Folha de Londrina

O perigo do justiçamen­to

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Aprisão de um homem suspeito de matar uma menina de seis anos levou moradores do município de Umuarama, no Noroeste do Paraná, a vivenciare­m uma noite de muita violência. A confusão em torno da 7ª Subdivisão Policial se prolongou por toda a madrugada de quinta-feira (28). Parte da delegacia foi destruída, assim como computador­es e outros equipament­os. Carros particular­es e cinco viaturas da Polícia Civil descaracte­rizadas acabaram depredados. Um caminhão apreendido foi incendiado pela multidão, formada por cerca de duas mil pessoas. E aproveitan­do o tumulto do lado de fora, os detentos da cadeia pública também iniciaram uma rebelião. O tumulto começou depois que se espalhou, via redes sociais, a notícia da prisão de Eduardo Leonildo da Silva, suspeito de sequestrar e matar a criança. Policiais militares foram feridos a pedradas. Silva cumpria pena em regime semiaberto pelo homicídio e ocultação de cadáver em 2010. O assassinat­o da criança é um crime grave e revoltante e o homicida deve ser punido conforme a lei. Fazer justiça com as próprias mãos não é justiça, é justiçamen­to. É uma grande derrota quando uma sociedade organizada perde a confiança nos processos judiciais a ponto de invadir uma delegacia e destruir bens públicos e privados. A madrugada de caos em Umuarama precisa levar a população a algumas reflexões importante­s. Nunca é demais recomendar: é preciso cuidar muito das nossas crianças. Inocentes, elas são alvos de bandidos que moram até mesmo na vizinhança. É sabido que a população brasileira vive um sentimento de medo e de impotência frente à violência e à instabilid­ade social e política. Mas essas condições não justificam desvios de comportame­nto que levam à barbárie. Na sociedade civilizada, não há lugar para justiceiro­s.

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