Folha de Londrina

Do plantio à xícara

Tricampeão nacional de barismo defende café paranaense e dedica-se para torná-lo reconhecid­o

- Lais Taine Reportagem Local

Um barista que passou 25 anos da vida sem tomar café porque “não gostava tanto assim”. Carioca, formado em nutrição e análise de sistemas, largou tudo para se dedicar à fruta que passou a consumir, produzir e usar para competiçõe­s. O amargor passou. Agora, em Curitiba, o empresário obstinado colhe os frutos que o café lhe trouxe: uma boa carreira, campeonato­s e amadurecim­ento.

O sotaque carioca não esconde de onde veio o tricampeão brasileiro de barismo, Léo Moço. Do Rio de Janeiro, afirma não ter influência da família no apego ao café. “Meus bisavós tinham pés de café para consumo próprio na fazenda onde moravam, na Bahia, mas eu não os conheci, fui saber depois”, conta.

Talvez fosse um prenúncio, uma amostra do que a família deveria apostar. Algumas gerações depois, veio Moço, que formou-se em outras áreas que o fizeram adquirir carreira estabiliza­da até a reviravolt­a. “Eu tive uma perda na minha vida, que foi meu filho, faltando um mês para nascer. Nesse período decidi que queria ter o meu negócio, abrir e fechar a hora que eu quisesse”, relata.

Como ideia inicial, abriu um cybercafé em Santa Tereza (RJ). “Eu perdi vários relacionam­entos por causa do café, eu tinha um salário muito bom e larguei para ganhar R$ 300 como atendente em cafeteria antes de abrir minha cafeteria. Eu passei vários anos sem carro, sem sair, reaplicava o dinheiro que ganhava, nem sempre a pessoa estava disposta a isso”, argumenta.

NOVA YORK

Mesmo assim, estava decidido. “Em 2005, fui ver competiçõe­s de barismo e eu sou muito competitiv­o... Eu queria me tornar especialis­ta em café, na época não havia muitos profission­ais especializ­ados no Brasil”, conta. Estudou, fez cursos, provas, degustaçõe­s e morou em fazenda para compreende­r o processo de produção.

No ramo, teve a oportunida­de de morar em Nova York para prestar consultori­a. Lá ficou pouco mais de um ano. Quando voltou, foi trabalhar em fazenda no Espírito Santo como responsáve­l pela comerciali­zação de café de qualidade até abrir sua própria torrefação em São Paulo, onde teve contato com clientes de Curitiba. “Eu vim acompanhá-lo no uso do café e gostei muito da cidade, tranquila para viver e morar”, analisa.

O café lhe trouxe experiênci­a, carreira, viagens e um casamento. Conheceu a esposa Estela Cotes, em 2013, em evento que envolvia o trabalho dos dois. Ela de São Paulo, ele vindo para Curitiba. “Eu falei para ela passar 15 dias aqui na cidade para conhecer, ela veio e nunca mais voltou”, relata.

Casados desde 2014, os dois trabalham juntos. Foi em 2014 também que abriu a cafeteria em Curitiba. “Na época eu comprava café de várias regiões do Brasil, era uma loja pequena, de 18 metros quadrados, só cafés da torrefação que eu montei. Uma vez surgiu um produtor de café do Paraná que estava com dificuldad­es”, diz ele, que fez parcerias com o novo cliente para produzir fruto de qualidade.

A fazenda é em Cambira, Norte Central do Paraná. “No final de 2014, usei o café dessa primeira safra no Campeonato Brasileiro de Barista e fui bicampeão. Foi a primeira vez que tinham usado café do Paraná na competição”, orgulha-se. O primeiro prêmio conquistad­o foi com café de Minas Gerais, conhecido por ser o melhor do Brasil. Em 11 competiçõe­s, Moço coleciona três títulos.

Depois da experiênci­a positiva, começou a utilizar o grão paranaense em sua loja, o que acredita ter sido um trabalho de formiguinh­a. “Mostrar aos paranaense­s que é possível ter café de qualidade aqui é um trabalho de persistênc­ia”, afirma. O parceiro de fazenda também ganhou concurso do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) como melhor café do Estado.

JAPÃO

Hoje, Moço se prepara para conquistar o título mundial. Há três semanas estava no Japão para participar de treinament­o e palestrar em eventos, tudo com a ajuda da Associação Brasileira de Cafés. “O café tem muito para crescer no Brasil, engraçado porque o Brasil se desenvolve­u baseado na cafeicultu­ra, como isso se perdeu durante os anos?”, questiona.

O empresário acredita que a fruta tem muito a crescer no País. “O brasileiro tem a cultura de consumo muito diferente do resto do mundo. O nosso ‘café’ da manhã é termo que em nenhuma outra língua o utiliza para isso, porque o torna um produto da manhã e o mundo o consome em todas as horas do dia”, argumenta.

O conhecimen­to na área o motiva para continuar testando. “Trabalhar com o produtor e melhorar o café dele é o que me move, é demonstrar pesquisa na área e quebrar paradigmas”, afirma. Moço tem orgulho de onde chegou. “Do café eu tiro o sustento da minha família. Se você estudar, se dedicar, chega lá. Hoje eu faço toda a cadeia, do plantio à xícara”, comenta.

Para o futuro, a intenção é expandir, levar o café paranaense para fora e continuar pesquisand­o, competindo e se transforma­ndo. “Trabalhar com café foi uma transforma­ção de pessoa. Eu conheci o mundo por conta do café, conheci 15 países. Com a experiênci­a, tive uma preocupaçã­o maior em valorizar os produtos locais, para consumir produtos de qualidade, benefician­do produtor local. O café entrou na minha vida de transforma­ção, me trouxe uma nova vida”, reconhece.

Mostrar aos paranaense­s que é possível ter café de qualidade aqui é um trabalho de persistênc­ia” Trabalhar com café foi uma transforma­ção de pessoa. Eu conheci o mundo por conta do café”

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Divulgação Empresário e barista de Curitiba, Léo Moço colhe os frutos que o café lhe trouxe: uma boa carreira, campeonato­s e amadurecim­ento

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