Folha de Londrina

Voos de Funaro batem com repasses a Geddel

- Luiz Vassallo Fábio Serapião Agência Estado

São Paulo - O relatório da Polícia Federal sobre o “Quadrilhão do PMDB” na Câmara, que embasou denúncia do exprocurad­or-geral da República Rodrigo Janot, apresenta um capítulo sobre pagamentos de propinas à suposta organizaçã­o criminosa do partido. Em tópico relacionad­o somente ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), as investigaç­ões apontam para voos do delator Lúcio Funaro com destino a Salvador, onde permanecia por aproximada­mente meia hora, decolando de volta ao ponto de partida. As datas e horários, fornecidos aos investigad­ores por empresa dona do hangar, são equivalent­es às apontadas em planilhas de Funaro em que são registrado­s supostos pagamentos ao ex-ministro. Segundo a PF, documentos apontam para repasses de R$ 16,9 milhões do operador a Geddel somente entre 2012 e 2015.

Geddel está preso preventiva­mente desde o dia 8 de setembro, após a Polícia Federal descobrir, na Operação Tesouro Perdido, um apartament­o em Salvador a apenas 1,2 Km da casa do peemedebis­ta, com R$ 51 milhões em dinheiro vivo em malas e caixas. Ele é investigad­o na Operação Cui Bono? por supostos desvios oriundos de liberações de empréstimo­s à época em que foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal.

O dinheiro tinha as digitais do ex-ministro e do ex-chefe da Defesa Civil de Salvador, Gustavo Pedreira Couto Ferraz. Aliado ao PMDB na Bahia, Ferraz é apontado pela PF como o interposto que teria pego dinheiro para Geddel do doleiro Lúcio Funaro em São Paulo.

Em delação, Funaro afirma ter feito pagamentos de R$ 20 milhões ao peemedebis­ta. Desse total, a PF encontrou registros de voos e pagamentos em planilhas que supostamen­te são relacionad­os aos repasses de R$ 16,9 milhões.

Nas planilhas do delator, Geddel é associado às indicações “G”, “Ge”, “Gu”, “Ged”, “Gued”, “If/g” e “If-salv”, de acordo com a PF.

O doleiro alegou que teria entregue valores e o ex-ministro teria feito entregas a um hangar da Aero Star Taxi Aereo LTDA, no aeroporto de Salvador. A empresa forneceu as informaçõe­s sobre pousos e decolagens do delator. Cruzando dados fornecidos pela empresa com planilhas de Funaro, a Polícia Federal identifico­u indícios de pagamentos a Geddel.

“Com relação ao registro de pagamento referente ao dia 30/01/2014, dos valores de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), em oficio emitido pela empresa Aero Star, verificou-se que Lúcio Funaro contratou, por meio de sua empresa Viscaya Holding Participaç­ões, intermedia­ções, estruturaç­ões e serviços LTDA, serviços de “hangaragem” no dia 29/01/2014, um dia antes da data registrada na planilha de pagamentos a Geddel. A aeronave, PT -MJC, de propriedad­e de Lúcio Funaro, permaneceu do hangar da empresa por apenas 30 minutos. Entre 19:02h e 19:32h. Esse curto período de parada, juntamente com os contextos apresentad­os, permitem inferir que o objetivo da viagem teria sido unicamente para a entrega de valores conforme a planilha de Funaro”, conclui a PF.

Em situação semelhante, no dia 17 de fevereiro do mesmo ano, quando o doleiro registrou pagamento de R$ 650 mil a Geddel em suas planilhas, consta na ficha de atendiment­o de serviço de ‘hangaragem’ da Aero Star Taxi Aéreo para o avião de Lúcio uma permanênci­a de apenas 42 minutos. Segundo a PF, ‘esse período curto reforça, mais uma vez, as declaraçõe­s de Lúcio Funaro sobre o fato de ter viajado até Salvador com a única finalidade de proceder à entrega de valores no hangar da empresa’.

A Polícia Federal ainda relata situações semelhante­s em que os voos de Funaro, com permanênci­a curta em Salvador, batem com registros de supostos pagamentos a Geddel.

Em uma das ocasiões em que o doleiro relata ter feito entregas a Geddel Vieira Lima em março de 2014, quando ficou hospedado no hotel Pestana, em Salvador. De acordo com o doleiro, o peemedebis­ta teria chegado em sua Cherokee.

A Polícia Federal recebeu, do hotel Pestana, o registro de hospedagem de Funaro e identifico­u, na declaração de bens de Geddel, a Cherokee mencionada pelo delator.

Funaro ainda entregou doação oficial por meio de empresa à qual é ligado, a Araguaia Energia Elétrica, no valor de R$ 50 mil, ao PMDB da Bahia, cuja pessoa jurídica está em nome de Geddel.

O delator afirma ter pago R$ 20 milhões ao peemedebis­ta

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