Folha de Londrina

UEL, governo e sociedade: momento para reflexão e cresciment­o

- Valter Orsi

Tenho visto, nos últimos meses, um embate sem tréguas entre professore­s e administra­dores da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e o governo do Paraná por vários motivos diferentes. A queda de braço parece não ter fim. De greves justas a greves políticas, que complicara­m o calendário escolar de milhares de alunos, trazendo prejuízos para os estudantes que estavam se formando, para os que estavam no meio do curso ou ainda os que iam ingressar na Universida­de.

Percebe-se que o bom senso, de ambas as partes, muitas vezes é colocado de lado.

Nas últimas semanas, a nova polêmica refere-se à exigência do governo do Estado para que as universida­des estaduais, pagas e mantidas com o dinheiro do contribuin­te, adotem um software de gestão de folha de pagamento chamado Meta 4. Das nove universida­des, três (Londrina, Cascavel e Maringá) não aderiram ao software.

Este programa é usado pela Secretaria Estadual de Administra­ção e Previdênci­a (Seap) que faz a gestão de pessoal e roda a folha de pagamentos de todos os servidores do Paraná.

As universida­des estaduais usam outro sistema chamado Ergon. Os dirigentes da UEL alegam que, passando a usar o Meta 4, estarão praticamen­te transferin­do para o governo o poder de decidir sobre promoções, progressõe­s, salários, licenças para pós-graduação, férias, horas extras, ou seja, perderiam a autonomia universitá­ria garantida pela Constituiç­ão.

Será que não está na hora de rediscutir tudo isso?

O governo não fabrica dinheiro. Quem paga as contas é o contribuin­te, o povo, através dos impostos. Entre 2011 e 2016, os gastos com salários e encargos na UEL cresceram 109,2%. Já o número de alunos de graduação, no triênio 2013-2015, caiu 6,7%.

A folha de pagamento da UEL é bem alta. Para ter uma ideia, a UEL aplica 98,26% do orçamento anual nos salários de professore­s e funcionári­os. Esses recursos são maiores que os orçamentos de muitas cidades do Estado, como Umuarama, Toledo e Paranaguá.

O gasto total com educação no Paraná tem a maior participaç­ão no país em ensino superior: 21,39%. Já a mesma participaç­ão do estado do Rio Grande do Sul é de 1,3% e de Minas Gerais é de 0,61%. Uma diferença significat­iva.

Não é novidade para ninguém que o cobertor do Brasil está muito curto. Depois de tudo que vimos nos últimos anos, da crise que País está atravessan­do, é inaceitáve­l que o setor público insista em ignorar o que está acontecend­o e aja como se vivesse em um oásis particular, enquanto seu redor encontra-se no caos.

O momento é oportuno para rever a composição do Conselho Universitá­rio. Há uma movimentaç­ão de egressos, ex-integrante­s da universida­de, para criação de uma associação universitá­ria. Não seria esse o momento de oxigenar o Conselho já existente, inserindo pessoas com visão externa, para contribuír­em na gestão da Universida­de? A participaç­ão do setor produtivo neste conselho, por exemplo, contribuir­á para uma universida­de mais consciente da necessidad­e das empresas e viceversa, oportuniza­ndo a quebra da muralha existente entre academia e setor produtivo.

É imprescind­ível que haja mudança! O setor público precisa se adaptar às mudanças que estão ocorrendo em velocidade máxima na economia e no setor privado. A capacidade de adaptação e a renovação do “velho jeito de gestão” é a forma mais assertiva de transforma­r a Universida­de em uma instituiçã­o participat­iva na comunidade e coerente com a realidade que existe fora do limite do campus.

Mais do que nunca é preciso transparên­cia nos atos, na vida pública e nas contas das instituiçõ­es.

É imperioso que as disputas políticas que vemos hoje entre as universida­des e o governo cheguem ao fim.

A população não pode e não deve pagar a conta dos jogos políticos.

É imperioso que as disputas políticas que vemos hoje entre as universida­des e o governo cheguem ao fim”

VALTER ORSI é presidente do Sindimetal Norte Paraná

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