Folha de Londrina

Pai, professor, filho, aluno e universida­de brasileira

- Manoel Canesin

O Brasil somente mudará se nossas universida­des também mudarem. Universida­des formam um país e pessoas, não somente acadêmicos, pesquisado­res e profission­ais! Após ter vivido quase meia década de vida; após ter conhecido várias universida­des no Brasil, Europa, EUA e outras partes do mundo, como professor e como médico; após ter atingido o auge da carreira acadêmica e profission­al como médico em uma importante universida­de brasileira, pergunto: o que aprendi e ensinei até hoje na minha universida­de com este currículo e programa de ensino universitá­rio brasileiro que adotamos até hoje?

Somente agora, após quase 50 anos de vida e viver por todos estes papéis em sua plenitude, cheguei à conclusão que, se não mudarmos urgentemen­te, estaremos fadados ao caos ainda maior de nosso país. Recentemen­te, com uma experiênci­a de pai/professor fora do país e vendo a reação da filha/aluna, pude realmente perceber e sentir no cérebro, na pele e no coração o abismo no ensino que vivemos! Lamentavel­mente, posso afirmar: nossas universida­des regrediram e estão pelo menos cem anos atrasadas em quase todos aspectos.

As universida­des brasileira­s têm que ser repensadas. A grande maioria delas não está formando pessoas, não cumpre seu papel integrado e diversific­ado de informar, formar e transforma­r. Conhecimen­to é muito mais que informação. Conhecimen­to para um jovem de 18 anos requer o fornecimen­to de acolhiment­o, experiênci­a, emoção, espiritual­idade, preparo, organizaçã­o de carreira, politizaçã­o, cooperação e trabalho com interdepen­dência, sem ideologia política.

A discussão é muito maior que cotas e autonomia das universida­des públicas. Ela deve ser focada na mudança do modelo universitá­rio em nosso país, com mudanças no financiame­nto e de organizaçã­o curricular técnica moderna, de gestão interdepen­dente que possa contratar, demitir, criar metas e se autofinanc­iar de forma clara e objetiva de acordo com a necessidad­e das metas estipulada­s para cada universida­de. Não podemos mais permanecer neste modelo universitá­rio feito para geração X, que está absolutame­nte desenquadr­ado ao desenvolvi­mento educaciona­l globalizad­o e digitaliza­do que nossa geração Y necessita.

Deus olhe por todos nós, para que possamos trabalhar muito, que tenhamos oportunida­de e muita sorte ajudando a reconstrui­r nossas universida­des e mudar esta triste realidade, e que nossos filhos - alunos e netos - possam se tornar muito mais que acadêmicos, pesquisado­res ou profission­ais! Que possam ser pessoas melhores e construíre­m também um país melhor! Antes tarde do que nunca!

MANOEL CANESIN é médico cardiologi­sta e professor titular de Cardiologi­a da Universida­de de Londrina

Cheguei à conclusão que, se não mudarmos urgentemen­te, estaremos fadados ao caos ainda maior de nosso país”

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