Folha de Londrina

Mais estresse, mais dor de cabeça

Estilo de vida agitado é um potenciali­zador da cefaleia; especialis­tas defendem abordagem multidisci­plinar para diagnóstic­o e tratamento

- Saude@folhadelon­drina.com.br Micaela Orikasa Reportagem Local

Ao mesmo tempo que o ser humano cria ferramenta­s para facilitar a vida, ele sofre cada vez mais com a falta de tempo. Esse antagonism­o é um reflexo da sociedade moderna, que dorme e acorda com um volume ilimitado de informaçõe­s e vive em estado de ansiedade. Justamente por não ser uma máquina, o corpo humano não consegue suportar uma carga tão alta de estímulos externos e então começa a estressar. A partir daí, tanto a mente quanto o corpo passam a responder a esse estresse por meio de sintomas e doenças. Uma das mais prevalente­s é a cefaleia. Segundo a SBCe (Sociedade Brasileira de Cefaleia), cerca de 140 milhões de brasileiro­s sofrem de dor de cabeça, a sétima doença mais incapacita­nte do mundo.

Um estudo realizado na Alemanha em 2014 forneceu evidências sobre a associação entre a intensidad­e do estresse e a frequência de dor de cabeça. Foram entrevista­das 5.159 pessoas com idade entre 21 e 71 anos, durante 24 meses. Do total, 31% sofriam de cefaleia tensional, 14% de enxaqueca, 10,6% relataram os dois tipos de dor de cabeça combinados, 23,6% não tiveram as dores classifica­das e 20,8% não tinham dor.

Os níveis de estresse foram mensurados em uma escala de zero a cem e foram cruzados com os episódios de dor de cabeça relatados nas entrevista­s. O resultado foi um aumento de dez pontos na escala de estresse, sendo 6% de acréscimo nos episódios de dor entre os que sofriam de cefaleia tensional.

Entre os que se queixaram de enxaqueca, os dez pontos geravam 4,3% mais crises e 4,2% entre os que sentiam os dois tipos de cefaleia. O estudo foi coordenado por Sara H. Schramm, do Hospital Universitá­rio da Universida­de de Duisburg-Essen, e considerou ainda o consumo de bebida alcoólica, fumo e uso de remédios para dor de cabeça.

“A correria da vida atual e o aumento do sedentaris­mo têm influencia­do o surgimento e a potenciali­zação de dores de cabeça em toda a sociedade”, comenta o neurocirur­gião em Londrina, Carlos Zicarelli, que participou do primeiro simpósio multidisci­plinar em cefaleia do País. O evento aconteceu em Londrina, em agosto, e reuniu profission­ais da saúde para discutir a importânci­a do diagnóstic­o e o tratamento envolvendo diferentes áreas, pois a cefaleia é multifator­ial. “O intuito é trazer esse conhecimen­to para que os profission­ais possam melhorar o diagnóstic­o e interagir entre si em prol da melhora do paciente. Praticamen­te 90% da população mundial, em um período da vida, sofrerão de dor de cabeça”, afirma Suellen Abib, fisioterap­euta em Curitiba e membro do Comitê de Cefaleia da Sbed (Sociedade Brasileira da Dor), que promoveu o simpósio.

DIAGNÓSTIC­O

O diagnóstic­o de cefaleia, segundo o neurocirur­gião, tende a ser demorado porque as caracterís­ticas das dores são semelhante­s. Ele cita, por exemplo, que um tumor cerebral ou a abstinênci­a de alguma substância pode ser confundido facilmente com uma enxaqueca. “É preciso colher bem a história clínica do paciente. Você tem que provocá-lo pra responder às perguntas e, ao mesmo tempo, deixá-lo confortáve­l. As caracterís­ticas são muito semelhante­s entre as cefaleias primárias e secundária­s e o diferencia­l é a história clínica da pessoa”, ressalta.

O anestesiol­ogista em Londrina, Paulo Herrera, especialis­ta em tratamento da dor, conta que é comum os pacientes o procurarem após terem se consultado com pelo menos quatro especialis­tas e ainda sofrerem com a dor, iniciada, geralmente, entre um e dois anos. “A ideia é ajustarmos e organizarm­os a medicação, mas para isso precisamos de um diagnóstic­o preciso, mesmo para as dores de cabeça primárias, isto é, nos casos de enxaqueca, tensional ou trigêmino-autonômica”, salienta.

O médico Zicarelli explica que as cefaleias primárias, normalment­e, são do indivíduo - a pessoa nasce com uma predisposi­ção genética a desenvolve­r uma dor de cabeça, sem ter um fator ou agressor externo. “É uma doença e a maioria dos indivíduos tem”, aponta.

Já as secundária­s podem envolver diversas causas e por isso costumam se apresentar como sintoma de alguma patologia. Uma delas é a cefaleia cervicogên­ica, desencadea­da por problemas cervicais e que vem aumentando entre a população.

Segundo o médico fisiatra no Centro de Dor da Neurologia do HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universida­de de São Paulo), Diego Toledo, as maneiras de avaliar e tratar a região cervical para melhora das dores de cabeça, também vêm crescendo nos últimos anos.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil