Folha de Londrina

‘Machismo restringe participaç­ão feminina’

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Vôlei, handebol e atletismo são os esportes que Lívia Avancini, 25, pratica. Além de treinar e ser personal trainer em academias. Educadora física formada pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina), desde os seis anos de idade ela está no meio esportivo. E não demorou para perceber que era um meio machista e que os esportes têm uma divisão implícita de quem pode jogá-los ou praticá-los.

Dos seis aos 12, jogou vôlei; dos 12 aos 15, mudou para o arremesso de peso e se profission­alizou. Com a profission­alização, foi morar em São Paulo para treinar, viajou para competir, conheceu lugares, culturas, pessoas e começou a ganhar seu próprio dinheiro. Hoje ela é vice-campeã brasileira na modalidade, terceira no Sul-americano e ficou perto de disputar a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro.

Ela conta que começou no atletismo por uma questão de estética, pois “era meio gordinha”, e que essa mudança levou à sua independên­cia. Apesar de ter entrado por essa preocupaçã­o com a aparência, ela critica quem liga mulher e esporte a “símbolo sexual, gostosa” e pensa que é apenas para isso que elas praticam esportes, pois dizem que elas não podem ter corpo musculoso, “de homem”.

Mesmo com 1,87m de altura, ela nunca entrou em uma briga, mas sempre faz questão de falar com os atletas. “Quando entram os calouros e eles vão treinar e começam a falar das meninas ou chamá-las de gostosas, eu chamo e falo: ‘escuta aqui, isso não pode, tá errado’. E vou politizand­o eles”. Por causa de seu tamanho, ela diz que não teve muito problema com posturas machistas em sua frente, mas sabe que é algo que existe.

Lívia diz que sempre teve sua posição pessoal muito bem definida e que não esconde de ninguém quem é. “É preciso se respeitar e mostrar quem somos.” No ano passado, no JIA (Jogos Inter Atléticas) ela escreveu “Vai Sapatão” em sua camiseta para que, assim, quando alguém tentasse a ofender com isso, “estaria só chamando pelo seu nome”.

Seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) foi sobre “A mulher atleta: gênero e preconceit­o”. Segundo a atleta, o estudo e a pesquisa sobre o tema a fizeram abrir mais a cabeça e repensar casos da sua carreira nos quais ela havia passado por alguma situação machista, mas acabou achando que era normal, natural, e não uma discrimina­ção.

A atleta londrinens­e diz que o machismo restringe a participaç­ão das mulheres não apenas no esporte, mas em todos os ambientes. Para exemplific­ar, cita o caso de homens cabeleirei­ros serem tachados de gays. “Faz sentido uma mulher que é vicecampeã brasileira de arremesso de peso ser impedida de competir por esse esporte ser mais físico e masculiniz­ado que o vôlei, por exemplo, que ela joga já há quase 20 anos e que abriu as portas para ela?”, questiona.

(G.B.)

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“Quando entram os calouros e começam a falar das meninas ou chamá-las de gostosas, eu chamo e falo: ‘escuta aqui, isso não pode, tá errado’”, revela Lívia Avancini

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