Brasileiro diz pagar menos propina do que ‘vizinhos’
Levantamento da Transparência Internacional feita em 20 países da América Latina coloca o Brasil em segundo lugar no mapa da propina latino-americano
São Paulo - O Brasil é um antro de corrupção, uma Sodoma e Gomorra da propina, um país onde a cultura do suborno atinge do presidente da República ao favelado, certo? Uma pesquisa da Transparência Internacional em 20 países da América Latina coloca essa percepção em xeque: o brasileiro é um dos que menos pagam propina para ter acesso a serviços públicos como hospitais eé o mais disposto a denunciar a prática, segundo o levantamento feito com 22.302 pessoas em 20 países.
Entre os brasileiros, 11% dizem ter subornado agentes públicos para conseguir serviços como educação, emissão de documentos ou ajuda da polícia. É a segunda menor taxa. O país só perde para Trinidad e Tobago, com 6%.
No extremo oposto do espectro está o México, onde 51% da população diz ter pago propina para ter acesso a serviços públicos.
Na média do subcontinente, um em cada três habitantes da América Latina e Caribe declara ter pago propina para esse fim, segundo o levantamento. O percentual é mais alto entre os mais pobres (30%) do que entre os mais ricos (25%).
“Propina representa um meio de enriquecimento para poucos e uma barreira significativa para ter acesso a serviços públicos essenciais, particularmente para os mais vulneráveis”, diz José Ugaz, presidente da Transparência Internacional.
A entidade, com sede em Berlim, diferencia a grande corrupção da pequena, segundo Fabiano Angélico, consultor sênior no Brasil. A grande corrupção é definida como abuso para se atingir altos níveis de poder. Já a pequena é a negociação ilícita que vira prática cotidiana.
Outro aspecto positivo é que 83% dos brasileiros dizem que pessoas comuns podem fazer a diferença no combate à corrupção. É o maior percentual da pesquisa. Logo abaixo aparecem Costa Rica e Paraguai, ambos com 82%.
O Brasil também atinge a maior taxa na América Latina e Caribe no empenho para levar adiante um caso de corrupção: 71% dizem que passariam um dia num tribunal para relatar desmandos envolvendo suborno. Uruguai (70%) e Costa Rica (66%) aparecem depois do Brasil.
Relatar corrupção é um ato de coragem na América Latina,
LAVA JATO
de acordo com o levantamento. Isso porque quase um terço dos que denunciam suborno (28%) dizem ter sofrido retaliações.
É por essa razão que a Transparência Internacional defende que países como o Brasil adotem políticas públicas para proteger aqueles que apontam casos de corrupção.
POLÍTICOS E POLICIAIS
Políticos e policiais ocupam o topo do ranking daqueles que são considerados os mais corruptos, com 47%. Na Venezuela em crise, a crença de que a polícia é corrupta atinge 73% dos entrevistados. Executivos de empresas (36%) e líderes religiosos (25%) ocupam a parte de baixo dessa tabela.
Há também um aumento na taxa daqueles que acreditam que a corrupção aumentou nos últimos 12 meses: 62% dos entrevistados na América Latina acreditam nessa tendência. A Venezuela lidera o ranking com 87%, seguida por Chile (86%), Peru (86%) e Brasil (78%).
No caso brasileiro, o aumento da percepção está ligado às investigações da Operação Lava Jato, que revelou um esquema que envolve os principais partidos e as maiores empresas do país.