Folha de Londrina

O menino que queria demais

Obra infantil de Shel Silverstei­n, ‘Uma Girafa e Tanto’, reflete sobre a sociedade de consumo e o acúmulo excessivo

- Marcos Losnak Especial para Folha2

O menino sonha em ter uma bola. Quando finalmente consegue a bola, começa a sonhar com um time. Quando consegue um time, passa a desejar um campo.

Quando consegue o cam- po, começa a desejar um campeonato. Quando chega ao campeonato, passa a sonhar com uma torcida e assim por diante.

O personagem de “Uma Girafa e Tanto”, obra infantil de Shel Silverstei­n, era um menino que sempre queria mais. Insatisfei­to com as coisas que tinha, deseja sempre mais.

Tinha uma alta girafa, mas desejava uma girafa mais alta. Quando consegue uma girafa super alta, começa a desejar uma girafa diferente. Para isso começa a colocar no bicho todo tipo de acessório.

Coisas como um chapéu com rato, um terno chique, um sapato cheio de cola, uma cadeira como pente, uma cobra com bolo no dente, um gambá na bolsa, um carrinho com dragão, uma baleia com fome, etc.

Com bom humor, e uma dose de nonsense, o escritor e ilustrador norte-americano Shel Silverstei­n (1933 – 1999) narra um conto acumulativ­o que engloba texto e imagem. E após o acumulo chegar ao limite, começa fazer o caminho inverso.

Quando o personagem não encontra mais espaço para colocar coisas na girafa, começa a se desfazer delas. Se livrando do acúmulo, consegue de volta a girafa em sua forma original.

“Uma Girafa e Tanto” apresenta uma divertida inversão de lógica. No desejo de possuir algo grande, o garotinho aumenta o tamanho das coisas. Quando percebe que se trata de um desejo acumulativ­o infinito, decide inverter a maneira de encarar o próprio desejo.

Se desejar algo maior, ao invés de aumentar a dimensão das coisas, o garotinho pode apenas reduzir a si mesmo. Ou seja, tornando- se menor, as coisas que antes pareciam pequenas ganham maior dimensão. Tornam-se enormes.

Shel Silverstei­n parece dizer uma coisa simples. A questão não é combater o desejo, mas perceber o absurdo do acúmulo e do consumo desenfread­o. Lançado pela editora Companhia das Letrinhas, “Uma Girafa e Tanto” chega às livrarias na primeira semana de outubro.

Quando consegue uma torcida, o sujeito começa a sonhar em ser campeão nacional. Quando consegue o título, passa a sonhar em ser campeão mundial. Depois deseja ser campeão intergalác­tico. Depois campeão sideral e assim por diante.

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Imagens: Reprodução

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