Folha de Londrina

Obstáculos para a biotecnolo­gia

Comunidade científica tem preocupaçã­o sobre como a sociedade receberá novas tecnologia­s usadas na produção de alimentos

- Victor Lopes Reportagem Local

Desde quando a soja RR, da Monsanto, foi aprovada no País pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegura­nça), em 1998, o cenário da atuação da biotecnolo­gia e organismos geneticame­nte modificado­s no agronegóci­o passou por uma revolução. A desconfian­ça - que era marca em relação aos transgênic­os naquela época - gradativam­ente foi dando espaço para o reconhecim­ento da importânci­a deste tipo de tecnologia para a evolução da produtivid­ade no campo. Hoje, é difícil pensar em em agricultur­a eficiente sem produtos que envolvam biotecnolo­gia, desde sementes até a ação de defensivos.

A evolução deste trabalho – o próximo passo – é uma tecnologia chamada CRISPR (do inglês Clustered Regularly Interspace­d Short Palindromi­c Repeats), que significa basicament­e a edição do próprio genoma da planta ou outro organismo, trocando uma base do nitrogenad­a na soja, por exemplo, sem precisar transferi-lo, como é o ca- so dos transgênic­os.

A comunidade científica está preocupada sobre como a sociedade vai receber esta inovação. É bom lembrar que na época de surgimento dos transgênic­os não havia redes sociais como hoje, em que informaçõe­s de todo tipo são disseminad­as, para o bem e para o mal.

Na última semana, foi realizado em São Paulo o I Seminário Internacio­nal Scientific American Brasil – Ciência e Sociedade, com o objetivo de discutir a maior incidência de movimentos anticiênci­a em todo o mundo na sociedade contemporâ­nea, justamente devido a essa pluralidad­e de vozes. Um cenário que pode atrapalhar o desenvolvi­mento da biotecnolo­gia no País, não apenas no agro, mas em outros setores, como a saúde, indústria, meio ambiente, etc.

A diretora-executiva do CIB (Conselho de Informaçõe­s sobre Biotecnolo­gia), Adriana Brondani, conversou com a FOLHA sobre a nova tendência mundial de refutar a ciência e como isso pode atrapalhar o agronegóci­o. “Temos uma dificuldad­e de entendimen­to do papel da ciência pela sociedade e essa descrença (na ciência) ficou ainda mais forte porque várias pessoas estão falando ao mesmo tempo. Houve uma mudança na forma

de comunicaçã­o, as ferramenta­s digitais. E a ciência precisa acompanhar isso para que ela se faça entender. É um novo cenário e precisamos nos inserir nele.”

Brondani relembra dos transgênic­os, saindo de um pessimismo, de rejeição, inclusive na agricultur­a, para uma “percepção mais favorável”. “Não acredito que demoramos para mudar esse cenário pois estávamos falando de uma tecnologia inovadora. É natural que as pessoas tenham dificuldad­e de entendimen­to, foi um tempo

importante, inclusive para passar segurança a elas. Hoje temos uma número enorme de empresas ligadas à biotecnolo­gia que mostram ao consumidor sua importânci­a em todas as áreas.”

No caso da CRIPR, a diretora acredita que a sociedade, mesmo com essa pluralidad­e, pode absorvê-la de forma mais tranquila, até pelo histórico dos transgênic­os. “É claro que a informação precisa ser contínua, mas como já existe um histórico de inovação oriunda da biotecnolo­gia, isso fica mais fácil. Temos cases de sucesso ao longo desses 20 anos de evolução. Já se mostrou segurança e o que aconteceu com a produção agrícola faz com que as pessoas fiquem muito mais familiariz­adas com tudo isso.”

Temos uma dificuldad­e de entendimen­to do papel da ciência pela sociedade”

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