Folha de Londrina

Problemas de acessibili­dade no transporte de Londrina provocam reclamaçõe­s

Coletivos com elevadores quebrados e a falta táxis adaptados atrapalham o dia a dia de cadeirante­s em Londrina

- Pedro Marconi Reportagem Local

As dificuldad­es de locomoção em Londrina para quem é cadeirante não estão restritas às calçadas. O transporte também é motivo de preocupaçã­o para parte desta população. Mesmo o município dispondo de toda a frota de ônibus coletivo adaptada, muitas pessoas estão se deparando com a falta de acessibili­dade. Nas últimas semanas, alguns casos repercutir­am nas redes sociais, entre eles o de Ana Paula de Andrade, 32.

Moradora do jardim Vista Bela, na zona norte da cidade, a estudante teve que desembarca­r do ônibus que faz a linha 933 arrastando-se, já que o elevador não funcionou. A situação, segundo ela, não é novidade. “Eu preciso do transporte coletivo para tudo, como ir à escola, fisioterap­ia e passear. Porém, o que eu vivi acontece com frequência. Não é algo novo na minha realidade e nem na de quem anda de cadeira de rodas”, lamenta.

Cadeirante desde que nasceu, em razão de uma paralisia cerebral, a estudante passou por outros momentos constrange­dores relacionad­os à locomoção no transporte público. “Quando não tinham os elevadores, eu precisava descer sozinha diariament­e. Chegava a levar duas trocas de roupas, porque, ao contrário, iria para o lugar com a roupa suja por ter me arrastado no chão do ônibus”, relembra. “Mas parece que estamos voltando no tempo”, constata.

Eduardo Alves de Mattos, 17, é outro cadeirante que depende do transporte coletivo. Usuário constante de cinco linhas, ele relata que é difícil encontrar um veículo sem nenhum problema de acessibili­dade. “Preciso do ônibus para estudar, ir à fisioterap­ia, casas de amigos e parentes. Então, o que cobramos é uma estrutura melhor, porque eu levo uma vida mesmo estando na cadeira de rodas”.

CONSCIENTI­ZAÇÃO

Além dos incômodos, os problemas têm trazido outros transtorno­s aos cadeirante­s. “Quando o ônibus está com o elevador com quebrado, o motorista fala para esperar o próximo. Mas tem dia que não dá para esperar”, denúncia Mattos. “Estou cansada de ouvir para aguardar o outro veículo. Só como exemplo de como isso atinge nosso dia a dia, estou chegando sempre atrasada na escola por esse motivo”, reclama Andrade.

Se não bastasse os veículos, a ausência de conscienti­zação da população é apontado como um desafio. Eles afirmam que é comum passageiro­s se nagarem a deixar o local reservado para deficiente­s. Existem aqueles que reclamam pela demora do ônibus parado para que possam embarcar ou desembarca­r. Enquanto aguardam o transporte, ainda são obrigados a ficar na rua em alguns pontos, já que as calçadas não contam com rampa de acesso.

“Me sinto uma pessoa diminuída e excluída pela sociedade. Busco respeito e dignidade, porque sou um ser humano como qualquer outro. Ninguém pode estar acima dos meus direitos. Não vou parar minha vida por causa do transporte.” defende Ana Paula de Andrade. Aluna do CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos) Herbert de Souza, na região central, ela propôs uma discussão sobre a temática na escola após o constrangi­mento.

REPRESENTA­TIDADE

A falta de representa­tividade da população cadeirante vem sendo um empecilho na busca de proposiçõe­s para o transporte em Londrina. O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiênci­a, que possui uma comissão que discute sobre acessibili­dade, está inativo. O motivo é a falta de representa­ntes da sociedade civil para compor o grupo. De 12 vagas, apenas três estão ocupadas.

Para a presidente do conselho, Solange Maria Ferreira, isso acaba reforçando a ideia de que o avanço obtido até o momento é suficiente. “Precisávam­os da criação de uma comissão com vários órgãos municipais e usuários, para poder

pensar em outras formas de acessibili­dade. Muitos confundem o direito da gratuidade que o cadeirante possui com questão de se ter um transporte acessível”, pondera.

Ferreira ainda aponta a necessidad­e do município contar com mais táxis adaptados, que hoje são restritos a apenas

dois. “A convenção do direito da pessoa com deficiênci­a diz que a limitação não é da pessoa, mas do meio. Por isso, precisamos dispor de mais carros preparados para atender o cadeirante. Isso não quer dizer que esse carro será só para esse público, mas que oferece algo mais acessível”.

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Ricardo Chicarelli
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 ?? Ricardo Chicarelli ?? Ana Paula de Andrade já passou por vários momentos constrange­dores no transporte público; o mais comum é ter de ficar na rua por falta de rampa na calçada
Ricardo Chicarelli Ana Paula de Andrade já passou por vários momentos constrange­dores no transporte público; o mais comum é ter de ficar na rua por falta de rampa na calçada

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