Problemas de acessibilidade no transporte de Londrina provocam reclamações
Coletivos com elevadores quebrados e a falta táxis adaptados atrapalham o dia a dia de cadeirantes em Londrina
As dificuldades de locomoção em Londrina para quem é cadeirante não estão restritas às calçadas. O transporte também é motivo de preocupação para parte desta população. Mesmo o município dispondo de toda a frota de ônibus coletivo adaptada, muitas pessoas estão se deparando com a falta de acessibilidade. Nas últimas semanas, alguns casos repercutiram nas redes sociais, entre eles o de Ana Paula de Andrade, 32.
Moradora do jardim Vista Bela, na zona norte da cidade, a estudante teve que desembarcar do ônibus que faz a linha 933 arrastando-se, já que o elevador não funcionou. A situação, segundo ela, não é novidade. “Eu preciso do transporte coletivo para tudo, como ir à escola, fisioterapia e passear. Porém, o que eu vivi acontece com frequência. Não é algo novo na minha realidade e nem na de quem anda de cadeira de rodas”, lamenta.
Cadeirante desde que nasceu, em razão de uma paralisia cerebral, a estudante passou por outros momentos constrangedores relacionados à locomoção no transporte público. “Quando não tinham os elevadores, eu precisava descer sozinha diariamente. Chegava a levar duas trocas de roupas, porque, ao contrário, iria para o lugar com a roupa suja por ter me arrastado no chão do ônibus”, relembra. “Mas parece que estamos voltando no tempo”, constata.
Eduardo Alves de Mattos, 17, é outro cadeirante que depende do transporte coletivo. Usuário constante de cinco linhas, ele relata que é difícil encontrar um veículo sem nenhum problema de acessibilidade. “Preciso do ônibus para estudar, ir à fisioterapia, casas de amigos e parentes. Então, o que cobramos é uma estrutura melhor, porque eu levo uma vida mesmo estando na cadeira de rodas”.
CONSCIENTIZAÇÃO
Além dos incômodos, os problemas têm trazido outros transtornos aos cadeirantes. “Quando o ônibus está com o elevador com quebrado, o motorista fala para esperar o próximo. Mas tem dia que não dá para esperar”, denúncia Mattos. “Estou cansada de ouvir para aguardar o outro veículo. Só como exemplo de como isso atinge nosso dia a dia, estou chegando sempre atrasada na escola por esse motivo”, reclama Andrade.
Se não bastasse os veículos, a ausência de conscientização da população é apontado como um desafio. Eles afirmam que é comum passageiros se nagarem a deixar o local reservado para deficientes. Existem aqueles que reclamam pela demora do ônibus parado para que possam embarcar ou desembarcar. Enquanto aguardam o transporte, ainda são obrigados a ficar na rua em alguns pontos, já que as calçadas não contam com rampa de acesso.
“Me sinto uma pessoa diminuída e excluída pela sociedade. Busco respeito e dignidade, porque sou um ser humano como qualquer outro. Ninguém pode estar acima dos meus direitos. Não vou parar minha vida por causa do transporte.” defende Ana Paula de Andrade. Aluna do CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos) Herbert de Souza, na região central, ela propôs uma discussão sobre a temática na escola após o constrangimento.
REPRESENTATIDADE
A falta de representatividade da população cadeirante vem sendo um empecilho na busca de proposições para o transporte em Londrina. O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que possui uma comissão que discute sobre acessibilidade, está inativo. O motivo é a falta de representantes da sociedade civil para compor o grupo. De 12 vagas, apenas três estão ocupadas.
Para a presidente do conselho, Solange Maria Ferreira, isso acaba reforçando a ideia de que o avanço obtido até o momento é suficiente. “Precisávamos da criação de uma comissão com vários órgãos municipais e usuários, para poder
pensar em outras formas de acessibilidade. Muitos confundem o direito da gratuidade que o cadeirante possui com questão de se ter um transporte acessível”, pondera.
Ferreira ainda aponta a necessidade do município contar com mais táxis adaptados, que hoje são restritos a apenas
dois. “A convenção do direito da pessoa com deficiência diz que a limitação não é da pessoa, mas do meio. Por isso, precisamos dispor de mais carros preparados para atender o cadeirante. Isso não quer dizer que esse carro será só para esse público, mas que oferece algo mais acessível”.