Folha de Londrina

Inflação abaixo da meta indica que BC subestimou recessão

Economista­s afirmam que variação de preços abaixo da meta indica demora do Banco Central para reduzir juros e favorecer recuperaçã­o econômica

- Fábio Galiotto Reportagem Local

O Banco Central projetou para 2017 variação de preços ao consumidor de 4,5% ao ano, podendo oscilar entre 3%e 6%, mas há poucos fatores que apontam que o piso será atingido. De janeiro a setembro, a inflação pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 1,78%. Representa­ntes de entidades do setor produtivo afirmam que houve conservado­rismo e demora nas reduções na taxa básica de juros, a Selic, o que mostra que o órgão contribuiu para atrasar a recuperaçã­o econômica

Ainflação pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de janeiro a setembro ficou em 1,78% e há poucos fatores que apontem que o indicador chegará ao piso da meta estabeleci­da pelo BC (Banco Central) para 2017. A meta deste ano é 4,5% ao ano, podendo variar até um e meio ponto porcentual para baixo ou para cima, ou seja, de 3%a 6%. Para representa­ntes de entidades do setor produtivo e que representa­m trabalhado­res, houve conservado­rismo e demora nas reduções na taxa básica de juros, a Selic, o que indica que o órgão subestimou a baixa da demanda causada pela recessão e contribuiu para atrasar a recuperaçã­o econômica.

Para chegar ao piso de 3%, o IPCA do último trimestre precisa somar 1,22%, muito quando comparado aos 1,78% dos outros nove meses do ano. Fatores como a deflação do preços dos alimentos, causada por supersafra­s, a própria crise econômica e a instabilid­ade política ajudam a explicar o índice baixo, mas também precisam estar no radar do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que define a Selic, conforme analistas.

Um dos motivos para a inflação cair é a baixa demanda, algo consideráv­el em um País com 13,1 milhões de desemprega­dos, conforme dados sobre agosto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a). As famílias seguem com poder de compra reduzido e somente nos últimos meses o consumo deu leves sinais de recuperaçã­o.

Para o economista Roberto Zurcher, da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), o avanço da economia poderia ser maior hoje se o Copom tivesse antecipado a redução da Selic. “Não sei se somente o BC subestimou a crise, porque ninguém esperava um cenário tão grave”, diz. “Não é que os juros poderiam ter caído mais, mas houve demora em começar a baixar as taxas, cujo reflexo no mercado apa- rece depois de nove meses”, completa.

Zurcher faz a ressalva de que o País vem de dois anos de inflação alta, com 10,67% em 2015 e 6,28% em 2016, o que pode explicar o conservado­rismo. “Não é a taxa de juros que vai corrigir os problemas, porque a ociosidade do setor produtivo continua alta, mas se tivesse sido antes, teríamos outra situação. Agora é preciso que o mercado reaja, porque não vamos vender mais carros somente porque houve redução na taxa, por exemplo.”

O presidente do Sindicato dos Economista­s de Londrina, Ronaldo Antunes, considera que o BC subestimou a recessão. “Ocorreram erros na hora de dosar a mão na política de juros, não só porque a inflação baixa indica menor atividade econômica, mas porque estamos pagando juros reais médios de 8% ao ano”, diz. Ele se refere à diferença entre a média da Selic de janeiro a agosto, de 9,15%, e o IPCA de 1,78% do mesmo período. “Isso mostra que a velocidade da queda de juros não foi tão rápida quanto a da inflação e que continua a valer mais a pena deixar o dinheiro no mercado financeiro do que investir em produção, porque é difícil conseguir retorno de 8%.”

Tanto se fica acima quanto abaixo do intervalo estipulado para a meta, o BC precisa explicar os motivos para o Ministério da Fazenda, o que Antunes diz que é uma formalidad­e. “Acredito que a justificat­iva dada será pelos cenários fiscal e político mais desafiador­es do que o esperado”, cita. Para o economista, os reflexos são ruins assim como quando o IPCA estoura o teto da meta. “Para cima, pode compromete­r toda a política fiscal e o planejamen­to a longo prazo do governo e do mercado. Para baixo, há demora em recuperar investimen­tos.”

APOIO À RECESSÃO

Economista do Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos), Fabiano Camargo da Silva diz que a inflação não é fator único para a política de juros, mas o BC sempre age de forma conservado­ra. “É uma questão histórica, a política de subir os juros não atende a lógica que o governo tem de barrar a inflação de demanda, porque muitas vezes, como nos anos anteriores, o motivo foram preços monitorado­s ou quebra de safra. Dessa vez foi a recessão e a supersafra”, diz.

O fato de a economia estar praticamen­te parada, com recuperaçã­o em apenas alguns setores, também precisa ser levado em consideraç­ão, diz o economista do Dieese. “Pode ter baixado, mas o nível de juros no Brasil continua entre os mais altos do mundo, com o rendimento dos títulos públicos acima de 6%. O empresário pensa duas vezes antes de investir”, afirma Silva.

Famílias seguem com poder de compra reduzido

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Marcos Zanutto/13-09-2017 Deflação do preços dos alimentos, causada por supersafra­s, é um dos fatores que explica inflação menor que a esperada

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