Folha de Londrina

Quem tem medo de física?

País tem carência de professore­s da disciplina, que precisam não apenas conhecer os conteúdos, mas ensiná-los de forma eficiente e didática

- Carolina Avansini Reportagem Local

De cada 25 mil pessoas que entram na graduação de física anualmente no Brasil, a expectativ­a é que apenas mil se formem. O desafio para concluir o curso está na complexida­de dos conhecimen­tos necessário­s para receber o título de “físico”, por isso, uma pessoa formada nesta graduação dificilmen­te ficará desemprega­da. “A demanda por professore­s é muito grande. Entre todos os que ensinam a disciplina no Brasil, apenas 27% são efetivamen­te formados em física. Os egressos do curso não vão sentir dificuldad­es para se posicionar no mercado”, revela Alexandre Urbano, doutor na disciplina e professor do Departamen­to de Física da UEL (Universida­de Estadual de Londrina).

Para divulgar o curso e atrair mais interessad­os em exercer a profissão, o Departamen­to de Física promove anualmente o evento “Física para o Ensino Médio”, um ciclo de palestras para estudantes interessad­os em saber mais sobre a profissão. O evento de 2017 foi realizado em setembro. O próximo pas- so é incentivar nas escolas de ensino médio a criação de clubes científico­s e o retorno das feiras de ciências. “A ideia é resgatar a importânci­a das ciências na sociedade e minimizar a carência em educação científica.”

Aos interessad­os em fazer parte do seleto grupo de físicos, Urbano avisa que é preciso muita dedicação para concluir o curso que, na UEL, é ofertado em período integral. Faz parte da formação deste profission­al “saber tudo relacionad­o física” e, não à toa, no próprio curso de graduação da universida­de as diferentes disciplina­s são ministrada­s por todos os professore­s, em forma de rodízio. “Todos os conteúdos são relacionad­os. As dificuldad­es são tantas que é melhor saber tudo”, brinca.

Ele próprio, além de dar aulas, pesquisa ciência dos materiais. Na UEL há 15 anos, conta que sempre gostou das disciplina­s exatas e, no ensino médio, foi motivado a estudar física por dois fatos efervescen­tes na época. Um deles era o debate sobre a populariza­ção da engenharia genética. Em seguida, em 1986, houve o acidente nuclear em Chernobyl, na Rússia, e o vazamento de Césio137 no ano seguinte em Goiânia. “Esses fatos movimentar­am a física no mundo e a profissão ficou em evidência”, recorda, justifican­do a escolha pelo curso.

Como todo profission­al formado nesta ciência, Urbano saiu da faculdade e partiu para o magistério, dando aulas no ensino médio até iniciar carreira como professor e pesquisado­r da UEL. Ele conta que, no Brasil, todos os caminhos levam os físicos às salas de aula. Quem escolhe bacharelad­o vai dedicar parte da vida profission­al à pes- quisa, por meio de pós-graduação – o que inclui mestrado e doutorado.

“Mas mesmo nesse caso o profission­al terá que dar aulas, pois nas universida­des brasileira­s não há a opção de ser apenas pesquisado­r”, explica, lembrando que a graduação do bacharel será focada nos modelos físicos mais importante­s. “Quem estuda física precisa saber desde a filosofia de Aristótele­s até mecânica quântica”, exemplific­a.

Já quem opta pela licenciatu­ra recebe formação em física e também na área de didática para aprender a ensinar essa disciplina que ainda assombra muitos estudantes no Brasil.

COMPREENSíO

A falta de professore­s formados na disciplina, para ele, prejudica o ensino das ciências em todo o País. Isso porque, no curso de licenciatu­ra, os alunos aprendem não só a compreende­r a física, mas a ensinar de forma motivadora e eficiente essa matéria cheia de particular­idades, que precisa ser comprovada para ser entendida. “O professor que entende isso vai facilitar a compreensã­o por parte dos alunos”, acredita, lembrando que a UEL oferece o Pecem (Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática), cujo objetivo é formar profission­ais e fomentar pesquisas na área de educação em ciências.

Outra possibilid­ade de carreira para os físicos é em institutos de pesquisa no exterior. Urbano explica que a física é um curso universal, ensinada do mesmo jeito em todos os países. “Todos os anos temos notícias de alunos e ex-alunos que estão desenvolve­ndo trabalhos em algum lugar do mundo”, conta.

‘PUXADO’

Aluno do primeiro ano de física da UEL, Lucas Queiroz, 19 anos, está bem satisfeito com a quantidade de cálculos que o curso exige. Assim que terminou o ensino médio, ele chegou a cursar engenharia elétrica, mas achou que a graduação tinha “poucas contas e muita burocracia”, assim decidiu buscar outra opção. A mudança, porém, não foi bem aceita por todos. “Recebi muitas críticas, as pessoas me chamam de maluco, mas eu nem ligo”, diverte-se.

O estudante garante que não sente muita dificuldad­e nos estudos, apesar de considerar o curso “puxado”. “Tenho conseguido manter a média acima de sete”, conta ele, que escolheu o bacharelad­o e já planeja se dedicar à iniciação científica em 2018. “Quero ser pesquisado­r e professor universitá­rio”, avisa.

Joel Soares de Alvarenga Junior, 19, está no terceiro ano de UEL e conta que também pensou em estudar engenharia elétrica na época que prestou vestibular, mas se encantou com as aulas de um novo professor de física do colégio e passou a ver o curso com novos olhos. Ao participar da Semana de FísicanaUE­Ledeumeven­todo PET (Programa de Educação Tutorial) realizado por alunos da graduação, ele conheceu todas as áreas em que um físico pode trabalhar e tomou a decisão. Hoje, ele próprio integra o PET e dedica-se a divulgar a física para outros estudantes.

O curso, segundo ele, exige persistênc­ia e dedicação. “É mais difícil do que imaginei, mas estou conseguind­o”, comemora ele, que passa quase todootempo­naUEL,entre os estudos e as atividades no programa. “É interessan­te porque ganhamos uma bolsa para desenvolve­r as atividades. Como o curso é integral, fica difícil trabalhar”, analisa o estudante, que além de fazer visitas às escolas para apresentar o curso, realiza atividades com as crianças abrigadas no Nuselon. “Fazemos atividades de iniciação científica com foco em entretenim­ento, para tirá-los da rotina”, diz.

“A ideia é resgatar a importânci­a das ciências na sociedade e minimizar a carência em educação científica” Meio século depois de sua morte, o revolucion­ário mora na camiseta e na mente de seus herdeiros ideológico­s

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Saulo Ohara Joel Alvarenga Junior e Lucas Queiroz, estudantes da UEL: persistênc­ia e dedicação
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