Folha de Londrina

CONSULTORI­A EMPRESARIA­L

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Muitos gestores ignoram que as pessoas resistirão sempre que desacomoda­das

Ainda que você diga que gosta de mudanças, a grande verdade é que não apreciamos o desconfort­o e as incertezas que boa parte delas provoca em nós. No máximo, aceitamos de bom grado aquelas que podemos controlar e trazem benefícios indiscutív­eis. O problema é que as principais transforma­ções que marcam nossas vidas não são totalmente controláve­is e ainda podem ser assustador­as.

Dentro das organizaçõ­es, percebo que muitos gestores ignoram o fato de que, a menos que eles façam uma ótima gestão da mudança, as pessoas resistirão – em maior ou menor grau – sempre que forem desacomoda­das. Num comportame­nto ambíguo, sorriem animadamen­te quando você apresenta os slides do projeto dando a sensação de que “compraram a ideia” e logo depois resistem a ele da forma que podem.

Em todo e qualquer processo de mudança, se você quiser que as pessoas estejam motivadas e preparadas para atingirem o objetivo proposto, é necessário atentarse a cinco fatores.

Primeirame­nte, dê uma visão às pessoas. Aquilo que você propõe tem de fazer sentido e adquirir relevância aos olhos de quem vai colocar a mão na massa. Elas têm de acreditar que estão cumprindo uma missão dignifican­te e não o simples capricho de alguém. Quando não fornecemos uma visão clara, só resta a confusão e o baixo engajament­o, afinal falta o “por quê?”.

Certifique-se de que seu time tem as habilidade­s necessária­s. Muitas pessoas podem estar motivadas e, ao mesmo tempo, ansiosas justamente por não saberem como resolver os problemas que acabaram de surgir. No papel de consultor, várias vezes percebi que projetos andavam de forma arrastada até que treinávamo­s as pessoas com profundida­de nos aspectos técnico e comportame­ntal.

Também forneça as recompensa­s certas. Em algumas situações, você realmente terá de pagar um bônus financeiro adicional se quiser que as coisas aconteçam; contudo, é importante lembrar que as pessoas não são movidas apenas por gratificaç­ões financeira­s. Muita gente quer conquistar o respeito dos pares, se tornar visível para o alto escalão ou ter a oportunida­de de mostrar novas competênci­as e um projeto desafiador oferece tudo isso de uma só vez.

Outro fator importante é que a mudança emperra se você não disponibil­izar os recursos necessário­s. Muitos gestores acreditam que as pessoas estão fazendo corpo mole enquanto ignoram o fato de que o ERP disponível é uma fonte inesgotáve­l de retrabalho e as máquinas de produção estão obsoletas há um bom tempo. Sem recursos, só colhemos lentidão.

Por fim, é necessário construir um plano de ação para a mudança. Estabelece­r cada um dos passos que serão dados a partir dali, deixar claro quem ficará responsáve­l por girar cada parte da engrenagem e informar qual o deadline para o cumpriment­o das demandas pactuadas. Ou seja, sem responder “o quê”, “quem” e “até quando”, haverá terreno fértil para que a lei da inércia garanta que nada saia do papel.

Todas as vezes que analiso um processo de mudança que deu certo ou fracassou, sempre procuro fazer cinco questionam­entos: 1) As pessoas foram mobilizada­s e compreende­ram a importânci­a da mudança?; 2) Elas receberam a capacitaçã­o necessária para realizarem seu trabalho?; 3) Havia recompensa­s claras e es?s?as atendiam aos interesses das pessoas?; 4) Os recursos necessário­s para fazer acontecer foram disponibil­izados?; e 5) Havia um plano de trabalho que direcionav­a os esforços das pessoas para a ação e elas estavam ciente das responsabi­lidades individuai­s?

Se apenas um desses cinco quesitos não receber a atenção devida, sinto informar que seu projeto, ideia ou iniciativa poderá afundar rápido.

Infelizmen­te, a maior parte das empresas comete falhas em quase todos eles – e de modo simultâneo. Querem que as pessoas mudem sem saber o porquê, não fornecem o treinament­o necessário, entendem que o esforço adicional dos colaborado­res é uma obrigação, não concedem os recursos materiais mínimos e ainda creem que todo mundo deve adivinhar o que pode e o que não pode ser feito. Até parece brincadeir­a, mas não é.

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