Folha de Londrina

Com homicídio, tumulto e motim, Umuarama é dominada pela tensão

Clima ainda era de apreensão ontem na cidade do Noroeste, após noite em que moradores destruíram carros e a fachada da sede da 7a SDP para tentar agredir homem que confessou ter matado uma menina de seis anos. Aproveitan­do o quebra-quebra, presos da unida

- Vítor Ogawa e Luís Fernando Wiltemburg Reportagem Local

Umuarama - Moradores de Umuarama (Noroeste) destruíram carros e a fachada da sede da 7ª SDP (Subdivisão Policial) para tentar agredir o autor confesso do homicídio de uma menina de seis anos. O crime ocorreu na noite da quarta-feira (28) e a confusão foi registrada durante a madrugada desta quinta (29). Aproveitan­do o tumulto do lado de fora, os detentos da cadeia pública iniciaram uma rebelião.

O tumulto começou depois que se espalhou, via redes sociais, a notícia da prisão de Eduardo Leonildo da Silva, até então suspeito de sequestrar e matar Tábata Fabiana Crespilho da Rosa, de seis anos. Cerca de 2.000 pessoas se aglomerara­m em frente à delegacia, segundo investigad­ores de Umuarama. O suspeito, no entanto, foi transferid­o após o início da confusão. Por motivo de segurança, o local para onde ele foi levado não foi informado.

Com o tumulto formado em frente à unidade poli- cial, foram depredados carros particular­es, cinco viaturas descaracte­rizadas da Polícia Civil e um caminhão apreendido foi incendiado. O veículo do jornal Umuarama News foi tombado pelos manifestan­tes. A revolta popular transcorre­u até por volta das 3h. O interior da delegacia foi atingido por pedras. Computador­es foram quebrados. Alguns policiais militares foram feridos a pedradas, mas sem gravidade.

Segundo a Polícia Civil, paralelame­nte ao inquérito policial referente à prisão do suspeito, outro inquérito policial será aberto para apurar os danos causados ao patrimônio público, como também em bens de terceiros.

Os investigad­ores chegaram ao suspeito após obter gravações de câmera de segurança que mostram Tábata entrando no carro de Leonildo. Os investigad­ores afirmaram que o veículo foi reconhecid­o pela própria família, já que Leonildo seria do convívio deles. Ainda de acordo com os investigad­ores, o suspeito confessou o crime, indicando até mesmo onde o corpo foi desovado – o local não foi informado pela polícia. O suspeito havia sido condenado por homicídio e ocultação de cadáver de uma adolescent­e de 15 anos ocorrido em 2010 em Pato Branco (Oeste), mas cumpria pena em regime semiaberto.

A corporação informou ainda que, assim que tomou conhecimen­to do desapareci­mento da criança, que ocorreu na terça-feira (26), as diligência­s começaram com o apoio do Sicride (Serviço de Investigaç­ões de Crianças Desapareci­das). Após alguns procedimen­tos de investigaç­ão, a polícia identifico­u e prendeu Eduardo Leonildo da Silva, que, segundo a polícia, confessou o fato.

Segundo o delegado operaciona­l da 7ª SDP, Fernando Martins, inicialmen­te, o suspeito alegou, em interrogat­ório, que “só tinha dado carona para a garota”. “Mas conversamo­s novamente e no fim ele confes- sou que levou a garota para uma estrada rural”, declarou. Segundo o delegado, ele levou policiais até o local, onde foi localizado o corpo da garota, que foi morta por asfixia. “Ela estava com os pés e mãos amarrados. Ela morreu de forma cruel. Essa situação é lamentável, pois ele já tinha passagem pela polícia em 2008 e 2010”, acrescento­u. O corpo de Tábata foi velado nesta quinta (28).

REBELIÃO

Aproveitan­do o clima de tensão, os detentos promoveram um quebra-quebra nas galerias da carceragem da 7ª SDP. A cadeia tem capacidade para 64 detentos, mas abrigava 260 antes do motim. Os prédios do Instituto de Identifica­ção e o Instituto Médico-legal também foram alvo dos vândalos.

“Os detentos passaram a investir contra as celas, e conseguira­m arrombar as portas. A PM (Polícia Militar) já estava ali tentando conter as pessoas de entrarem na cadeia e acabaram tendo que fazer a contenção dos presos que estavam dentro da delegacia. Os presos se apoderaram de duas armas que estavam no Instituto de Identifica­ção e a negociação durou toda a madrugada, até que eles resolveram entregar as armas [durante a tarde]”, explicou Martins.

Segundo o delegado chefe da 7 ª SDP, Osnildo Lemes, a confusão começou durante o interrogat­ório do suspeito. “Começou um tumulto aqui fora. Tivemos de tirar ele às pressas da delegacia e ele nos levou até o local onde enterrou a garota”, destacou. Ele explicou que a rebelião começou pelo medo dos presos de que a população invadisse a delegacia. “Virou uma situação peculiar, pois os presos queriam sair e a população queria entrar na delegacia.”

Inquérito será aberto para apurar os danos causados ao patrimônio público A negociação durou toda a madrugada, até que eles resolveram entregar as armas”

Após o tumulto com os presos na 7ª SDP, cerca de cem condenados seriam transferid­os para a Peco (Penitenciá­ria de Cruzeiro do Oeste). Os demais ficarão isolados na sede da Subdivisão até que os reparos na carceragem sejam concluídos.

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Marcos Zanutto
 ?? Fotos: Marcos Zanutto ?? Com o tumulto formado em frente à unidade policial, foram depredados carros particular­es e viaturas descaracte­rizadas da Polícia Civil
Fotos: Marcos Zanutto Com o tumulto formado em frente à unidade policial, foram depredados carros particular­es e viaturas descaracte­rizadas da Polícia Civil
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“Virou uma situação peculiar, pois os presos queriam sair e a população queria entrar na delegacia”, declarou o delegado Osnildo Lemes

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