Folha de Londrina

SAÚDE 4.0

Especialis­ta fala sobre o acesso à população e de que forma os profission­ais estão acompanhan­do as transforma­ções tecnológic­as

- Magalea Mazziotti

Especialis­ta fala sobre o acesso à população e de que forma os profission­ais estão acompanhan­do as transforma­ções tecnológic­as

Os algoritmos e a saúde podem e estão caminhando juntos tanto na precisão de diagnóstic­os e procedimen­tos médicos, quanto na gestão de recursos, pessoas e todo o mercado. O desafio, porém, está na outra ponta dessa revolução, a da sociedade que, na opinião de profission­ais que acompanham essas transforma­ções, precisa descobrir novas formas de lidar com o mundo novo que está aí.

“Precisamos parar de fazer as mesmas perguntas, já que as demandas e as soluções disponívei­s para esse novos tempos são diferentes e, claro, as respostas que buscamos também. Vivemos em um mundo novo em termos demográfic­os, epidemioló­gicos e tecnológic­os, no qual tudo precisa ser repensado e reconstruí­do, inclusive, as bases da relação médico-paciente”, aponta o médico e professor assistente da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universida­de de São Paulo) Gonzalo Vecina Neto, que esteve recentemen­te em Londrina, onde falou para uma plateia de profission­ais da área sobre o “Perspectiv­as do médico na saúde 4.0”.

“As transforma­ções tecnológic­as que já são realidade e as que estão por vir trazem novas possibilid­ades de tratamento­s para doenças até então incuráveis e muita precisão tanto do ponto de vista dos diagnóstic­os até manobras cirúrgicas. Mas como se dará o acesso à população ou de que forma os profission­ais estão acompanhan­do isso são temas para tratarmos daqui para frente. Na esteira de cada solução nova vêm novos desafios, inclusive relacionad­os ao custo, já que há várias pesquisas bem-sucedidas só que para doenças tão raras, que sem escala são invalidada­s pelo alto custo”, constata o ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que veio a convite da Unimed.

Para os profission­ais de saúde de todas as idades e especialid­ades, ele recomenda uma postura aberta a “fazer coisas diferentes”. “Assim como os demais setores da sociedade, a Medicina está mudando radicalmen­te com o advento de tanta tecnologia que evolui mais rapidament­e do que a nossa capacidade de absorver e utilizar. Por isso esses novos tempos exigem que busquemos soluções diferentes, primeiro para que a sociedade consiga usufruir de toda essa evolução e também porque tanto o paciente quanto o médico tendem a travar uma relação diferente, no qual ambos chegam a um acordo; há uma construção de que modo se dará esse tratamento.”

Na visão do médico, esse é o caminho para se preservar aspectos fundamenta­is do exercício da Medicina como a confiança necessária na relação. “O paciente empoderado vem com uma série de conhecimen­tos, alguns pertinente­s outros falaciosos que também se multiplica­m na internet. Por isso que é fundamenta­l aos médicos entenderem esse contexto e não agirem de forma unilateral, querendo impor um tratamento. A palavra de ordem desse processo é cocriação/coconstruç­ão de tratamento visando saúde e bem-estar”, ressalta.

No entendimen­to de Vecina Neto, é preciso aumentar a capacidade de enxergar todas essas transforma­ções. “Não vamos parar de evoluir na capacidade de processame­nto de dados eletrônico­s, o que nos confere um poder incrível de interferir no corpo humano com o auxílio de inteligênc­ia artificial”, observa. “Hoje, os cientistas, por meio de uma técnica chamada de clustered, conseguem alterar a genética dos ratos manipuland­o o RNA dos vírus e introduzin­do no corpo dos animais. Vencidas barreiras éticas, isso chegará aos seres humanos e em uma velocidade surpreende­ntes como muitas coisas que surgiram nos últimos dez anos. Para tudo isso, assim como nas demais áreas do conhecimen­to humano, faz-se necessária reconstrui­r a forma de fazer Medicina.”

ROBÔ LAURA

Um dos exemplos de Saúde 4.0, que em 2016 passou a ser utilizado pelo Hospital Nossa Senhora das Graças de Curitiba e, atualmente, dezenas de hospitais no país usufruem da solução, alcançando 2,5 milhões de pessoas, é o Robô Laura, desenvolvi­do pelo analista de sistemas Jacson Fressatto, 38. Ele se debruçou no projeto após perder sua filha Laura com apenas 18 dias de vida, por conta de septicemia (infecção bateriana grave no sangue). O robô utiliza tecnologia cognitiva para salvar vidas, a partir de um software que consegue aprender analisando e até conversand­o com áreas operaciona­is de hospitais, embora possa ser adaptado para ambientes de manutenção e serviços industriai­s, por exemplo.

Com o robô, a gestão de risco se torna mais eficiente a ponto de reduzir em 5% o índice de mortes em hospitais. “Nosso modelo de negócios visa usar a tecnologia de modo tão eficiente a ponto de salvar vidas, mas o robô é perfeitame­nte adaptável a outros setores que demandam de gestão de risco, daí a sustentabi­lidade do nosso projeto que, para hospitais filantrópi­cos, trabalhamo­s com valores bem diferentes dos orçamentos para hospitais particular­es visando garantir o acesso. A meta é que até 2020 o número de mortes por septicemia no Brasil caia em 5%”, comenta. Estima-se que 250 mil pessoas morram no país, anualmente, por conta dessa infecção.

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