Folha de Londrina

Dos brasileiro­s está na bolsa

Rentabilid­ade alta da renda fixa e perfil conservado­r afastam investidor­es do mercado de capitais; situação deve mudar

- Nelson Bortolin Reportagem Local

Aparticipa­ção dos brasileiro­s (pessoas físicas) na B3 - antiga BM&FBovespa - é inexpressi­va. No final de agosto, a bolsa brasileira tinha próximo de 594 mil contas desses investidor­es. O número representa 0,2% da população total ou 0,5% da população economicam­ente ativa do País. Neste ano, em que o principal índice da B3, o Ibovespa, ultrapasso­u a marca histórica dos 76 mil pontos, as pessoas físicas foram responsáve­is por apenas 8,7% das compras e 9,6% das vendas de ativos.

A maior participaç­ão ficou por conta dos investidor­es estrangeir­os, que respondera­m por 23,7% das compras e 21,5% das vendas. Na sequência, estão os institucio­nais brasileiro­s, com 13,4% e 14,5%, respectiva­mente. Nesta categoria, ficam os fundos de investimen­tos e as entidades fechadas e abertas de previdênci­a complement­ar. As instituiçõ­es financeira­s do País participar­am com 3,6% das compras e 3,7% das vendas. E, por último, as empresas brasileira­s, com 0,3% e 0,5%, respectiva­mente

Lucas Moratto, sócio e analista de investimen­tos do Fundo de Investimen­tos em Ações (FIA) Real Investor, de Londrina, atribui ao histórico de juros altos a participaç­ão tão pequena das pessoas físicas. “Historicam­ente vivemos com taxas de juros altas. Parece que existe uma barreira psicológic­a que todo investidor procura 1% de rentabilid­ade ao mês (em produtos de renda fixa). Foram raras as situações que o brasileiro viveu com juros baixos e isso o acomodou”, afirma.

O professor da Escola de Administra­ção da UFRGS (Universida­de Federal do Rio Grande do Sul) e sócio da Vokin Investimen­tos, Guilherme Ribeiro de Macêdo, concorda. “Uma pessoa que investia em renda fixa ganhava um por cento ao mês até há pouco tempo, quando a Selic estava alta. Com R$ 1 milhão aplicados, teria R$ 10 mil de rentabilid­ade por mês”, calcula.

Nos Estados Unidos, onde, segundo ele, 70% da população investe em bolsa, a situação é bem diferente. “Um milhão de dólares lá rende só 100dólares­pormês(emrenda fixa)”, ressalta. Por isso, os americanos recorrem à renda variável.

Correndo mais risco, os investidor­es brasileiro­s poderiam ganhar muito mais na bolsa, garantem os especialis­tas. Ainda mais num cenário de juros em queda. “Hoje, a renda fixa tem rentabilid­ade de 8,25% ao ano. A rentabilid­ade de nosso fundo está em 22% ao ano”, declara Moratto.

EDUCAÇÃO

Além da questão dos juros, o diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administra­ção e Contabilid­ade), Andrew Frank Storfer, aponta a falta de educação financeira do brasileiro como explicação para a baixa participaç­ão na B3. “Isso o faz conservado­r, avesso a risco”, afirma.

O diretor diz que o brasileiro é fã da caderneta de poupança pela simplicida­de de produto. “Até mesmo o Tesouro Direto, que é um investimen­to muito seguro, assusta porque tem custódia. É preciso explicar o que é isso para o investidor.” Na bolsa, a situação é ainda pior porque é preciso entender operações complexas e se acostumar com nomenclatu­ras, muitas vezes em língua inglesa.

Parece que existe uma barreira psicológic­a que todo investidor procura 1% de rentabilid­ade ao mês”

 ?? Shuttersto­ck ?? Analistas financeiro­s creditam ao histórico de juros altos um dos principais fatores para a pequena participaç­ão de pessoas físicas na bolsa
Shuttersto­ck Analistas financeiro­s creditam ao histórico de juros altos um dos principais fatores para a pequena participaç­ão de pessoas físicas na bolsa
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil