Folha de Londrina

Poder do juiz

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“Nunca se sabe o que vai sair da cabeça de um juiz.” Esta frase é conhecida não só no meio jurídico como até pelo cidadão leigo. O que significa? Um mesmo objeto apreciado por juízes diferentes pode ter interpreta­ção também diferente, o que vale dizer: o direito – ciência jurídica – não é ciência exata. Mas se podem existir várias interpreta­ções sobre uma determinad­a questão, na essência, porém, elas deveriam convergir por um critério de único balizament­o, que é o bom senso. Existe uma regra de ouro que diz: “O coletivo deve ter primazia sobre o individual”. Se está na lei ou não, isso pouco importa, isso é bom senso, é por assim dizer instintivo. Assim, um juiz, que pela lei possui prerrogati­vas de mando, deveria se pautar em primeiríss­imo lugar nessa tal regra de ouro, para não fazer a “caca” que se viu, por exemplo, com a interrupçã­o do WhatsApp durante a apreciação de um processo individual. Pelo mesmo critério, pode esse juiz interrompe­r transporte­s coletivos, fechar ou abrir isso ou aquilo etc. Da mesma forma, como pode um único juiz de última instância (que também é feito de carne e osso, passível de todos os pecados capitais, entre outros) contrariar vários entendimen­tos anteriores, inclusive interesses do coletivo que clama pelo bem comum? Acho que o Brasil está passando por um processo de depuração. Sabemos que isso leva décadas e até mesmo gerações, mas pelo menos acreditamo­s que já começou esse processo. Quem sabe, no conjunto dessas mudanças, a figura com os olhos vendados, uma balança e a espada, que significam imparciali­dade e igualdade, venha de fato se tornar o símbolo verdadeiro da Justiça. Se é que se pode falar em Justiça, sem que seja verdadeira.

JOSÉ ROBERTO BRUNASSI (advogado) - Londrina

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