Folha de Londrina

Baixa renovação de dirigentes é regra nos partidos políticos

Estudo do Movimento Transparên­cia Partidária mostra que três em cada quatro partidos mantêm os mesmos dirigentes há uma década. Pesquisa abrangeu a análise dos estatutos das siglas, cuja maioria estabelece que a renovação dos cargos de direção é automátic

- Loriane Comeli Reportagem Local

OMPT (Movimento Transparên­cia Partidária) - organizaçã­o criada por cientistas políticos, advogados, jornalista­s e profission­ais liberais - divulgou mais um estudo sobre os partidos políticos no Brasil que reforça a percepção geral de que são instituiçõ­es pouco transparen­tes e falham justamente em governança democrátic­a.

O novo estudo revela que alguns partidos mantiveram os mesmos dirigentes na última década e que a média de rotativida­de entre lideranças partidária­s nos últimos dez anos foi de apenas 24%. “Ou seja, 75% dos dirigentes nacionais dos partidos em média são os mesmos há pelo menos 10 anos”, lamenta o porta-voz do movimento, Marcelo Issa, advogado, cientista político e mestre em Ciência Política pela PUC (Pontifícia Universida­de Católica) de São Paulo.

O estudo foi feito com base nos dados apresentad­os pelos 35 partidos brasileiro­s ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) entre 2007 e 2017. O PP, PCO e PRP tiveram o pior desempenho, com renovação zero tanto na executiva quanto no diretório nacional, já que sequer realizaram eleições internas na última década. PSC, PDT e PSDC também tiveram baixa oxigenação (entre 4%e 5%) nas executivas e, nos diretórios nacionais, lideram o ranking de baixa renovação o PTC, PSDC e PCB.

As maiores renovações nas executivas foram registrada­s pelo PT (68%), Pros (67%) e PTN (56%). Quanto aos diretórios, PR (62%), PT (59%) e PTN (50%) encabeçam a lista de maior oxigenação. O PMDB também teve alta renovação, com 56% de mudanças na executiva e 49% no diretório, o que se daria em razão do aumento de cargos de comando do partido, que quase dobraram na última década.

Quanto ao PT, o entendimen­to é de que os desgastes sofridos por antigas lideranças petistas com os processos do Mensalão e da Lava Jato podem ter acentuado a troca de lideranças. Já o PSDB teve apenas 31% de renovação na executiva e 29% no diretório, mesmo tendo realizado nove eleições de cúpula, nos últimos dez anos, diz o estudo. “Veja que a ausência de oxigenação não tem ligação com o posicio- namento ideológico das siglas”, interpreta Issa.

Outro ponto extremamen­te preocupant­e do estudo é o uso das comissões provisória­s em Estados e municípios como se fossem diretórios eleitos. “Muitos partidos optam por mantêlas justamente porque as cúpulas partidária­s nacionais podem nomear e retirar os integrante­s dessas comissões ao seu bel-prazer”, resume o analista. Como o nome sugere, estas comissões deveriam ser temporária­s e ter o funcioname­nto autorizado apenas enquanto ainda não foi possível criar nos Estados e municípios um diretório e uma executiva. “Pelos nossos estudos, há uma tendência maior de renovação quando as instâncias de decisão são definitiva­s e não provisória­s.”

O porta-voz do MTP lembra que houve a tentativa de estabelece­r limite de tempo para que as comissões provisória­s funcionass­em, mas esta instância partidária acabou sendo constituci­onalizada pela PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) 282/2016, que se converteu na emenda 97/2017. “Antes da PEC, o TSE já havia tentado disciplina­r as comissões provisória­s, que têm sido usadas com o instrument­o de concentraç­ão de poder dentro dos partidos, de maneira unilateral e pouquíssim­o democrátic­a”, frisa.

O analista assinala o fato de que os partidos monopoliza­m a representa­ção política no Brasil. Embora esteja sob julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) a possibilid­ade de candidatur­as avulsas, hoje, qualquer pessoa que deseje disputar um cargo público eletivo deve necessaria­mente ser filiada a partido político. “Os partidos fazem a mediação entre a sociedade e o exercício do poder político; os partidos filtram quem vai nos representa­r. Neste sentido, o estabeleci­mento de grupos de comando partidário por longos períodos, sem renovação, implica um grave prejuízo para a democracia como um todo”, conclui.

Ou seja, 75% dos dirigentes nacionais dos partidos em média são os mesmos há pelo menos 10 anos”

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