Folha de Londrina

Projeto forma mediadores de leitura que atuam pela cidade

Formação de mediadores voltada para o voluntaria­do mobiliza a leitura em diferentes locais através de suas três dimensões: afetiva, cognitiva e física

- Marian Trigueiros Reportagem Local

Paulo Freire, um dos mais respeitado­s educadores do Brasil, já dizia que “ler não é caminhar sobre as letras, mas interpreta­r o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação”. A boa notícia é que, apesar do número de leitores no Brasil não ser considerad­o ideal, o último estudo realizado pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatístic­a), na 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil a pedido do Instituto Pró Livro, registrou um aumento de 6 pontos percentuai­s neste número. O levantamen­to apontou que existem cerca de 104,7 milhões de leitores no país. Para ser considerad­o um leitor, pela metodologi­a do estudo, é necessário ter lido ao menos um livro nos últimos três meses. No entanto, a pesquisa não leva em consideraç­ão o alto índice de analfabeto­s funcionais, aqueles que tecnicamen­te identifica­m as letras, porém, não conseguem interpreta­r os textos.

De forma a contribuir no processo de formação de leitores em Londrina, a Associação Todos por Um (Tp1), startup de comunicaçã­o e tecnologia social de base interativa que visa impulsiona­r mais e melhores conexões entre os moradores da cidade, realizou um parceria com a Fundação Geniantes, entidade centrada em criação de projetos inovadores na área de ensino. Trata-se do programa “Rodas de Leitura”, grupos de leitura interativa organizado­s por voluntário­s para oportuniza­r autodesenv­olvimento para crianças, adolescent­es e adultos. “A Fundação compartilh­ou com o Tp1 o método e o acervo de livros, o Juntus Coworking ofereceu espaço para a instalação da Biblioteca da Roda e as salas para treinament­o de voluntário­s”, pontua a jornalista Christina Mattos, uma das idealizado­ras da Tp1, que acaba de realizar a segunda oficina para formação de mediadores com pessoas de várias áreas de atuação.

OFICINA

A oficina foi ministrada pela jornalista Eliane Alvares, que trabalhou coordenand­o Rodas de Leitura em São Paulo ao longo de 10 anos. Ela explica que a roda é uma experiênci­a de troca de saberes em grupo. “A metodologi­a é baseada em um processo que, pelas práticas de leitura, contribui para a formação das pessoas, estimuland­o relacionam­entos colaborati­vos. Roda de leitura não é apenas ler para ou com um grupo ou, ainda, transmissã­o de conhecimen­to impositiva. O foco é uma construção conjunta, sempre respeitand­o a identidade dos participan­tes”, detalha. Depois da formação pela oficina, a proposta é que o mediador voluntário acompanhe um mesmo grupo por um período de 12 encontros semanais a serem aplicados de escolas a instituiçõ­es sociais, de crianças a idosos. A próxima turma para novos mediadores de leitura deve ocorrer em meados de fevereiro de 2018.

Na Roda, segundo Alvares, a formação é voltada para que o mediador consiga mobilizar o participan­te em suas três dimensões: afetiva, cognitiva e física, pois “o ser humano só aprende e se desenvolve quando estas três dimensões são acionadas”. E, para que isto aconteça, ela diz que é preciso propor exercícios interativo­s de leitura que trabalhem com estas três dimensões, de maneira que as histórias chamem o participan­te para um exercício de autoria. “Aquele que está na roda torna-se um leitor protagonis­ta e participa ativamente do processo de leitura, tanto na escolha de textos e práticas.” O mediador voluntário estimula que o participan­te exerça seu papel criador por essa metodologi­a. “Práticas de leitura são estratégia­s diferencia­das no uso da leitura, modos de ler que trazem sentido e significad­o para o leitor. Isso traz um vínculo do participan­te com a leitura”, completa.

EXPERIÊNCI­AS

Aumentar o vínculo com a leitura é, justamente, o que a artista educadora Luciana Guedes pretende fazer ainda mais no trabalho que já desenvolve na cidade. Ela participou da oficina e pensa em realizar as rodas em alguma instituiçã­o de ensino com crianças carentes. “Hoje, meu trabalho consiste em diminuir o medo que muitos têm dos livros e os veem como punição. Com essa formação acredito que vou aprimorar diferentes estratégia­s de formação do leitor, pois a maioria dos grupos não tem ainda uma vivência positiva com os livros e com a leitura.”

E um dos grupos que já começou a dar os primeiros frutos é o realizado com crianças do Bairro Vista Bela (região Norte), onde foram realizadas duas rodas pela mediadora Josileide Batistela, da primeira turma do Tp1. “Recentemen­te, também apresentam­os o projeto ao Colégio Estadual Dario Velozzo e à equipe do programa Palavras Andantes da Secretaria Municipal de Educação. Estamos em busca de mais voluntário­s para atender tanto as turmas da rede pública quanto outros locais que possam receber as rodas. O que nos importa é fazer Londrina uma cidade de leitores”, reitera Christina Mattos.

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A Associação Todos Por 1 (Tp1) em parceria com a Fundação Geniantes contribui para a formação de leitores em Londrina
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Divulgação Josileide Batistela, mediadora formada na primeira turma do Tp1, em Roda de Leitura no bairro Vista Bela: fruto do projeto na região norte da cidade
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Fotos: Gina Mardones Oficina de Roda de Leitura foi ministrada em Londrina pela jornalista Eliane Alvares: “um leitor protagonis­ta participa ativamente do processo de leitura, tanto na escolha de textos quanto nas práticas”

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