Associação do Paraná apoia general que defendeu intervenção militar
Um grupo de 25 entidades empresariais do Paraná, capitaneado pela Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Ponta Grossa (ACIPG), publicou um anúncio em um jornal dos Campos Gerais exaltando a atitude do secretário de finanças das Forças Armadas, Antonio Hamilton Mourão, que ficou conhecido nos últimos dias por apoiar a intervenção militar no Brasil. O general afirmou que, caso as instituições não consigam resolver o “problema político referente à corrupção”, o Exército poderia “impor uma solução”.
“A política nacional chegou ao nível máximo de tolerância, e exigimos que o Poder Judiciário cumpra com sua função de afastar da vida pública essas pessoas que estão acabando com as riquezas do país. Não podemos mais aceitar que que negociatas políticas permitam que as mesmas pessoas continuem a levar o Brasil à ruína”, diz trecho. “Há conforto em saber que existem brasileiros como ele [Mourão], que ainda se preocupam com a nação e se disponibilizam a lutar pelo futuro. Assim, parabenizamos o general pelas suas palavras e reiteremos o nosso apoio”, completam os signatários.
Além da ACIPG, assinam o documento a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Sociedade Rural, conselhos empresariais e comunitários e sindicatos patronais. O anúncio levou parlamentares da região a se manifestarem publicamente. “A ditadura não é remédio para a corrupção. Muito pelo contrário. A concentração de poder é ambiente propício para o uso do poder em benefício próprio. O sistema democrático de pesos e contrapesos é a única garantia de um sistema institucional de combate a corrupção. Mas nos conforta saber que Ponta Grossa não é isso (…) Não será uma atitude reacionária e condenável que a fará perder a sua alma lutadora e esperançosa”, escreveu o deputado federal Aliel Machado (Rede-PR).
Na Assembleia Legislativa (AL), o assunto também gerou debate. Ex-prefeito do município, Péricles de Melo (PT) emitiu uma nota de repúdio, assinada por membros da oposição e também da base aliada ao governador Beto Richa (PSDB). “Tal apoio significa um incentivo ao fim do regime democrático e a implantação de uma ditadura militar, experiência que, 32 anos depois, os brasileiros não querem passar novamente. Jamais podemos esquecer que a ditadura foi marcada pelo autoritarismo, cassação dos direitos políticos, violação das liberdades individuais, censura e ataque à imprensa, concentração de renda, inflação desmedida, violações aos direitos humanos, controle do poder judiciário, entre outros fatores”, destacaram.
Em discurso, o líder da situação, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), fez coro ao manifesto. “Defender a democracia é o pressuposto de quem participa do processo político. A mim parece que, felizmente, no nosso País o Exército é dirigido por patriotas que não se deixam embalar pelas viúvas que rondam os quarteis (…) Essa Casa de Leis é um Parlamento que representa o povo. Eu me somo publicamente a esse protesto. A democracia é o bem maior da sociedade brasileira e eu certamente, que no final da década de 1970 lutei para o fim da Ditadura, não vou aqui aguentar essa insensatez.”
Já Plauto Miró (DEM) saiu em defesa das entidades. “Tem de se respeitar os segmentos que representam o setor produtivo. Eles têm a opinião deles e eu a minha. Não acredito que cabe ao Brasil [uma intervenção]; as eleições estão aí. Mas o País está numa situação econômica muito difícil, porque os governantes anteriores assina o deixaram. Espero que nosso País possa retomar o caminho do desenvolvimento, da riqueza e da geração do emprego. Coloco aqui: concordo em quase tudo o que foi colocado pelas entidades representativas dos Campos Gerais.”
Essa não foi a primeira vez que a ACIPG gerou polêmica. Em 2014, a associação ganhou destaque no cenário nacional quando propôs a suspensão do direito de voto a beneficiários de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Na época, o presidente da entidade, Nilton Fior, argumentou que não se tratava de uma solicitação de comprometimento dos candidatos: “Simplesmente apresentamos a eles. Nós nos colocamos à disposição para discutir, com maior profundidade, cada uma das propostas”.
FUNCIONALISMO
A AL concluiu ontem a votação do projeto de lei 556/2017, que condiciona o crescimento das despesas primárias correntes do governo, ou seja, o gasto com pessoal, ao índice de inflação acumulada no ano anterior. A proposta recebeu 27 votos favoráveis, 14 contrários e uma abstenção, em terceiro turno. Como houve dispensa da redação final, a matéria agora segue para sanção ou veto do Poder Executivo. Servidores públicos estaduais, contrários ao texto, acompanharam a plenária. Eles alegam que, considerando as projeções do IPCA, a medida vai congelar os salários em 2018 e 2019.