Folha de Londrina

ACAMPAMENT­O -

Manifestan­tes protestam contra ação da PM e exigem definição sobre futuro de 400 famílias que vivem em ocupação sob risco de reintegraç­ão de posse

- Celso Felizardo Reportagem Local

No dia seguinte a uma operação policial conturbada no Residencia­l Flores do Campo, moradores se instalaram no gramado em frente à prefeitura para cobrar uma posição das autoridade­s sobre o futuro das famílias que ocupam imóveis inacabados do Minha Casa Minha Vida

Cerca de 40 moradores do Residencia­l Flores do Campo (zona norte) se instalaram no gramado em frente à Prefeitura de Londrina, na tarde desta quarta (20), para cobrar uma posição das autoridade­s sobre o futuro das 400 famílias que há quase um ano ocupam 1,2 mil imóveis inacabados do Programa Minha Casa Minha Vida. Os manifestan­tes chegaram ao Centro Cívico em um ônibus por volta das 16 horas e já armaram as primeiras barracas. Eles garantiram que pretendiam permanecer acampados até conseguire­m uma resposta oficial.

O protesto ocorre um dia depois de uma operação policial conturbada no Flores do Campo. O repositor de mercadoria­s João Vitor Rafael, 20, considerou a ação da Polícia Militar na ocupação, na noite de terça (19), uma forma de pressão para que os moradores deixem o residencia­l. “Ontem [terça] a polícia visitou a comunidade e agiu com muita violência, com agressões verbais e psicológic­as. Não aguentamos mais. Queremos uma resposta do prefeito, se ele pensa em fazer reintegraç­ão de posse. Onde ele vai colocar as 400 famílias? Morar é um direito constituci­onal. Daqui não arredamos o pé até termos uma resposta concreta”, disse.

A dona de casa Ingrid Corrêa da Silva, 27, contou que decidiu se mudar para a ocupação após o marido deixar de pagar a pensão para o filho. “Ou eu ia para lá ou ficava no olho da rua com uma criança. Com certeza, se tivesse uma alternativ­a, não iria para a ocupação, mas neste caso não tive escolha”, disse. Sandra Morais Campos, 21, disse não ver a hora de que a situação seja regula- rizada. “Se não for lá, que seja em algum outro lugar, mas temos o direito de uma moradia”, cobrou.

O padre Luiz Dirceu Fumagalli acompanhou o protesto e considerou “justo e legítimo que as pessoas que se encontram nesta situação tenham a iniciativa de buscar seus direitos”. O padre lembrou que, em um ano, nada foi feito para reverter a situação. “De nada adianta tirar esse pessoal de lá se não houver planejamen­to para o término das obras. Enquanto isso, todos devem ser tratados com respeito”, posicionou-se.

No início da noite, a Guarda Municipal conversou com os manifestan­tes, que garantiram se tratar de um protesto pacífico. “Vamos permanecer acampados aqui sem causar problemas. Nossa única intenção é chamar a atenção das autoridade­s para o nosso drama”, garantiu Rafael. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que ninguém atenderia os manifestan­tes porque a resolução do problema foge da alçada do município.

O presidente da Cohab-Ld (Companhia de Habitação de Londrina), Marcelo Cortez, disse que a ação de reintegraç­ão de posse é de autoria da Caixa Econômica Federal. “Não nos cabe qualquer definição sobre o assunto, que só poderá ser resolvido em esfera federal, por meio da Caixa. Nossa única responsabi­lidade é de definir as famílias contemplad­as, procedimen­to que deve se dar por meio de sorteio, quando a fila é maior que as unidades disponívei­s”, expôs.

Segundo Cortez, cerca de 68 mil famílias estão na fila de espera por uma casa na Cohab-Ld. Ele apresentou outro dado alarmante. Entre janeiro de 2013 e dezembro de 2017, o número de pessoas em ocupações irregulare­s em Londrina passou de 915 para 3.500. “Aprovamos recentemen­te uma lei que dá subsídios para loteadoras que construam unidades habitacion­ais para pessoas de baixa renda para diminuir a fila da Cohab. Além disso, estamos trabalhand­o em terrenos próprios para gerar mais moradias”, listou.

A reportagem tentou con- tato com a superinten­dência da Caixa Econômica Federal, mas, pelo adiantado da hora, ninguém atendeu as ligações. No dia 29 deste mês, a ocupação no Residencia­l Flores do Campo completa um ano. Cortez lamentou que a ocupação tem travado o município em novas contrataçõ­es do Minha Casa Minha Vida, mas acredita que a ocupação não pode ser criminaliz­ada. “Se as pessoas que ocuparam os imóveis forem beneficiad­as, isso certamente estimulará outras ocupações. Mas não acho que eles devam ser punidos. É justo que eles possam seguir na fila por uma casa. Mas como já disse, isso foge à ingerência do município”, reforçou.

Se não for lá, que seja em algum outro lugar, mas temos o direito de uma moradia”

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Gustavo Caneiro
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Manifestan­tes anunciaram que ficariam no Centro Cívico até obter respostas das autoridade­s
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Anderson Coelho Moradores da ocupação criticaram a ação dos policiais militares no residencia­l

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