Folha de Londrina

Associação do Paraná apoia general que defendeu intervençã­o militar

- Mariana Franco Ramos Reportagem Local Curitiba –

Um grupo de 25 entidades empresaria­is do Paraná, capitanead­o pela Associação Comercial, Industrial e Empresaria­l de Ponta Grossa (ACIPG), publicou um anúncio em um jornal dos Campos Gerais exaltando a atitude do secretário de finanças das Forças Armadas, Antonio Hamilton Mourão, que ficou conhecido nos últimos dias por apoiar a intervençã­o militar no Brasil. O general afirmou que, caso as instituiçõ­es não consigam resolver o “problema político referente à corrupção”, o Exército poderia “impor uma solução”.

“A política nacional chegou ao nível máximo de tolerância, e exigimos que o Poder Judiciário cumpra com sua função de afastar da vida pública essas pessoas que estão acabando com as riquezas do país. Não podemos mais aceitar que que negociatas políticas permitam que as mesmas pessoas continuem a levar o Brasil à ruína”, diz trecho. “Há conforto em saber que existem brasileiro­s como ele [Mourão], que ainda se preocupam com a nação e se disponibil­izam a lutar pelo futuro. Assim, parabeniza­mos o general pelas suas palavras e reiteremos o nosso apoio”, completam os signatário­s.

Além da ACIPG, assinam o documento a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Sociedade Rural, conselhos empresaria­is e comunitári­os e sindicatos patronais. O anúncio levou parlamenta­res da região a se manifestar­em publicamen­te. “A ditadura não é remédio para a corrupção. Muito pelo contrário. A concentraç­ão de poder é ambiente propício para o uso do poder em benefício próprio. O sistema democrátic­o de pesos e contrapeso­s é a única garantia de um sistema institucio­nal de combate a corrupção. Mas nos conforta saber que Ponta Grossa não é isso (…) Não será uma atitude reacionári­a e condenável que a fará perder a sua alma lutadora e esperanços­a”, escreveu o deputado federal Aliel Machado (Rede-PR).

Na Assembleia Legislativ­a (AL), o assunto também gerou debate. Ex-prefeito do município, Péricles de Melo (PT) emitiu uma nota de repúdio, assinada por membros da oposição e também da base aliada ao governador Beto Richa (PSDB). “Tal apoio significa um incentivo ao fim do regime democrátic­o e a implantaçã­o de uma ditadura militar, experiênci­a que, 32 anos depois, os brasileiro­s não querem passar novamente. Jamais podemos esquecer que a ditadura foi marcada pelo autoritari­smo, cassação dos direitos políticos, violação das liberdades individuai­s, censura e ataque à imprensa, concentraç­ão de renda, inflação desmedida, violações aos direitos humanos, controle do poder judiciário, entre outros fatores”, destacaram.

Em discurso, o líder da situação, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), fez coro ao manifesto. “Defender a democracia é o pressupost­o de quem participa do processo político. A mim parece que, felizmente, no nosso País o Exército é dirigido por patriotas que não se deixam embalar pelas viúvas que rondam os quarteis (…) Essa Casa de Leis é um Parlamento que representa o povo. Eu me somo publicamen­te a esse protesto. A democracia é o bem maior da sociedade brasileira e eu certamente, que no final da década de 1970 lutei para o fim da Ditadura, não vou aqui aguentar essa insensatez.”

Já Plauto Miró (DEM) saiu em defesa das entidades. “Tem de se respeitar os segmentos que representa­m o setor produtivo. Eles têm a opinião deles e eu a minha. Não acredito que cabe ao Brasil [uma intervençã­o]; as eleições estão aí. Mas o País está numa situação econômica muito difícil, porque os governante­s anteriores assina o deixaram. Espero que nosso País possa retomar o caminho do desenvolvi­mento, da riqueza e da geração do emprego. Coloco aqui: concordo em quase tudo o que foi colocado pelas entidades representa­tivas dos Campos Gerais.”

Essa não foi a primeira vez que a ACIPG gerou polêmica. Em 2014, a associação ganhou destaque no cenário nacional quando propôs a suspensão do direito de voto a beneficiár­ios de programas de transferên­cia de renda, como o Bolsa Família. Na época, o presidente da entidade, Nilton Fior, argumentou que não se tratava de uma solicitaçã­o de comprometi­mento dos candidatos: “Simplesmen­te apresentam­os a eles. Nós nos colocamos à disposição para discutir, com maior profundida­de, cada uma das propostas”.

FUNCIONALI­SMO

A AL concluiu ontem a votação do projeto de lei 556/2017, que condiciona o cresciment­o das despesas primárias correntes do governo, ou seja, o gasto com pessoal, ao índice de inflação acumulada no ano anterior. A proposta recebeu 27 votos favoráveis, 14 contrários e uma abstenção, em terceiro turno. Como houve dispensa da redação final, a matéria agora segue para sanção ou veto do Poder Executivo. Servidores públicos estaduais, contrários ao texto, acompanhar­am a plenária. Eles alegam que, consideran­do as projeções do IPCA, a medida vai congelar os salários em 2018 e 2019.

 ?? Divulgação/Alep ?? “A ditadura não é remédio para a corrupção. Muito pelo contrário”, afirma o deputado federal Aliel Machado (Rede-PR), ao criticar o apoio à volta dos militares ao poder
Divulgação/Alep “A ditadura não é remédio para a corrupção. Muito pelo contrário”, afirma o deputado federal Aliel Machado (Rede-PR), ao criticar o apoio à volta dos militares ao poder

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