AVENIDA PARANÁ
Mesmo com falta de apoio, crianças e adolescentes do instituto “Corrida para o futuro” se destacam em competição estadual
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Falta de estrutura, apoio e visibilidade. Estes são apenas alguns dos obstáculos que as cerca de 40 crianças e adolescentes que participam do “Corrida para o futuro”, projeto que tornou- se, recentemente, em instituto, precisam superar diariamente para continuar praticando o esporte. Mo ra d o re s do conjunto União da Vitória, na zona sul de Londrina, eles treinam atletismo durante a semana na rua e com diversos materiais improvisados.
Mostrando, porém, que nenhuma dificuldade é tão grande que não possa ser superada, oito meninos e meninas que participam da iniciativa se destacaram no 19 º Campeonato Paranaense de Atletismo sub-14 e sub-16. A competição aconteceu no primeiro fim de semana de setembro no estádio Willie Davids, em Maringá (Noroeste), e reuniu centenas de jovens de grandes equipes de todo o Estado.
Um dos destaques foiWeslley Vivi, 15, filho de Dirceu Vivi, fundador do “Corrida para o futuro”. Envolvido com o atletismo desde o início, junto com o pai, ele foi medalha de ouro nos 300 metros com barreira. A marca o elevou para o 7ª lugar no ranking nacional da categoria. “Fiz a inscrição nos últimos dias e por conta disso me preparei pouco. Mesmo assim, acabei conquistando o pódio, o que foi uma surpresa para mim, mas motivo de muita alegria e superação”, destaca ele, que também almeja a carreira como jogador.
Sétima colocada na disputa de mil metros com obstáculos, Evelyn Vitória da Silva, 14, comemora a posição alcançada. “Adorei participar, pois corri com as melhores do Paraná e fiquei entre as dez primeiras”, comemora. Participando do projeto há quase um ano, ela também se alegra por outras conquistas. Estas fora das pistas. “Desde que comecei a participar tudo mudou na minha vida. Meus estudos e a frequência no colégio são algumas das questões que estou melhor.”
Sonhando viver do esporte, Gabriel Moura Alves, 13, ficou na quinta colocação no salto em distância. “Treinamos pulando no asfalto e conseguimos ficar na frente de jovens que têm muito mais estrutura. Isso é positivo, porque nos dá ânimo para continuar”, ressalta. Os adolescentes do “Corrida para o futuro” ainda faturaram um quinto lugar na marcha atlética.
Antes de chegar ao lugar mais alto do pódio, alguns percalços tiveram que ser vencidos pelo treinador e os outros participantes. “Não tínhamos dinheiro para ir. Tivemos que pedir para amigos e alguns pais também ajudaram a poucos dias do campeonato. Em razão disso, tivemos que ir e voltar no mesmo dia, para economizar”, conta Dirceu Vivi. “Mesmo assim, não deu para levar todas as crianças que tinham capacidade para participar. Isso acaba deixando um sentimento de tristeza em mim e neles”, lamenta.
EXEMPLO
Exemplo para quem está começando, o jovem Wellerson Falcão, 21, é a prova de que todo o esforço vale a pena. Também filho de Dirceu Vivi, ele foi um dos maiores incentivadores do pai, quando o projeto era em Guarapu- ava, em 2008. Hoje, corre por um clube de São Paulo, onde também mora, há seis anos.
“Fui campeão brasileiro de atletismo por Londrina, recordista paranaense, me tornei militar do exército e estudei. Tudo graças ao esporte. Isso fica de referência, porque mostra que mesmo com as dificuldades, é possível começar na rua e ir para a pista”, inventiva.
ALÉM DO ESPORTE
A possibilidade de crianças e adolescentes que moraram em um bairro carente estarem inseridas em um projeto social é outro motivo de comemoração. “Depois que começam a par ticipar eles aprendem a ser mais responsáveis, acreditar em si, expressarem-se melhor e ainda ter a oportunidade de vivenciar momentos especiais. Eles podem até não se transformarem em atletas, mas todos tornam-se cidadãos”, resume Dirceu.
Agora, os jovens atletas se preparam para participar dos Jogos da Juventude do Paraná, que acontecem em outubro. Antes, porém, uma nova busca por ajuda terá que ser iniciada. “O talento está aqui e estão apenas esperando uma oportunidade. Buscamos ajuda para ter estrutura e conseguir oferecer o melhor para eles, que é o cuidado, e também que se divirtam.”
“Desde que comecei a participar tudo mudou na minha vida. Meus estudos e a frequência no colégio é que estou melhor” Apologia da maconha é o ponto de partida para a criação de uma sociedade demencial