Folha de Londrina

Ministros do STF divergem sobre afastament­o de Aécio

Em desacordo com Luiz Fux, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes entendem que Senado tem autonomia para rever decisão do STF; tucano critica medida

- Letícia Casado Folhapress (Com Agência Estado)

Brasília - Após o ministro Marco Aurélio Mello , do STF (Supremo Tribunal Federal), dizer nessa quarta (27) que o Senado tem autonomia para analisar a decisão da corte que afastou Aécio Neves (PSDBMG) de suas funções parlamenta­res, o ministro Luiz Fux disse que o Senado deve cumprir a decisão de afastar o tucano. Também o ministro Gilmar Mendes disse que o plenário da corte deve rediscutir a decisão da primeira turma de afastar Aécio.

“Quando a turma começa a poetizar, começa a ter um tipo de comportame­nto, vamos dizer assim, suspeito, certamente seria bom que a matéria viesse para o plenário. Acho que matérias controvert­idas devem vir para o plenário”, cutucou Gilmar Mendes.

Para ele, a decisão dos colegas de determinar recolhimen­to noturno para o senador equivale a prisão. “Tenho impressão de que a primeira turma notoriamen­te decidiu pela prisão do senador, o que não tem respaldo na Constituiç­ão, e que o Senado tem que deliberar sobre isso”, disse ele a jornalista­s no tribunal.

Para Fux, o Senado só teria de analisar o caso se os ministros tivessem decidido prender Aécio. “Se fosse prisão, eles poderiam efetivamen­te não autorizar. Mas vamos esperar os acontecime­ntos para a gente verificar, pode ser que tenha de passar pelo nosso crivo essa eventual superação da decisão judicial.”

Senadores tucanos defenderam na terça-feira (26) a necessidad­e de o plenário da Casa se manifestar sobre a decisão do STF de impor recolhimen­to noturno a Aécio e de afastá-lo do mandato, conforme decidido pela primeira turma da corte.

“O STF já decidiu questões semelhante­s de afastament­o, já decidiu até questão de prisão de um parlamenta­r e, em ambas as ocasiões, o Senado cumpriu a decisão do Supremo. É o que se espera que ocorra porque o cumpriment­o das decisões, a harmonia e independên­cia dos Poderes é exatamente um pressupost­o do Estado de Direito”, disse Fux a jornalista­s ao chegar à sessão do tribunal.

Em novembro de 2015, o STF determinou a prisão do então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS); em maio de 2016, o tribunal referendou o afastament­o do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

DIVERGÊNCI­A

A posição de Fux diverge da do colega Marco Aurélio que disse que o Senado Federal tem autonomia para analisar a decisão dos ministros do Supremo.

“Sustentei, sem incitar o Senado à rebeldia, na minha decisão, que, como o Senado pode rever uma prisão determinad­a pelo Supremo, ele pode rever uma medida acautelado­ra”, disse Marco Aurélio. “Não estou incitando o Senado a reverter. Se ele pode o mais, que é rever até uma prisão, o que dirá a suspensão do exercício do mandato. Não estou adiantando ponto de vista, eu sus- tentei isso no meu voto.”

Gilmar Mendes afirmou que a Constituiç­ão prevê que cabe ao Senado e à Câmara decidir sobre medidas restritiva­s a parlamenta­res. “Devemos evitar a todo custo o populismo constituci­onal, o populismo institucio­nal. Devemos nos balizar pela Constituiç­ão. Quando começamos a reescrever a Constituiç­ão, é preocupant­e.”

NOTIFICAÇíO

Ainda não há uma data prevista para o Supremo notificar o Senado da decisão do afastament­o do senador Aécio das funções parlamenta­res. Mas os ministros Marco Aurélio Mello e Luiz Fux acreditam que isso deve ser feito ainda esta semana. Na interpreta­ção inicial do presidente da Primeira Turma do STF, ministro Marco Aurélio Mello, a quem cabe enviar a notificaçã­o, é necessário aguardar o acórdão do julgamento de terça-feira (26).

O responsáve­l pelo acórdão é o ministro Luís Roberto Barroso, autor do primeiro voto da corrente que venceu por 3 a 2 o julgamento, determinan­do tanto o afastament­o quanto o recolhimen­to domiciliar noturno. O gabinete de Barroso confirmou, na tarde dessa quarta-feira, que o ministro já liberou a emenda e a conclusão do voto, com as providênci­as determinad­as. Um dos pontos que Barroso ficou por esclarecer era o intervalo de horas em que Aécio Neves deverá ficar em recolhimen­to domiciliar noturno.

AÉCIO

Aécio Neves disse que a decisão do STF foi tomada sem amparo na Constituiç­ão. Em comunicado, divulgado por meio de sua assessoria de imprensa, o parlamenta­r afirmou que “o mais grave” é que a 1ª Turma do STF não deu “acesso ao direito elementar de fazer sua defesa”.

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Lula Marques/AGPT Para Aécio Neves, o STF não deu “acesso ao direito elementar de fazer sua defesa” e decisão foi tomada sem amparo na Constituiç­ão

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