Folha de Londrina

‘Lei tem que ser cumprida dos dois lados’

Professora de serviço social da UEL destaca que moradia digna é direito previsto na Constituiç­ão

- Celso Felizardo Reportagem Local

Aiminência da reintegraç­ão de posse em várias ocupações irregulare­s de Londrina levanta a pergunta: para onde as famílias serão realocadas? Jolinda de Moraes Alves, professora do Departamen­to de Serviço Social da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e autora do livro Assistênci­a aos Pobres em Londrina (Eduel/2014), admite que as ocupações são um ato fora da lei. No entanto, ela ressalta que a legislação deve ser cumprida dos dois lados. “A família que, como dizem, ‘invade’ um terreno, é a mesma que está amparada pela Constituiç­ão Federal, que tem direito a uma moradia digna”, ressalta.

A pesquisado­ra aponta que o problema remonta às origens da colonizaçã­o da cidade. “Londrina era um ‘eldorado cafeeiro’, lugar para se ganhar dinheiro, mas para cá também vieram pessoas que foram vencidas, que não foram vencedores. A história da pobreza começa com o surgimento da cidade. Não se pode dizer que nunca existiu pobre na cidade. Já no primeiro ano de fundação há registro de um Natal para os pobres”, relata. “O problema da habitação é um caso clássico que se acentuou com o êxodo rural. O que ocorre é que a configuraç­ão da pobreza muda, a manifestaç­ão dessa pobreza, mas o dilema é antigo”, acrescenta.

Sem políticas públicas eficazes ao longo dos anos, o deficit habitacion­al se tornou uma bola de neve. De acordo com Jolinda Alves, parte da culpa se dá ao fato das autoridade­s e da sociedade em geral fecharem os olhos para a questão. “Por mais que boa parte da sociedade londrinens­e os veja como invasores, como bandidos, e queira tornálos invisíveis, isso não é possível. Eles não são invisíveis e estão mostrando isso”, expõe, referindo-se aos moradores dos imóveis inacabados do

Residencia­l Flores do Campo que ficaram por uma semana acampados no gramado do Centro Cívico.

As ocupações atuais, de acordo com a pesquisado­ra, são diferentes das ocorridas na década de 1980. “Hoje as pessoas têm maior consciênci­a de seus direitos. O conceito de ocupação é que você

ocupa porque você tem direito. Foi assim no União da Vitória, apesar de algumas diferenças. Hoje o bairro se chama Jardim União da Vitória, fruto de uma reivindica­ção legítima”, considera. “Essa configuraç­ão não faz parte de um planejamen­to urbano. A coisa vai acontecend­o conforme o mercado imobiliári­o. É preciso políticas públicas que coíbam a especulaçã­o e garantam áreas para a habitação de interesse social.”

De acordo com Jolinda, o enfrentame­nto do problema é fundamenta­l. “O poder público tem que agir. É pago com recursos públicos para enfrentar a situação do deficit habitacion­al. É fato que existem alguns empreendim­entos habitacion­ais sendo construído­s em Londrina, mas tem muito mais ocupações irregulare­s. Tem que haver política habitacion­al para se antecipar a essas ocupações. Se não é possível fazer isso, a pessoa não pode estar no lugar de gestor público”, cobra.

É preciso ter políticas públicas que coíbam a especulaçã­o e garantam áreas para a habitação de interesse social”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil