Folha de Londrina

‘As pessoas estão descrentes da Justiça’

- Carolina Avansini Reportagem Local

O pesquisado­r Pedro Bodê, coordenado­r do Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR (Universida­de Federal do Paraná), destaca que o Estado falhou ao deixar 260 homens presos em uma carceragem de delegacia onde cabem 64 pessoas, como é o caso de Umuarama. “Não é um lugar seguro, presos devem ficar em casas de custódia ou penitenciá­rias”, disse, lembrando que policiais, nesses casos, acabam executando o papel de carcereiro­s, o que não caberia a eles.

Por outro lado, ele não vê “erro” - a princípio - no fato de Eduardo Leonildo da Silva, acusado pela morte da menina Tábata Fabiana Crespilho da Rosa, 6, estar cumprindo pena por crime similar em regime semiaberto. “Ele deve ter alcançado esse benefício por bom comportame­nto, a Justiça permite isso”, declarou. Bodê esclarece que, caso ele tivesse sido identifica­do como psicopata, poderia ter sido internado em um complexo médico penal. “Mas chegar a esse diagnóstic­o é muito difícil. Na dúvida, a Justiça sempre decide em favor do réu”, analisou.

Sobre o ataque à delegacia de Umuarama por populares, em uma tentativa de “fazer justiça com as próprias mãos”, Bodê considera o fato “previsível” diante da situação de instabilid­ade social do Brasil. “As pessoas estão descrentes da Justiça e temem a impunidade. Além disso, o País vive tempos de desemprego e falta de acesso a serviços de saúde, por exemplo. Tudo isso forma o ambiente perfeito para situações de extrema comoção social que, no caso, resultaram na destruição da delegacia”, disse, lembrando que a explicação não justifica a violência. “As pessoas se unirem para fazer algo que contraria a lei é inaceitáve­l.”

Outra crítica do estudioso diz respeito à valorizaçã­o de informaçõe­s falsas pelas redes sociais. “Temos registro de várias tentativas de linchament­o de pessoas por causa de fotos divulgadas no WhatsApp”, menciona ele, que adverte sobre a necessidad­e de desconfiar das redes sociais. “Elas abrem portas para coisas muito legais, mas dependendo do uso, podem abrir as portas para o inferno”, enfatizou.

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