Símbolos da fé
Completando cinco anos de existência, o Santuário São Miguel Arcanjo em Bandeirantes guarda história repleta de sinais e encontros
Aplaca à margem da BR369 mostra 66 quilômetros quando no horizonte já desponta um cruz gigante e uma imagem de São Miguel Arcanjo. É no céu de Bandeirantes (Norte Pioneiro) que os símbolos chamam atenção de motoristas e transeuntes da rodovia. Seja o mais detalhista ou o despercebido. Seis quilômetros depois, ao passar pelo portal que delimita o início do município de 32 mil habitantes, uma pintura indica: Santuário de São Miguel Arcanjo.
Um dos principais templos religiosos do Sul do País, o complexo possui duas partes, que são divididas pela rodovia. De um lado, a igreja, sala de milagres, secretaria e estátua em ferro de São Miguel, o “anjo mensageiro”, possuindo 19 metros. Do outro, a recémfinalizada cruz, que possui 140 toneladas e 81 metros de altura, e a gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes, que está com os trabalhos avançados. A previsão é que o segundo complexo de fé fique pronto até o final de 2017.
Apesar de comemorar no dia 29 de setembro cinco anos de existência, o santuário começou a ser idealizado na década de 1980, com duas histórias que se encontraram 25 anos depois e envolvem dois jovens. “Um rapaz estava em um seminário, em Santa Catarina, e queria desistir. Nesse tempo de dúvida teve o mesmo sonho em três dias consecutivos. Nele, o jovem se via cavando um túnel e encontrava um pilar, que mais tarde percebeu que pertencia a uma igreja. Nisso, vinha uma voz pedindo para que ele construísse essa igreja”, conta o padre Roberto Medeiros, reitor do santuário.
HISTÓRIAS QUE SE ENCONTRAM
Um período depois desses sonhos, outro jovem, Roberto Medeiros, que acabara de en- trar para a vida sacerdotal, sentiu um chamado para começar a rezar missas votivas a São Miguel Arcanjo. “Nesse momento pedi um sinal de Deus. Na semana seguinte, um amigo me questionou o porquê não rezava missas a São Miguel. Foi o que precisava”, relembra. “Dias depois, um outro colega padre veio até mim e disse que havia tido uma visão. Nessa visão eu morava em um monte e nele iria pessoas de norte a sul visitar”, completa.
Um tempo depois, o padre, que nasceu e trabalhava em Ibaiti (Norte Pioneiro), foi transferido para uma capela de Bandeirantes. Na nova casa, visualizou um monte e nele uma igreja dedicada ao anjo. Um ano depois, a história do jovem seminarista e a do sacerdote se cruzaram. “Realizei uma missa com muitos fiéis e no outro dia um homem me procurou dizendo que queria dar um local para construir uma igreja. Quando me mostrou o lugar, que era o que tinha avistado, quase cai de costas”, brinca.
O homem é Leonir Palla, que deixou o seminário, casou, e mudou-se para Bandeirantes no inicio da década de 1990. Ele foi o responsável por adquirir o monte onde hoje está o santuário e também por sua construção, que demorou três anos. “Muitas forças opostas aconteceram para que a obra não se concretizasse. Mas deu tudo certoeoquesintoéqueissoéo desejo, a vontade de Deus. Fui escolhido e estou cumprido com aquilo que me foi confiado”, resume.
SINAIS
Assim como o santuário, a cruz e a gruta também foram levantadas após o aparecimento de sinais. Os primeiros aconteceram com o padre Raberto Medeiros. “Quando mudei para o santuário via o outro monte e avistei a cruz, a gruta e a via-sacra. Uma amiga minha, da África, veio nesse período e me falou sobre a mesma coisa que eu tinha avistado”, relembra o reitor. Dias depois, Palla procurou o padre para contar que tinha comprado o terreno e que ali seria construída a gruta.
Durante as obras, uma nova indicação, esta relacionada ao nome do espaço. A ideia é que fosse dedicado a Nossa Senhora do Apocalipse. Porém, durante as escavações, os trabalhadores começaram o serviço no local errado e acabaram encontrando uma mina d’água. “Um morador da cidade veio e questionou se estávamos fazendo uma gruta a Nossa Senhora de Lourdes. Foi quando percebemos o sinal do poço com água”, pontua Palla. De acordo com a história da Igreja Católica, a aparição de Nossa Senhora em Lourdes, na França, também teve o surgimento de uma mina d´água em uma gruta.
“Tudo o que temos hoje aconteceu a partir do sonho de um homem e a visão profética de um padre que se tornou realidade”, resume o sacerdote. “Essa obra preenche um vazio na minha vida. Deus manifesta o desejo e a pessoa tem o livre arbítrio para cumprir. No meu caso, tudo o que fiz foi de forma espontânea. Quando cada parte dessa edificação vai sendo concluída, vai me dando uma plenitude interior”, complementa Palla, que gosta de ser conhecido apenas como devoto de São Miguel Arcanjo.
AMPLIAÇÃO
As próximas etapas no santuário estão relacionadas à construção de novos espaços de fé. Um deles é a criação de um caminho que lembra os últimos passos de Jesus antes da crucificação. Mais de 30 esculturas em tamanho real, que remetem à via-sacra, já estão guardadas, esperando apenas um local. Outro projeto é a edificação de um centro de eventos para 40 mil pessoas, ao lado do santuário. Enquanto isso, trabalhadores finalizam as obras do novo ambulatório, que possui estrutura que remete a um pequeno hospital.
Orgulhoso e feliz por tudo o que foi feito até aqui, padre Roberto Medeiros alegra-se quando conta de cada detalhe no santuário. “À noite sento próximo à gruta e fico contemplando tudo. É muita emoção”, descreve ele, que ainda tem uma promessa a cumprir. “Eu e o Leonir já combinamos que quando tudo estiver pronto, vamos subir no alto da cruz e agradecer mais perto do céu tudo o que está sendo proporcionado para as pessoas”, planeja.