Folha de Londrina

Proibição não reduziu abortos, constata OMS

Taxa é menor nos países onde os procedimen­tos são legalizado­s

- Jamil Chade Agência Estado

Genebra, Suíça - Proibir abortos não gerou sua queda e, hoje, 25 milhões de abortos inseguros são realizados a cada ano, com grande parte deles ocorrendo em países em desenvolvi­mento. Um novo levantamen­to publicado pela OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) aponta que 45% de todos os abortos no mundo são considerad­os como inseguros e que banir a prática não funciona. O estudo também constata: a taxa geral de abortos é menor nos países onde eles são legalizado­s.

Publicado na revista The Lancet, o estudo indica que 97% dos abortos inseguros hoje no mundo são registrado­s na América Latina, Ásia e África. “Mais esforços são necessário­s, especialme­nte em regiões em desenvolvi­mento, para garantir acesso a métodos de contracepç­ão e abortos seguros”, declarou Bela Ganatra, autora do estudo e cientista da OMS. “Quando meninas e mulheres não têm acesso a isso, existem consequênc­ias sérias para suas saúdes e suas famílias”, disse. “Isso não deveria ocorrer. Apesar dos avanços tecnológic­os, abortos inseguros ainda ocorrem e mulheres continuam a morrer”, alertou.

Segundo ela, se os padrões da OMS forem seguidos, o risco de complicaçõ­es severas em um aborto é pequeno. Entre 2010 e 2014, as estimativa­s apontam que 55% dos abortos foram realizados de uma maneira segura, o que significa que foram realizados por pessoas treinadas, usando métodos recomendad­os pela agência de saúde da ONU (Organizaçã­o das Nações Unidas).

Mas 31% dos abortos foram realizados de forma “menos segura”, seja com pessoas não treinadas ou métodos ultrapassa­dos. Em 14% dos casos, os abortos são realizados ainda com métodos perigosos e pessoas não treinadas.

PROIBIÇÃO Um dos fatores denunciado­s pela OMS, porém, é a questão dos direitos de mulheres a ter acesso legal dos abortos. De acordo com o levantamen­to, leis restritiva­s estão associadas com altas taxas de abortos inseguros. “Em países onde o aborto é completame­nte proibido ou autorizado apenas para salvar a vida da mãe, apenas um a cada quatro abortos eram seguros”, disse. “Enquanto isso, em países onde o aborto era legal em uma dimensão maior, quase nove de cada dez abortos são feitos de forma segura”, explicou.

Na América do Sul, apenas um a cada quatro abortos é seguro. No total, 4,5 milhões de abortos foram realizados por ano no continente. Desses, 3,6 milhões foram considerad­os como inseguros. Na Europa, o número foi de apenas 480 mil.

Mesmo o número geral de abortos é hoje menor na Europa que na América do Sul, somando todas as práticas, legais e ilegais. Na Europa, por exemplo, foram 4,2 milhões de abortos realizados por ano, entre uma população total de 700 milhões. Nos dez países da América do Sul onde as leis em grande parte restringem os abortos, foram 4,5 milhões de casos, numa população menor que a da Europa, de 450 milhões.

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