Folha de Londrina

UEL sem partido

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Este cronista de sete leitores ama a Universida­de Estadual de Londrina. A exemplo de tantas outras pessoas, eu jamais teria conhecido a minha cidade do coração se não fosse a UEL, à qual cheguei numa chuvosa manhã de 1989, descendo no ponto de ônibus errado.

Às vezes sonho que estou passeando pelo calçadão da UEL, admirando as flores e as árvores plantadas pelo saudoso João Sperandio. De repente, o jardineiro do campus vem ao meu encontro, sorridente. Ele não diz nada; tudo é compreendi­do sem palavras.

Em outro sonho, estou na biblioteca central do campus, lendo a biografia de Trotsky por Isaac Deutscher. De repente, sem nenhuma explicação, o livro se transforma nas Confissões de Santo Agostinho.

Há ainda um terceiro sonho. Ligam-me da UEL e dizem que ficou faltando uma disciplina para eu me formar em jornalismo. Se eu não me dirigir imediatame­nte à universida­de, perderei o meu diploma e o meu emprego. Tomo o ônibus 305, mas novamente desço no ponto errado. Em vez ir até a reitoria, dirijo-me à capelinha do campus. Quero rezar, mas a porta está fechada.

Hoje, às 19 horas, haverá uma reunião de ex-alunos da UEL na Sala de Conselhos do campus universitá­rio. Trata-se de uma assembleia, na qual será formada a Associação dos Egressos da UEL. É uma ideia ótima, que partiu do meu amigo Sandro Marques da Nóbrega, engenheiro formado pela nossa universida­de.

A UEL nasceu graças à iniciativa de lideranças londrinens­es dos anos 1960 e 70. Empresário­s, religiosos e políticos da cidade se uniram para criá-la a partir de cinco faculdades então existentes na cidade, numa autêntica parceria público privada (termo que não existia na época). O primeiro reitor, Ascêncio Garcia Lopes, conhece muito bem essa história. Se a UEL vive hoje uma crise sem precedente­s, é necessário recorrer às mesmas forças cívicas que lhe deram origem. O que nasceu da união de esforços não pode ser salvo através da luta de classes.

Por isso, é fundamenta­l que a Associação dos Egressos da UEL, a ser criada hoje, tenha independên­cia e liberdade para repensar os rumos da nossa universida­de. Deve ser uma entidade livre de quaisquer injunções partidária­s, ideológica­s e sindicais. A participaç­ão dos ex-alunos será tão mais efetiva quanto estiver livre de corporativ­ismos e aparelhame­ntos políticos. Não há dúvida de que Londrina quer uma UEL sem partido.

Se você, como eu, é ex-aluno e ama a Universida­de Estadual de Londrina, participe da assembleia de hoje à noite. É o que Dom Geraldo Fernandes, Zaqueu de Melo, José Hosken de Novaes, Milton Menezes, David Dequêch e tantos outros esperariam de nós. Vamos mostrar que a UEL, acima de tudo, pertence a Londrina — e não a este ou aquele partido ou sindicato.

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Gustavo Carneiro/05-06-2017

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