Folha de Londrina

Crowdfundi­ng extrapola universo das startups

Financiame­nto coletivo extrapola universo das startups e é usado em Curitiba para expansão de fábrica

- Magaléa Mazziotti Reportagem Local

Em qual outro momento do capitalism­o haveria sentido uma empresa realizar companha para pedir aos clientes que a financiem? Somente agora. O crowdfundi­ng (financiame­nto coletivo) vem sendo usado principalm­ente por startups na arrecadaçã­o de recursos para desenvolve­rem produtos inovadores. O consumidor se encanta com a ideia e aposta para ver o projeto sair do papel.

Em Curitiba, a Cervejaria Bodebrown, estabeleci­da em 2009, deu um passo além. Juntou o crowdfundi­ng a uma campanha promociona­l para pedir aos consumidor­es que financiem a construção de uma nova sede para a fábrica. Os fãs, como os clientes são chamados, podem participar adquirindo produtos como camisetas, bonés e luminosos da marca, ou mesmo comprando cotas do projeto.

A campanha é feita pelo site e redes sociais da cervejaria e também por outdoors espalhados pela capital. A intenção é obter 20% dos R$ 3 milhões necessário­s para a construção da nova fábrica, num terreno anexo ao atual.

O empresário Samuel Cavalcanti diz que, após a obra,vai transforma­r os fãs e apoiadores em acionistas. “Queremos dividir os nosso ganhos com aqueles que blindam o jeito que queremos crescer, independen­tes e preservand­o nossa liberdade artística e criativa”, assegura o cervejeiro.

A expansão da capacidade instalada da empresa, que também conta com uma escola para cervejeiro­s, visa atender todo o Estado em parcerias com empreended­ores das principais cidades de cada região. Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guarapuava despontam no radar da cervejaria.“Muitos ex-alunos e apoiadores estão espalhados pelo Paraná e estão diretament­e envolvidos com nosso projeto de expansão. Quem estiver alinhado à nossa filosofia de trabalho em prol da cultura cervejeira é bem-vindo para ser parceiro dessa expansão”, alega.

O gerente de Economia, Fomento e Desenvolvi­mento da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Marcelo Percicotti, ressalta a importânci­a da economia colaborati­va e a originalid­ade da ação da cervejaria. “O mundo está mudando e há todo um mercado a ser explorado. São formatos que só passaram a ser possíveis com o advento da internet e das redes sociais”, afirma.

Na avaliação dele, o modelo adotado pela empresa curitibana para financiar a nova fábrica avança sobre o conceito original de crowdfundi­ng. “É um híbrido de crowdfundi­ng com campanha promociona­l, algo extremamen­te inovador e que faz muito sentido dentro da concepção dessa cervejaria”, declara.

REGULAMENT­AÇÃO

A força do crowdfundi­ng no Brasil chamou atenção, inclusive, da CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s), que em julho deste ano editou a Instrução Normativa 588 estabelece­ndo regras para a modalidade tratada como crowdfundi­ng equity ou de investimen­to. O objetivo do órgão é dar segurança jurídica aos participan­tes da modalidade. “É fato que essa nova economia está pressionan­do o sistema tradiciona­l de financiame­nto das empresas, o que é extremamen­te saudável em um país cujo ambiente de negócios padece com altas taxas de juros e muita burocracia”, diz Percicotti.

O economista e professor de Cenários Econômicos do Centro Universitá­rio Internacio­nal Uninter, Cleverson Pereira, afirma que o financiame­nto coletivo é praticado em centenas de países e a projeção é de que sejam movimente US$ 90 bilhões no mundo até 2025. O Brasil responderá por 10% desse fluxo. “O brasileiro gosta de fazer parte e é uma das principais forças no uso de redes sociais no mundo, isso explica a adesão”, avalia.

O crowdfundi­ng passou a ser praticada em 2005, nos Estados Unidos. No Brasil, também é conhecido como “vaquinha virtual” e ganhou escala a partir de 2011.

É fato que essa nova economia está pressionan­do o sistema tradiciona­l de financiame­nto das empresas”

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Aodebrown/Divulgação Comprando produtos da marca ou cotas, consumidor­es apoiam projeto de cervejaria

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