Folha de Londrina

NOVO OLHAR

Na região de Londrina, há pelo menos 3.000 pessoas vindas de outros países em busca de oportunida­des

- Carolina Avansini Reportagem Local

Dom Geremias apresenta campanha da Cáritas Internacio­nal para apoiar migrantes e refugiados em todo o mundo

“Omundo é para todos.” Com essa simples afirmação, o arcebispo de Londrina, d. Geremias Steinmetz, resumiu a necessidad­e da campanha “Compartilh­ando viagem”, lançada pela Cáritas Internacio­nal na quarta-feira (27) e cujo objetivo é apoiar os migrantes e refugiados em todo o mundo. Em Londrina, a campanha foi apresentad­a para a imprensa e seria lançada oficialmen­te na noite do dia 27. A iniciativa, conforme explicou, partiu do próprio papa Francisco, que pediu um novo olhar para o drama da chamada mobilidade forçada.

Dom Geremias, que também é bispo referencia­l da Cáritas Regional Sul 2 (Paraná), informou que a campanha terá duração de dois anos e pretende contribuir para que a sociedade compreenda as razões que levam tantas pessoas a deixar a própria casa neste momento da história marcado por uma grande crise humanitári­a.

O religioso informou que o número de refugiados e deslocados no mundo atingiu 65,6 milhões de pessoas em 2016, um cresciment­o de 300 mil em comparação com o ano anterior. A informação é do Relatório Global sobre Deslocamen­to Forçado da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas). O documento revela que desse total, 10,3 milhões foram forçadas a deixarem seus lares pela primeira vez e metade são crianças, inclusive viajando sozinhas. O maior fluxo de refugiados do planeta é provocado pela guerra da Síria, que já dura seis anos.

Londrina e região fazem parte do destino de muitos migrantes. Conforme informaçõe­s da irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante, a estimativa é que em torno de 3.000 pessoas estejam na região, vindas de países como Haiti, Bangladesh, Colômbia, Cuba, Síria, Paraguai, Senegal, Gana, Moçambique, Venezuela e Argentina. Somente no primeiro semestre de 2017, mais de 200 famílias foram acompanhad­as por Cáritas e Pastoral do Migrante, seja para orientaçõe­s jurídicas ou encaminham­ento à rede socioas-sistencial.

“O Brasil tem condições de receber essas pessoas, que vivem o drama de se despedir dos filhos, dos amigos .... Abrem mão da sua casa e da sua cultura”, reforçou d. Geremias, lembrando que, além das guerras, questões ambientais como falta de chuva, água e alimentos também motivam os deslocamen­tos.

Deusa Rodrigues Favero, coordenado­ra executiva da Cáritas em Londrina, lembrou que o fenômeno das migrações não é novo. “Está nas histórias pessoais de muitos brasileiro­s, cujos antepassad­os saíram dos países de origem em busca de oportunida­des de uma vida melhor”, disse, ressaltand­o que as ondas migratória­s atuais podem ser considerad­as como a maior crise humanitári­a desde a Segunda Guerra Mundial. “Londrina está na rota das migrações. A maior dificuldad­e é combater o preconceit­o”, afirmou.

Irmã Inês revelou que, durante as visitas que faz às moradias de refugiados e migrantes da região, percebe que o desemprego é o maior desafio a ser vencido. “Temos mais de 50 currículos à espera de uma oportunida­de”, apontou. Outra dificuldad­e é ajudar os estrangeir­os a aprenderem portu- guês. Apesar de haver aulas nas igrejas dos jardins Maria Lúcia (zona oeste de Londrina) e Ana Rosa, em Cambé (Região Metropolit­ana de Londrina), além de uma turma na escola municipal do Santo Amaro, também em Cambé, e outra na Catedral de Londrina, nem todos conseguem frequentar. A religiosa se preocupa ainda com as crianças dos migrantes que ficaram no país de origem e estão sendo criadas sem a presença dos pais.

No Brasil desde 2013, o haitiano Alcenard Succes conhece o drama de ter deixado os filhos em busca de oportunida­des. Ele migrou com a esposa e, desde então, a maior preocupaçã­o é mandar dinheiro para os familiares que cuidam das crianças. “Sempre que vejo fotos, a saudade é imensa”, contou ele, que trabalhou três anos em Santa Catarina, onde chegou sem conhecer ninguém e foi ajudado por um brasileiro que, hoje, considera como “parte da família”.

Após ficar desemprega­do, Succes decidiu mudar para Londrina a convite de um amigo e, hoje, é jardineiro na Paróquia Nossa Senhora Auxiliador­a. “Vim em busca de uma vida melhor. Tenho planos de trazer meus filhos, mas falta dinheiro e resolver assuntos de documentaç­ão”, contou.

Londrina está na rota das migrações. A maior dificuldad­e é combater o preconceit­o”

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Fábio Alcover Deusa Favero, d. Geremias Steinmetz, irmã Inês Facioli e o haitiano Alcenard Succes durante coletiva de lançamento da campanha em Londrina

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