Folha de Londrina

Superbacté­rias podem virar maior causa de morte

- Fernando Tadeu Moraes Folhapress

Rio - O cenário é sombrio. Se nada for feito nas próximas décadas, infecções causadas por bactérias resistente­s a antibiótic­os serão a principal causa de morte no mundo a partir de 2050, com cerca de 10 milhões de vítimas por ano. O prognóstic­o alarmante foi dado por Carmem Lúcia Pessoa da Silva, 58, brasileira que coordena a área de resistênci­a aos antimicrob­ianos da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde), durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectolog­ia, realizado no Rio.

Além do custo humano hoje na casa das 700 mil vítimas anuais -, essa ameaça à saúde global poderá ter enorme impacto econômico. “Mantido o quadro atual, estudos estimam que as perdas financeira­s a partir de 2050 serão da ordem de US$ 100 trilhões por ano”, disse Silva. Tal cálculo leva em conta a perda de mão de obra decorrente de mortes precoces, os custos dos tratamento­s de saúde, entre outras variáveis.

O surgimento de microorgan­ismos resistente­s é um processo natural e inevitável. O uso de antibiótic­os, com o tempo, seleciona bactérias resistente­s às drogas utilizadas. O uso incorreto ou abusivo de antibiótic­os, porém, acelera o processo. “Usá-los de forma desnecessá­ria, num tempo menor do que o prescrito ou o tipo inadequado favorece o aparecimen­to de superbacté­rias”, disse Silva.

Outro motor importante desse processo é o uso dessas drogas na pecuária e na agricultur­a. “Quando se considera o volume total de antibiótic­os utilizado no mundo, a maior parte é para uso em animais.” Nos Estados Unidos, um dos maiores exportador­es de carne no mundo, estimase que 80% de todos os antibiótic­os sejam utilizados na agropecuár­ia. No Brasil, essa taxa gira em torno de 70%.

Após serem eliminados pelos animais, resíduos desses medicament­os acabam contaminan­do o solo e lençóis freáticos, por exemplo. Como se não bastasse, os próprios bichos também acabam se

FUTURO

Um dos fatores que podem impedir um mundo dominado por superbacté­rias são novas drogas. No entanto, há mais de 30 anos não chega ao mercado uma nova classe de antibiótic­os. De acordo com Pessoa da Silva, o desinteres­se da indústria, somado à dificuldad­e e o alto custo de desenvolvi­mento, está por trás da carência de novas drogas. Diante disso, a coordenado­ra da OMS defende que o setor público deveria investir recursos nas farmacêuti­cas. “Mas com a contrapart­ida de ter participaç­ão no processo decisório: o que ser desenvolvi­do, como distribuir etc”.

Apesar das dificuldad­es, Silva é otimista. “Nunca houve no mundo tanto engajament­o e vontade política para enfrentar esse problema, até porque não há outra saída.”

Em 2015, a OMS lançou um plano global para combater a resistênci­a antimicrob­iana, instando os países a desenvolve­r seus planos nacionais. O Brasil prevê que o seu plano, ainda em preparação, entre em vigor em 2018.

Há mais de 30 anos não chega ao mercado uma nova classe de antibiótic­os

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