Folha de Londrina

Justiça retira dos pais menino encontrado em cela de presídio

Garoto será acolhido em um abrigo em Teresina e terá acompanham­ento do Conselho Tutelar

- Juarez Oliveira Agência Estado

Teresina -

A juíza titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude, Maria Luiza de Moura Mello, suspendeu, nesta quarta-feira (4), a guarda dos pais da criança encontrada dentro da cela de um homem condenado por estupro em um presídio no Piauí. A decisão atende a pedido do Conselho Tutelar.

“A guarda dos pais do menor está suspensa momentanea­mente até que se esclareça em que circunstân­cias o garoto foi parar no interior do presídio dentro de uma das celas. Enquanto isso ele será acolhido em um abrigo em Teresina, com o acompanham­ento do Conselho Tutelar”, informou a magistrada à reportagem.

Maria Luiza relatou ainda que uma equipe multidisci­plinar do Juizado deverá acompanhar e avaliar as condições em que o menino vive junto com seus pais, com visita in loco, ouvindo familiares e vizinhos. Após esse levantamen­to e a conclusão das investigaç­ões, a Justiça definirá se o menino volta ao convívio dos pais ou se será encaminhad­o para a guarda de algum outro parente.

O garoto foi encontrado por agentes penitenciá­rios na noite do sábado (30). Ele estava debaixo da cama do detento José Ribamar Pereira Lima, que cumpre pena por dois estupros na Colônia Agrícola Penal Major César.

‘INSISTÊNCI­A’

Em depoimento à Polícia Civil, o menino disse que não queria ficar na unidade, mas foi induzido a dormir ali por insistênci­a do pai, Gilmar Francisco Gomes. Tanto o pai como a mãe da criança são lavradores e analfabeto­s. Eles afirmam que o detento é compadre da família e que durante as visitas lhe prestavam pequenos serviços - como lavagem de roupas e ajuda nas plantações da colônia penal - em troca de alimentos.

O menino disse ainda que esta foi a primeira vez que dormiu sozinho na cela de Pereira Lima, mas que já havia passado a noite na unidade prisional em outra ocasião, junto com sua família. Durante cinco anos, seu pai cumpriu pena com Pereira Lima no mesmo presídio, também por estupro de vulnerável. Foi lá que se conheceram e estabelece­ram uma relação de amizade.

De acordo com o delegado, o exame de corpo de delito realizado no domingo (1º) comprovou que o menor não foi estuprado. A criança também reforçou em depoimento que não foi abusada por Pereira Lima. O delegado Jarbas Lima destacou que houve uma falha grave em permitir que o menor dormisse na unidade e que a apuração deve apontar os responsáve­is.

“As investigaç­ões devem nos levar aos responsáve­is pelo ocorrido, e os pais do menor podem ser responsabi­lizados pelo crime de abandono de incapaz e pelo artigo 232 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescent­e), ao submeter a criança a uma situação vexatória. Além disso, o detento pode ter a sua progressão de regime suspensa e voltar a cumprir pena em regime fechado”, pontuou.

Nos depoimento­s concedidos ao delegado, o garoto contou ainda que Pereira Lima costumava presentear a ele e seu irmão menor com “sandálias (chinelo), biscoitos, além de dar alimentos para seu pai prover o restante da família”.

Em outro ponto do depoimento, a criança citou ainda que o seu irmão mais novo chegou a pedir ao pai que Pereira Lima fosse seu padrinho e que este já havia presentead­o o seu irmão com um celular e prometeu lhe dar também um videogame.

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