Juro do rotativo cai, mas ainda é proibitivo
Mudança nas regras propostas pelo BC diminui taxa anual em 92 pontos percentuais, o que não impede que média beire os 400%
Ojuro médio cobrado no rotativo do cartão de crédito caiu 1,6 ponto percentual de julho para agosto, quando ficou em 397,4%, segundo divulgado na quartafeira, 27, pelo Banco Central (BC). Desde que passaram a valer em abril, as novas regras que determinam que financeiras transfiram a dívida do rotativo para o parcelado, que tem taxas mais baixas, houve recuo de 92,9 pontos percentuais. No entanto, analistas alertam que a variação está longe de servir de incentivo para o uso do rotativo, que continua com um custo exagerado ao consumidor.
Apesar de indicar uma movimentação de baixa, a taxa mensal continua a pesar bastante no bolso de quem usa o rotativo do cartão de crédito. A média entre as modalidades regular (quando há pagamento do mínimo da fatura) e não regular (quando há atraso de pagamento) foi de 15,9% ao mês em abril para 14,3% em agosto. Para se ter uma ideia, o índice mensal em agosto representa quase a metade do cobrado anualmente em um empréstimo consignado, que foi de 27,2%.
A nova regra que obriga os bancos a transferirem a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado após um mês, para evitar que incidam juros sobre juros e o consumidor perca o controle da dívida, passou a valer em abril. Nesse caso, as taxas caem para índices que variam de 0,99% a 9,99% ao mês no parcelamento, o que continua elevado. “A diferença é que antes só se pagava o valor em juros e agora existe a amortização também da dívida, mas, no prazo curto, o consumidor pode não sentir diferença”, diz o diretor executivo de estudos financeiros da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro de Oliveira.
Ele alerta que as novas regras também obrigam que a própria financeira que concedeu o crédito faça a migração do parcelamento, que tem juros menores. Antes de abril o consumidor precisava conseguir um empréstimo em um banco para fazer o parcelamento, o que nem sempre era possível devido justamente ao alto endividamento.
Para a pesquisadora do Centro de Competência Econômico e Jurídico da Proteste Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a estatística Renata Pedro, a medida indica um movimento de mercado para baixar o juro do rotativo do cartão de crédito, o que não significa que seja vantajoso. Ela lembra que o indicador do BC representa uma média, com o máximo cobrado ultrapassando 1.200% ao ano em alguns bancos. “Nesse mês eu cobro uma taxa de 1.200% ao ano, a pessoa não consegue pagar e no mês seguinte sou obrigada a oferecer um parcelado, que não é tão alto, mas que continua sem valer a pena”, diz.
A estatística afirma que existe uma confusão por parte do consumidor, que usa o cartão de crédito como se fosse um extensor da própria renda. Porém, cita que os bancos tem parcela maior de responsabilidade por oferecer o serviço sem análise de capacidade de pagamento. “A pesquisa sobre inadimplência da CNC (Confederação Nacional do Comércio) aponta que 76,8% dos endividados no País têm problemas com o cartão de crédito”, alerta.
Professora de economia da Unifil, Maria Eduvirge Marandola considera toda redução de juro boa, mas que não deve ser entendida como um incentivo ao uso do cartão de crédito. “Os bancos colocam taxa mínima e máxima para o parcelado, mas, dada a flexibilidade, o consumidor dificilmente sabe quanto paga e pode ter juros altos demais”, diz. Especialista em educação financeira, Marandola sugere que sempre se procure um empréstimo com taxas menores para quitar o cartão de crédito.