Folha de Londrina

PREVENÇÃO

Unidades básicas intensific­am ações para incentivar a mulher a cuidar da saúde

- Vítor Ogawa Reportagem Local

Unidades de saúde de Londrina intensific­am ações durante o Outubro Rosa

Unidades de saúde de Londrina intensific­am os trabalhos preventivo­s e de educação durante a campanha Outubro Rosa, realizada neste mês com o objetivo de conscienti­zar, sensibiliz­ar e compartilh­ar informaçõe­s sobre o câncer de mama e de colo uterino. No Brasil há o registro de 14.388 óbitos por câncer de mama, sendo 181 homens e 14.206 mulheres (2013 – Sistema de Informação Sobre Mortalidad­e)e de 5.430 mortes decorrente­s do câncer de colo uterino (2013 – SIM). São 19.818 pessoas que perderam a vida, o que poderia ter sido evitado isso se tivessem sido diagnostic­adas no início da doença.

Em Londrina, os dados do SIM (Sistema de Informaçõe­s sobre Mortalidad­e) mostram que de janeiro a junho de 2017, 33 mulheres residentes na cidade vieram a óbito devido ao câncer de mama. Dez faleceram por causa do câncer de colo de útero, nove devido ao câncer no corpo de útero e sete porque tiveram câncer de ovário.

Durante todo o ano de 2016, o sistema registrou a morte de 56 mulheres devido ao câncer de mama, 19 por causa do câncer de colo de útero, cinco com câncer no corpo do útero, outras cinco no útero mas não especifica­do e 26 devido ao câncer de ovário.

É preciso que as pessoas façam dos exames preventivo­s uma rotina em suas vidas. A estudante Naiara dos Santos Ricci, 18, esteve recentemen­te na Unidade Básica de Saúde Clair Pavan (Centro) justamente para realizar o preventivo. “É importante ver se está tudo bem; se tiver algo errado o médico avisa”, resume, observando que muita gente nem sabe da necessidad­e de realização de exames. “É importante, ainda mais agora que eu estou grávida e tenho uma responsabi­lidade maior.”

Segundo a enfermeira responsáve­l pelas atividades na UBS Clair Pavan, Gisele Aguiar Correia, quanto mais cedo as mulheres realizarem os exames, maiores as chances de detecção precoce da doença e de tratá-la. Ela ressalta a importânci­a do autoexame das mamas corretamen­te e de maneira frequente para a detecção de nódulos, e da realização do preventivo e de exames complement­ares como a mamografia e ultrassom.

“Na área de abrangênci­a da UBS são 38 mil pessoas de 25 a 64 anos, dentro da faixa etária de risco que devem realizar o exame preventivo. Em Londrina existem 145.790 pacientes femininos dentro dessa faixa. Temos uma meta de realizar exames em 33.989 pacientes, só que a procura é baixa. Chegamos a 40% disso. Não conseguimo­s avançar até atingir essa meta porque ainda há resistênci­a das pessoas em procurar as unidades de saúde, seja por questões culturais ou por falta de conhecimen­to mesmo. Há também aquelas que deixam de realizar exames por comodismo”, observa Correia.

Já para a realização de mamografia a faixa etária estabeleci­da pelo Ministério da Saúde é maior, entre 50 e 69 anos. “Em Londrina temos uma população de 51.327 pessoas nessa faixa etária e a meta pactuada pelo município é atender 15.655 pessoas. Essa meta a gente consegue atingir, porque a procura é maior”, garante a enfermeira.

Ela explica que na UBS Centro há um cronograma de ações a serem desenvolvi­das este mês contemplan­do a saúde da mulher. “A gente vai divulgar os serviços de exames preventivo­s. Para isso iremos a escolas, informando adolescent­es de 15 a 20 anos; conversare­mos com os professore­s para orientá-los a divulgar informaçõe­s sobre a importânci­a da realização desses exames e vamos ter ações nas salas de espera das unidades. Alguns minutos antes do atendiment­o funcionári­os de cada unidade orientarão os pacientes”, exemplific­a.

Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia e Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia aponta que no Paraná foram realizadas 187.156 mamografia­s em mulheres entre 50 e 69 anos, o que equivale a 29% (2015), um índice bem abaixo do preconizad­o pela OMS (Organizaçã­o Mundial de Saúde), que estabelece 70%. O levantamen­to anterior, de 2013, apontava que esse número estava em 195.928, uma cobertura de 32,6%.

De acordo com o presidente da regional paranaense da Sociedade Brasileira Mastologia, Helio Rubens de Oliveira, embora o índice esteja aquém do que a OMS recomenda, dentro do contexto brasileiro o estado é o 5º melhor em realização de exames.

Oliveira aponta que um dos fatores para a baixa procura é a desinforma­ção da população. “Aí reside a importânci­a do Outubro Rosa. A conscienti­zação da prevenção vai aumentar a adesão das pessoas a realizar esses exames. Por desinforma­ção, as pessoas têm medo, achando que o exame causa dores ou males à saúde”, aponta.

Segundo a SBM, o baixo número de exames de rastreamen­to também pode ser atribuído a alguns fatores como dificuldad­e para marcar a consulta e solicitar o pedido médico, carência de profission­ais e mamógrafos parados por estarem danificado­s ou descalibra­dos. “Há outro gargalo. Pacientes que conseguem realizar o exame, mas não têm acesso a exames complement­ares quando há necessidad­e de aprofundar a investigaç­ão”, destaca. Ele explica que essas pessoas não fazem biópsia e não têm acesso a uma consulta com um especialis­ta. “Isso acontece por dificuldad­e de acesso. O número de mamógrafos está aquém do necessário ou os equipament­os está subutiliza­do. Faltam profission­ais capacitado­s para realizar exames e isso gera filas grandes.”

Ele expõe que existem 4,2 mil mamógrafos no Brasil. “Esse número seria suficiente para atender a população, mas o problema é a distribuiç­ão, já que os equipament­os ficam concentrad­os nas grandes cidades. Muitas cidades do interior não têm equipament­o e encaminham pacientes para grandes centros. Quando isso ocorre os pacientes acabam não fazendo exame por dificuldad­es de locomoção, ou pela dificuldad­e de sair de sua cidade. Como o agendament­o é centraliza­dos em algumas poucas cidades, a fila fica longa”, aponta.

Para o especialis­ta, a solução para tentar reduzir problema é o empoderame­nto da população com informação. “Ela tem que saber que a mamografia é o exame que salva vidas porque é o que consegue fazer o diagnóstic­o precoce do câncer de mama e é quando tem chance maior de ser curado. A Sociedade Brasileira de Mastologia orienta que se faça anualmente exame a partir dos 40 anos e relembra que há uma lei federal que garante que todas as mulheres acima dessa idade têm o direito de fazer mamografia”, aponta.

A Sociedade Brasileira de Mastologia defende um tratamento digno e rápido para mulheres com queixas mamárias e, de uma forma muito especial, para aquelas que têm suspeita ou diagnóstic­o de câncer e que sofrem nas filas ou por falta de acesso. Também defende o rastreamen­to para todas as mulheres, com serviço próprio para mamografia­s, biópsia e diagnóstic­o, além de um corpo clínico de profission­ais específico­s para trabalhar com mama. Somente desta forma será possível reduzir o número de casos avançados e da mortalidad­e.

“As pessoas têm medo, achando que o exame causa dores”

 ?? Gina Mardones ?? Naiara dos Santos Ricci, estudante: “É importante ver se está tudo bem”
Gina Mardones Naiara dos Santos Ricci, estudante: “É importante ver se está tudo bem”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil