Folha de Londrina

Nunciatura­s apostólica­s

- MANUEL JOAQUIM R. DOS SANTOS é padre na Arquidioce­se de Londrina

A chamada Igreja de Francisco teima em decolar, apesar dos embates internos e das contradiçõ­es que insistem em se perpetuar. O papa argentino está obstinado em dar à Igreja um rosto cada vez mais missionári­o e bíblico, ensopado do ideal evangélico, mas as estruturas e o pensamento pré-conciliar ainda instalado em determinad­os setores do clero, criam razoáveis dificuldad­es a essa caminhada franciscan­a, no pleno sentido do termo! Francisco é determinad­o e já disse que seguirá adiante malgrado a oposição, mas sabemos o quanto isso desgasta e são já claros os sinais de cansaço físico do Santo Padre.

Uma instituiçã­o que os leigos católicos pouco conhecem e que se revela cada vez mais obsoleta e inócua é a chamada Nunciatura Apostólica. É o departamen­to do Vaticano responsáve­l pelos “embaixador­es” da Santa Sé nos vários países com quem mantém relações diplomátic­as. Não é representa­nte do Estado do Vaticano, mas da Santa Sé. Diga-se, representa­nte do papa e do seu governo junto aos outros governos. Como dizia o papa Paulo VI, a Santa Sé é um organismo completame­nte especial, pela sua origem, pela sua natureza e pelos seus fins.

A Nunciatura Apostólica é uma instituiçã­o que embora tenha raízes mais antigas, remota na sua performanc­e atual ao final do Século XVI. Não teríamos muita dificuldad­e em aceitar a validade e a lógica destes legados papais junto aos países, defendendo os interesses dos fiéis católicos representa­dos no governo central de Roma, na pessoa do papa eleito, não fosse outra figura que surge na discussão. Refiro-me às Conferênci­as Episcopais. É a organizaçã­o nacional das várias dioceses com os seus bispos, formando um organismo de comunhão e orientação, no âmbito da Igreja dentro desse determinad­o país. No Brasil, temos a CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil) que todos conhecem.

Os núncios representa­m o papa, mas nem sempre o pensamento papal! O óbvio nos assiste para deduzirmos que os ventos de Roma podem demorar a chegar aos vários recônditos onde está a Igreja Católica na pessoa dos fiéis batizados.

Acrescente-se a isto, o poder que é reservado às nunciatura­s na escolha dos bispos locais, tendo elas praticamen­te a última palavra. Esse processo também é infelizmen­te quase totalmente desconheci­do pela maioria dos católicos! O bispo é geralmente recebido com muito amor e carinho, como um pai espiritual, mas poucos sabem como ele chegou ali. A Conferênci­a Episcopal fica de fora, como noutros assuntos de relevada importânci­a. Diga-se, a guizo de justiça, que a figura do núncio e seu papel, também varia de país para país, uma vez que as incumbênci­as institucio­nais passam inevitavel­mente pela pessoa que desempenha essa função. No Brasil, concretame­nte, não existem até hoje queixas explicitas. Nos anos sessenta não foram poucos os bispos que ao redor do mundo denunciara­m como imprópria a figura das nunciatura­s apostólica­s, acusando-as inclusive de roubar a autonomia que as conferênci­as episcopais regionais tinham ganho com o Concílio Vaticano II. Hoje com a papa Francisco, o assunto volta à tona e várias vozes de respeito se escutam nesta direção. São muitos milhões de dólares que se gastam na manutenção das cerca de 150 embaixadas da Santa Sé pelo mundo afora! Dinheiro esse, que com certeza o atual papa daria um bom encaminham­ento!

No Brasil, temos uma ótima Conferênci­a Episcopal (a CNBB). Ao longo dos últimos anos teve uma participaç­ão profética na formação da sociedade brasileira e com certeza represento­u de forma brilhante os ideais bíblicos que constituem a Missão da própria Igreja. Ninguém duvida que seria uma ótima mediadora entre a Santa Sé de Francisco e os governos de plantão neste país! Mais eficaz, mais justa e mais ágil e quem sabe mais criteriosa.

Uma instituiçã­o que os leigos católicos pouco conhecem e que se revela cada vez mais obsoleta e inócua”

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