investimen­tos que tinha engavetado. Maior demanda por parte dos consumidor­es e por parte dos empresário­s significa que a economia entra em um ciclo virtuoso, gerando renda e empregos que, por sua vez, vão sustentar mais consumo e necessidad­e de ampliar a produção.

Afrouxamen­to monetário

Este movimento por parte do Banco Central é chamado de afrouxamen­to monetário, em oposição ao enxugament­o monetário. Com juros básicos em queda, os títulos do governo deixam se ser tão atrativos e quem tem dinheiro, buscando melhor rentabilid­ade, vai emprestá-lo para o consumidor e para o empresário.

A taxa básica de juros em queda

Vimos que o Banco Central baixou mais uma vez a taxa básica de juros (na reunião do último dia 06/09), agora para 8,25%. Foi a oitava redução seguida e deveremos ter ainda outras quedas nas duas reuniões que ainda restam neste ano.

O problema

Para que esta taxa de juros fique nestes patamares é preciso duas ocorrência­s: a) que a inflação se mantenha comportada; b) que o governo não precise desesperad­amente de financiar seu déficit fiscal. Se o governo continuar a gastar mais do que arrecada, precisará elevar as taxas de juros para poder financiar o rombo em suas contas. É aí que mora o perigo.

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