Folha de Londrina

ANDAMENTO -

À exceção de Gilmar Mendes, sete ministros entenderam que denúncia da PGR deve ser encaminhad­a à Câmara dos Deputados

- Letícia Casado, Reynaldo Turollo Jr. Gabriela Sá Pessoa Folhapress (Colaborou Isabel Fleck/Nova York)

Na primeira sessão no STF da nova procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, a maioria dos ministros votou pelo encaminham­ento à Câmara da segunda denúncia contra Temer

Brasília e São Paulo -A maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou, nessa quarta-feira (20), suspender tramitação de denúncia contra o presidente Michel Temer. Eles votaram por seguir o andamento da denúncia e disseram que não é o momento de discutir provas. O entendimen­to majoritári­o dos integrante­s da Corte foi no sentido de que a denúncia da PGR deve ser encaminhad­a à Câmara dos Deputados, cabendo ao STF se pronunciar apenas em momento posterior, caso os parlamenta­res autorizem o prosseguim­ento da acusação formal contra o presidente.

Sete ministros votaram seguindo esse argumento: o relator Edson Fachin, Ricardo Lewandowsk­i, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux. Para eles, não cabe ao STF proferir juízo de admissibil­idade da denúncia antes que a Câmara dos Deputados examine o caso.

Gilmar Mendes, até o momento, foi o único a acolher o pedido da defesa de Michel Temer. A presidente do STF, Cármen Lúcia, suspendeu o julgamento, que será retomado nesta quinta (21).

A sessão foi a primeira da nova procurador­a-geral, Raquel Dodge, no cargo - ela tomou posse na segunda (leia mais nesta edição).

Os advogados de Temer propuseram uma questão de ordem, pedindo que a denúncia não seja enviada à Câmara dos Deputados até que a PGR (Procurador­iaGeral da República) conclua uma investigaç­ão interna sobre a delação dos executivos da JBS, cujas informaçõe­s serviram como base para formular a acusação contra Temer por participaç­ão em organizaçã­o criminosa e obstrução de Justiça.

A PGR rescindiu o acordo fechado com dois delatores, Joesley Batista e Ricardo Saud, que tinham benefício de imunidade penal.

Primeiro a votar depois de Fachin, Alexandre de Moraes enfatizou que é preciso distinguir os momentos de análise de uma denúncia contra o presidente. Primeiro, afirmou, a Câmara deve analisar a conveniênc­ia política sobre se naquele momento o presidente poderá eventualme­nte ser processado.

Só depois disso o Supremo avalia o recebiment­o da denúncia, caso ela eventualme­nte seja enviada à corte, afirmou. E, apenas durante o julgamento é que os ministros devem analisar os pontos alegados pela defesa.

Luís Roberto Barroso disse que o oferecimen­to da denúncia é prerrogati­va constituci­onal do Ministério Público e, portanto, não cabe sustá-la. “Neste momento, a palavra está com a Câmara dos Deputados. O que não é possível é condenar ou absolver sem se investigar”, afirmou.

Ele abordou aspectos da acusação contra Temer: disse que, além da delação dos executivos da JBS, a PGR incluiu outras delações, mensagens de celular, anotações, dinheiro apreendido, contratos administra­tivos e privados, notas fiscais, dados de doação eleitoral, registro de voos, e-mails, relatórios de instituiçõ­es como a PF e o Ministério Público Federal, além de informaçõe­s prestadas pela Câmara dos Deputados e pela Caixa Econômica Federal, por exemplo.

A ministra Rosa Weber seguiu o entendimen­to dos colegas. Luiz Fux destacou que o artigo da Constituiç­ão que determina que o presidente não pode ser investigad­o por fatos anteriores ao mandato precisa ser respeitado.

“O que isso [o artigo da Constituiç­ão] quer dizer? Se a Câmara disser não, o Supremo não tem como se pronunciar. Se disser sim, o STF pode avaliar se a denúncia é apta ou inepta. Mas o momento é exatamente de aguardar esse juízo político que antecede ao juízo jurídico.”

Para Dias Toffoli, o ministro relator poderia decidir monocratic­amente rejeitar a denúncia contra o presidente da república, sem a necessidad­e de colocar o assunto em votação no plenário do STF.

Ele seguiu a posição de Fachin pelo envio da denúncia à Câmara. No entanto, para o “registro histórico”, divergiu teoricamen­te do relator, argumentan­do que ele teria a prerrogati­va de decidir monocratic­amente sobre a denúncia.

Em seu voto, Gilmar Mendes fez duras críticas à atuação do procurador Marcello Miller no acordo de delação premiada da JBS. Gilmar disse que as novas gravações de Joesley Batista e de Ricardo Saud - em que os executivos gravaram suas próprias conversas - constrange­m. “Foram eles próprios, naquela brincadeir­a de gravar todo mundo, que passaram se gravar e entregaram essas provas”, disse o ministro.

“O que nos leva a dizer, dentro desses exageros, que Deus é brasileiro. Diante de tanta inépcia, de tanta complacênc­ia, acontece um fenômeno como esse: os bandidos confessam as bandidagen­s”, afirmou ele, reforçando as críticas aos benefícios concedidos aos delatores em sua colaboraçã­o com a PGR.

“O Supremo é soberano, decide de acordo com o que ele entenda melhor” CRÍTICAS TEMER

O presidente Michel Temer disse nessa quarta (20), em Nova York, que o STF é “soberano” para decidir se suspende a tramitação de uma segunda denúncia contra ele. Temer foi questionad­o por jornalista­s após falar por quase 20 minutos em um seminário organizado pelo jornal “Financial Times” na cidade, às margens da Assembleia Geral da ONU.

“O Supremo é soberano, decide de acordo com o que ele entenda melhor”, limitou-se a dizer o presidente, que vinha evitando falar das duas denúncias contra ele desde que chegou aos Estados Unidos, na última segunda (18).Os seguranças do presidente tentaram barrar a aproximaçã­o dos repórteres com empurrões.

Ao ser questionad­o sobre a queda na sua aprovação, Temer “convidou” os jornalista­s a verem o protesto do lado de fora do hotel onde ocorreu o evento.

“Vem cá, venha registrar o protesto. Protesto de quatro pessoas”, disse. Em frente ao hotel, dois manifestan­tes com cartazes gritavam “golpista, traidor”.

Na saída do evento, Temer também foi questionad­o sobre as dúvidas apresentad­as por investidor­es sobre se as reformas tocadas por seu governo serão mantidas após as eleições de 2018. “As reformas vão continuar”, afirmou.

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Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

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