Mais de 85% dos paranaenses moram em 1,9% do território
Áreas consideradas urbanas no Brasil concentram 190,7 milhões de pessoas
Mais de 85% da população mora em uma área equivalente a 1,9% do Paraná. A concentração urbana, no entanto, não é exclusividade do Estado. Em todo o País, a taxa de densidade demográfica urbana é de 2.969 habitantes por km². A taxa paranaense é uma das menores do País. São 2.355 hab/km². Isso significa que o Estado, diferentemente de outras unidades federativas, não conta com grandes aglomerados urbanos. As exceções são municípios da Região Metropolitana de Curitiba. A capital paranaense, por exemplo, possui 4.027 hab/ km². Em Londrina, a taxa é de 2.793 hab/km².
As áreas consideradas urbanas no Brasil representam menos de 1% do território nacional (0,63%) e concentram 190,7 milhões de pessoas - 84,3% da população brasileira. Os dados são do mais detalhado trabalho de identificação de áreas urbanas já feito no País. Executado por profissionais da Embrapa Gestão Territorial (SP), o estudo “Identificação, mapeamento e quantificação das áreas urbanas do Brasil” levou três anos para ser concluído e exigiu observação minuciosa de centenas de imagens de satélite.
O analista de geoprocessamento da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gestão Territorial, André Farias, explica que a pesquisa surgiu da necessidade de delimitação melhor das áreas urbanas dos municípios. Segundo ele, o órgão responsável por esse trabalho é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que para realizar o censo demográfico divide o País em setores censitários rural e urbano.
“No entanto, a definição que o IBGE utiliza do que é urbano ou rural precisa respeitar a divisão oficial do perímetro urbano. E tudo o que está fora desse perímetro urbano é considerado rural. Aí entram questões de locais em que incidem o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural). Observamos que existiam diferenças entre os limites censitários urbano e rural ao analisarmos as imagens de satélite”, apontou.
Os pesquisadores da Embrapa, portanto, queriam saber da forma mais exata possível o que é urbano e o que é rural. “Isso foi tema de debate entre os pesquisadores e chegamos à conclusão que o urbano é possível reconhecer na imagem por satélite uma concentração de residências, arruamentos, loteamentos ou concentração de indústrias urbanas. A gente adotou o ponto de vista estritamente físico”, explicou.
Segundo Farias, hoje existem muitas propriedades com características urbanas em áreas rurais e isso é relevante para o planejamento de políticas públicas de infraestrutura e serviços urbanos. “A distorção que havia antes podia atrapalhar esse planejamento de politicas públicas direcionadas às cidades. Com esse novo estudo temos a realidade concreta que compõe a situação dos municípios”, decretou.
A pesquisa aponta o percentual de área urbana em relação à área total do município. Em Londrina, o percentual é de 10,7%, o que o coloca em 17º lugar nesse quesito no Estado. Em Curitiba, a área total está quase toda tomada pela população urbana e esse percentual atingiu 94,7%. Na Região Metropolitana de Londrina, Ibiporã aparece com 6,79%, Cambé está com 6,71% e Rolândia está com 6,12%. Em Maringá, o índice é de 25,57%.
“Não fizemos análise de cada Estado, mas pela pesquisa é possível constatar que em Curitiba não há mais possibilidade de expansão da cidade e se houver crescimento demográfico tem que ser absorvido pelo processo de verticalização de prédios residenciais e comerciais. Em outros municípios há várias possibilidades de expansão da área urbana em áreas rurais, mas esse estudo precisa ser aprofundado”, apontou Farias.
O diretor de pesquisa do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), Daniel Nojima, aponta que a existência de espaço para uma possível expansão urbana não significa necessariamente que ela vá acontecer. “Isso é a demografia que vai dizer. Talvez Maringá seja uma exceção daqui para frente, pois ela tende a ficar menos distante da população de Londrina. Já o município de Londrina tende a ter uma estabilidade maior, apesar de possuir ainda muito espaço para expansão. O crescimento da área urbana também está vinculado à capacidade de crescimento econômico dos municípios, o que pode fomentar crescimento demográfico, mas não é o que a gente vem percebendo nos municípios médios. A não ser que aconteçam episódios de forte crescimento, como em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), por conta da forte industrialização.
Se até a década de 1970 o eixo de desenvolvimento ficava na parte norte do Estado, é possível ver que esse processo está concentrado na última década na Região Metropolitana de Curitiba e, nos últimos anos, a maior taxa de crescimento populacional urbano se espalhou e tem se desenvolvido no Oeste, Sudoeste e parte do Sul do Estado, além de crescer em escala menor na Região Norte do Paraná. Nojima explica que a tendência de crescimento aponta para regiões com processos urbanos um pouco mais consistentes. “No Estado acontecem migrações internas. Em regiões como o Norte Pioneiro, a região central, por exemplo, há uma tendência de envelhecimento da população, enquanto a Região Metropolitana de Curitiba e cidades como Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçu tendem a atrair mais a população de cidades próximas”, destacou.
Segundo ele, a pesquisa da Embrapa, diferentemente da pesquisa do IBGE, enxerga dentro dos municípios. “Quando se pensa em saneamento, distribuição de energia elétrica e até questões de saúde é importante ver a densidade demográfica. Alguns serviços exigem escala e seu planejamento pode depender desses dados”, apontou.