Educação em crise
Universidades federais correm contra o tempo para remanejar recursos e fechar as contas
Equipamentos à espera de laboratório, professores temporários enquanto não há autorização para a contratação de efetivos, obras paradas... Esses são apenas alguns dos problemas enfrentados pelas universidades públicas em todo o País. Nas instituições federais do Paraná, promessas de recursos que não saíram do papel, cortes no repasse e contingenciamento do pouco que restou preocupam gestores e alunos da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), da UFPR (Universidade Federal do Paraná), da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) e do IFPR (Instituto Federal do Paraná).
No campus Londrina da UTFPR, os estudantes aguardam a construção de dois barracões para abrigar laboratórios dos cursos de engenharia. Há mais de um ano, um dos equipamentos permanece do lado de fora do prédio. A jateadora deveria ser utilizada para a limpeza e separação de materiais, mas está parada por falta de local adequado para funcionamento.
“O curso de engenharia química, por exemplo, requer muito aparato tecnológico. Hoje faltam laboratórios e equipamentos. Acredito que isso afeta a qualidade do curso porque não conseguimos fazer todas as atividades práticas. Não tem laboratório de engenharia química no campus e algumas matérias previstas para daqui um ano precisam desse espaço”, lamentou a aluna Ana Luisa Trzeciak, do 3º ano de engenharia química.
Dos sete cursos ofertados no campus Londrina da UTFPR, três não receberam recursos prometidos pelo governo federal ( engenharia mecânica, engenharia química e engenharia de produção). Os cursos foram iniciados recentemente em razão da demanda por engenharias identificada na região de Londrina. Conforme o diretor-geral da UTFPR Londrina, Sidney Alves Lourenço, um acordo entre os governos federal e estadual viabilizou, na época, a abertura dos cursos de forma gradativa.
Cerca de 700 alunos frequentam as três graduações e espaços adaptados são utilizados como laboratórios. “Temos tornos que foram comprados, mas ainda não foram ligados porque não estão no local adequado. Eles também precisam ir para esses barracões. Neste ano não veio um centavo para a compra de equipamentos e investimentos”, afirmou o diretorgeral.
A construção dos laboratórios, no entanto, não depende apenas de recursos federais. Segundo Lourenço, o governo do Estado adquiriu terreno ao lado da sede da universidade para a construção dos espaços e iria repassar R$ 4 milhões. Porém, com a falta de recursos, o valor foi renegociado e ficou em R$ 2 milhões. O montante será utilizado na construção de dois barracões para laboratórios das engenharias mecânica e química. O projeto foi refeito e encaminhado à Seti ( Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior). Outros R$ 2 milhões para a compra de equipamentos dependem do governo federal.
Já em relação às contratações, seriam necessárias 14 vagas para docentes no curso de engenharia química. “Se as vagas não forem abertas, vamos ter que fechar o curso. O que a gente faz enquanto isso é contratar temporários em cima de vagas de algum docente que saiu para fazer capacitação, por exemplo. Aí o departamento absorve a carga horária daquele docente. Na prática, o departamento acaba ficando sobrecarregado, mas é o que conseguimos fazer”, justificou.
Em nota, a assessoria da Seti informou que “a versão final do projeto foi apresentada à secretaria somente no mês de agosto. A partir de agora, o projeto será analisado pela Unidade Gestora do Fundo Paraná. [...] Se estiver tudo certo, a expectativa é que a primeira parcela seja liberada ainda neste exercício”.
ALTERNATIVAS
A UTFPR possui 13 campi no Estado. De acordo com o reitor da universidade no Pa- raná, Luiz Alberto Pilatti, o corte no orçamento destinado aos investimentos gira em torno de 40% a 50%, o que compromete o andamento das obras já programadas. “Passamos por um momento de dificuldade. Em algumas situações específicas estamos tendo que renegociar dívidas de compras que fizemos anteriormente”, explicou.
Segundo o reitor, a redução no orçamento das verbas de custeio deve ficar em torno de 15%. Os problemas com o contingenciamento se arras- tam há pelo menos três anos. No mesmo período, os custos aumentaram em razão da inflação. O orçamento de investimento que neste ano é de R$ 28 milhões já chegou a R$ 100 milhões há cinco anos, quando ainda havia o programa Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). “Para chegar até o final de 2017, nós dependemos de liberação integral do orçamento [de custeio]”, destacou. Neste caso, o valor é de, aproximadamente, R$ 70 milhões.
Para chegar até o final de 2017, dependemos de liberação integral do orçamento”